Page 44 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1987

Fabricação e Operação
P r o g r e s s o p o r P e d o m o r f o s e
M esa d e D ebates (E D ): O tinto S an t 'Ana (repres. A .C .G ill-E tebra). Ism ael Uchôa Iao m icrofone e VP
d a E m b ratel), D. Francisco (S iteltra). A. Carreira (P R
vice-presidente da Embratel, Ismael Cleó-
O fas de Medeiros Uchóa, baseou sua pales­
tra intitulada "Telecomunicações: Um ensaio
sobre o progresso por Pedomorfose” inspirada
no artigo de Walter Garstang, MA, DSC - The
T h e o ry o f R e c a p i t u l a t i o n : A C r i t i c a i
sta te m e n t o f th e B iogenetic Law, lido em 2 de
junho de 1921 e publicado em 1922 pela re­
vista da L m n ean S ociety de Londres; e também
apoiado em diversas obras de Arthur Koestler e
de Taillard da Chardin. Segundo o palestrante,
diversas citações são livres adaptações dos tex­
tos consultados.
Foi a seguinte a palestra de Cleófas Uchóa:
O pensamento humano é um ensaio — e en­
saio no sentido teatral: preparação para a ação.
Propomo-nos aqui a fazer um ensaio. Não se tra­
ta de uma conferência, que normalmente tem
um sentido técnico. É simplesmente um ensaio
— e tão somente isto. O ensaio se baseará em
uma an alo g ia - e fazer a analogia é uma mano­
bra mental que permite muitas vezes identificar
relações conceituais em um determinado con­
texto e transferi-las para outro, enriquecendo-o.
Na analogia que pretendemos aqui, bus­
caremos evidenciar dois aspectos fundamentais
das estruturas, dos sistemas de quaisquer na­
turezas, a saber: o fenômeno da inseparabili­
dade da Ordem e da Desordem, da Ordem e do
Progresso. Aliás, este aspecto impacta a todos
nós permanentemente, através do lema da nos­
sa Bandeira. Ali está claro que o Progresso náo é
Ordem, porque se fosse seria é em vez de e. A
evidência da intençáo e a força da expressão nos
induzem, paradoxalmente, à ilusão do oposto.
Ordem e desordem, norma e rebeldia, vida e
morte, o bem e o mal, verso e, junto, insepará­
vel, o reverso — mesmos fenômenos que, por
miopia maniqueísta, parecem se opor.
Será ressaltado aqui o sagrado valor da or­
dem, das rotinas, das normas, pois que elas em­
22 e 23 setembro 86.
Uchôa:
U m e n s a i o
feros segue-se á rápida decadência dos répteis.
O que vemos da inventiva biológica são ape­
nas os remanescentes, pois tantas outras espe-
cies, famílias, ordens, classes — já desapare
ceram totalmente, e muitas sem deixar o mí­
nimo vestígio. De nervura em nervura da arvore
da vida, a Vida ascende em um conjunto de frag­
mentos divergentes porém escalonados — cias
ses, ordens, famílias, gêneros, especies. São os
filos — e a Filogenia e a história evolucionaria
das espécies. 0 filo e a individualidade de uma
especie e é assim uma realidade coletiva.
O filo começa sempre de um nó — de poten­
cialidade variada — um ponto de divergência de
uma ramagem inicial, como um broto-, eenvolve
ao separar-se das formas vizinhas com certa au­
tonomia, crescendo e desabrochando, disso-
ciando-se muitas vezes em filos secundários,
variantes ou harmônicos do filo fundamental.
Nos filos dos filos acontecem revivéncias. ocor­
re mutação, e esta entra em nova pulsação
Surge um novo filo sem necessariamente esgo­
Telebrasil). S. W am berg (Geicom ). tar ou abafar a ramagem inicial. Um desabro-
chamento por cima, se o equilíbrio ecológico o
permitir. Uma representação do que nose per­
prestam necessária e temporal coerência e esta­ mitido ver por efeitos de longe. E como se com­
bilidade à conduta e á ordem do pensamento e
porta o filo estruturalmente? Como evolui?
dos sistemas. Ela, a ordem, atende aos anseios
do verso. Ao mesmo tempo, a sagrada ordem Tem po p rim e iro — A idéia nova toma corpo Mo­
dos hábitos e das rotinas é responsável pela es­ mento de emergência. Explosão. Momento de
R e ­ tagnação, declínio e extmçáo das coisas, criação. Aparente desordem. As origens, o
quando algum desafio excede um limite crítico ponto de partida. Depois, ela, a idéia, aquece-
e aquelas rotinas, aqueles hábitos, náo sào mais se. Eclosão. Nasce o croquis do artista.
suficientes. Aí as regras do jogo devem se al­
terar, instalando-se uma natural crise em deses­ Tem po segundo — Seguem-se adaptações, rá­
perada busca de um remédio, de uma improvi­ pidas modificações, toques, retoques. Ajusta­
sação não ortodoxa, de um ato criativo, novo, mentos contínuos do esboço para a completa
para conduzir a nova síntese, a um ato de re­ afinação, para o aperfeiçoamento final. Como
paração, a uma nova fertilização. Ela. a desor­ as nebulosas, ajustamento, retoques da matéria
dem, atende aos anseios do reverso. para o próximo tempo.
Assim, em nosso ensaio, partiremos em
busca de uma analogia que possa permitir asso­ Tempo terceiro— Fase da conquista, da irradia­
ciações de naturezas cognitivas náo relaciona­ ção, expansão, multiplicação sem muita diver­
das, de maneira a tentar acrescentar um possí sidade do conteúdo básico, da matriz da idéia.
vel novo nível de percepção. Abordaremos o as­ Pluralidade por estratégias flexíveis do cânone
sunto em dois atos. básico do primeiro tempo, do sopro, da ex­
plosão.
l.° ato — 1 .* cena
domorfose — Becos Tem po quarto — Maturidade, equilíbrio, esta-
Sem Saída bi I idade. A fase monótona e bela da idéia, da ra­
ça, da espécie, do animal especializado. Quali-
Contemplando o quadro da evolução — cor­ tativamente não aparecem aperfeiçoamentos
rentes da vida no tempo — veremos incontáveis fundamentais, somente alguns pormenores se
avenidas, que se dividem, ramificam-se, for­ modificam. É tempo de hábitos, de rotinas es
mam cachos, subdividem-se, na medida em tereotipadas e ortodoxias. E tempo de servidão
que o tempo avança por mutações, reprodu­
ções, seleções etc. Tem po q u in to — Estagnação (crise). A estru­
Note-se que em muitas das ramagens ou tura, o processo, o filo. a tecnologia, a teoria -
avenidas escolhidas, ou mesmo inventadas, deu o que tinha que dar. Perda de potenciali­
chegam a um término, chegam a becos sem saí­ dade para o futuro. Crise. Desastre Momento
da — enquanto outras ramificam-se, espalham- de revisões, de coragem. De reflexões. De per­
se qualitativa e quantitativamente, por uma in­ plexidades.
ventiva persistente, pelo uso de estratégias fle­
xíveis, por irradiações adaptativas. Muitas desa­ Tem po sexto— Declínio. Amortecimento, quer
parecem, prmcipalmente em momentos de por enfraquecimento interno, quer pelas torças
grandes transformações. A floração dos mamí­ de competição externa.