Page 45 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1987
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Tempo sétim o — Agonia. Extinção, morte — o artísticos, psicológicos - apresentam caráter aceleramento ou retardamento'do apareci
nada. Fim da história. sigmficativamente pedomórfico. Vamos ver este mento de certas caracteríticas de partes do
aspecto na Biologia, no análogo procurado, corpo relativamente a outras" processo este
%
A estagnação (crise), o declínio e a extinção mesmo por que o fenômeno de pedomorfose foi denominado n eo tem a. No caso particular dos
ocorrem quando os desafios excedem um limite naquele campo identificado. Depois, esten equinodermos, houve uma aceleração do de
critico, de maneira a não poder o sistema aten deremos o conceito e o progresso por pedomor senvolvimento dos orgáos reprodutores em
der às pressões seletivas com as habilidades fose para nosso setor. relação ao resto do corpo. Assim, as larvas ad
costumeiras. O filo, assim, corresponde à des O Sr. Garstang, biólogo, estudando o com quiriram precocemente maturação sexual, e se
coberta de um novo caminho evolutivo, por ten portamento de larvas oceânicas de invertebra reproduziram ainda naquele estado larvar, de
tativas, por inventividade — para chegar a um dos sedentários (equinodermos), propôs uma nado livre.
tipo estruturalmente novo, mais viável, mais questão: "Poderia a evolução reverter o proces A transmissão para os descendentes de to
vantajoso. Depois que inventa, depois da cria so, de modo a que uma espécie retroceda da es- das as suas singulares características deu
ção da idéia, o filo engrossa, irradia-se, disso peciahzação pela mesma rota de onde pro origem a um novo tipo de animal que nunca se
cia-se em filos secundários, variantes, subdivi- cedeu?” estabeleceria no fundo do mar, eliminando as
dindo-se qualitativamente e expandindo-se Garstang entendeu que sim, ao impugnar a sim, deste novo animal, a fase de lesma seden
quantitativamente. E como o filo realmente co teoria da recapitulação de Haechel. Tal teoria tária, e saindo de seu ciclo vital normal. Surge
meça? tem como uma de suas básicas fundamenta um novo ciclo vital em que as caracteríticas do
Se pudéssemos voltar e ver o início dos tem ções que: “ a fase larvar (embrionária) de desen novo filo são aquelas da larva do ancestral e
pos, talvez desvendássemos o mistério das ori volvimento representa um estado anterior do nao as do próprio ancestral adulto. Transfor
gens, do ponto de irradiação, o momento cria adulto do tronco a que dita fase pertence". mou-se então aquele animal em algo parecido
tivo. Ilusório... Pois nada na natureza é mais Quer dizer que o embrião, a larva, tem as com o peixe e dai vieram os vertebrados, e dai
delicado, frágil e fugaz do que um começo. características de seu ancestral. O embrião é sugimos nós.
Quando uma coisa nova, verdadeiramente nova, como se recapitulasse o adulto que o precedeu. f um j)rocesso de rejuvenescimento das es
surge e começa a despontar à nossa volta, nós A evolução assim consistiria em acrescentar pécies, pela eliminação das fases adultas do ci
não a notamos, sequer percebemos. Só a vemos algo de novo às características adultas anterio clo vital anterior. Assim, em lugar de formas
quando na fase de expansão começam a produ res. Pensar em evolução em termos de formas adultas parecidas, determinando o curso do de
zir seus poderosos efeitos, por pluralidade. adultas, em termos de produtos ac abados que senvolvimento dos membros da espécie, como
Mas, na verdade, o primeiro, o primeiríssimo se sucedem, portanto é como se filogcnia re acreditavam os recapitulaciomstas, vemos que
momento, o vértice — este sempre se oculta nas capitulasse a ontogenia, que e a evolução do as novidades da larva podem dar lugar a uma
brumas do passado. Onde está o primeiro ferro ser. Ao estudar aquelas larvas oceânicas, ufir nova linha, importante na evolução. Concluiu
de engomar, a primeira lamparina, o primeiro mou Garstang que, longe de representarem ti Garstang: "Os cordados (vertebrados) proce
teldone, o primeiro avião queremos dizer o pos ancestrais, tais larvas constituíam se em dem, por pedom orfose, de formas larvares oceâ
primeiríssimo, aquele feito no ato criativo, adaptações evolutivas muito singulares, muito nicas de invertebrados sedentários."
ainda sem as modelagens, os retoques onde? conspícuas. Enquanto a pedom orfose é assim responsá
Estes — nem nos museus. Porque são lam O equinodermo, invertebrado sedentário vel por grandes etapas do processo evolutivo,
pejos... que habita o fundo do mar, produz suas larvas seu inverso, a g ero n to m o rfo se, é responsável
Por mais de dois séculos moldam-se teorias para a reprodução da espécie. Para uma ade por etapas menores, que consistem na modifi
sobre a evolução dos filos. Na primeira metade quada dispersão no oceano, as larvas deveriam cação de estruturas adultas já altamente espe
deste século surgiu uma idéia que parece vir a ter propriedades de deslocamento próprio, de cializadas A gerontomorfose não pode conduzir
explicar as grandes guinadas evolutivas dos filos mobilidade, para ocupar da forma mais conve a mudanças radicais e a novas partidas; pode le
biológicos. Explica a nova idéia de como sair do niente o h a b ita t oceânico. Adquiriu então a var somente a uma linha evolutiva já especiali
beco sem saída. Como sair da superespeciahza- larva simetria bilateral, como um peixe minús zada, um passo a mais na mesma direção — em
ção estagnante, da trágica ordem não mais ne culo, dispondo de faixa ciliar, um conjunto de geral para o beco sem saída.
cessária. Como dar origem a um novo filo para pêlos que lhe permite movimentar-se na água e Na pedom orfose trata-se de, comp dizem os
uma nova direção. alguns outros requintes de aperfeiçoamento não franceses, recu ller p o u r m ieu x s a u te r— anula
Estamos num Painel de Telecomunicações, encontrados no adulto. No ciclo vital deste ani ção para reexecução, retorno sobre os próprios
não no de Biologia. Mas lembremo-nos do prólo mal, as características larvares tornam-se inibi passos para a fuga do labirinto. Tudo indica que
go. Buscamos a analogia para vislumbrarmos das na fase adulta, pois ele não tem simetria também o adulto humano procede, por p e d o
um processo, uma atitude de fuga do beco sem bilateral nem mobilidade. m orfose, dos primatas. O adulto humano se as
saída da hipertrofia da Ordem, para enfrentar Assim, a larva estava sujeita a duas pressões semelha mais ao embrião de um macaco do que
mos a nova era que se avizinha — a era da Socie seletivas: 1.*) o mais rapidamente se desenvol a um macaco adulto. Nós somos a fuga do beco
dade do Conhecimento, da Sociedade Informa ver ate a forma adulta — para se reproduzir, sem saída dos antropóides. Somos a evolução
tizada. cumprindo assim o seu ciclo vital normal; 2 J) somente das características e potencialidades
manter-se o maior tempo possível flutuando em do feto primata. O ciclo vital do homem então se
estado larvar, com o fim de propagar a espécie estrutura na manutenção das características do
l.° ato — 2 . * c e n a
Fuga do Labirinto pelo maior âmbito possível. embrião dos símios superiores. Trata-se de uma
Verificou-se então que a seleção natural modalidade de retirada evolutiva da forma
0 adulta especializada — para formas anteriores
E fuga da servidão, da escravidão a hábitos atuava energicamente também nas fases lar
estereotipados. É a fuga da agonia e do tédio da vares — o que era uma novidade, pois imagina (embrionárias) mais primitivas, mais plásticas,
estagnação, é a fuga da especialização — é um va-se que a seleção operava somente nas fases mais flexíveis e menos comprometidas, para um
processo estruturalmente regenerativo. pos-embrionarias. Atuando nas fases jovens, súbito avanço em nova direção. R e c u lle r p o u r
Quais os processos já vislumbrados de fuga larvares, do futuro adulto, a seleção poderia — m ieux s a u te r— Anulação para reexecução.
do labirinto evolutivo? Existem diversas, varia quem sabe? — promover a modificação da espé
das teorias. Mas há um processo, uma teoria cie em uma direção totalmente distinta daquela l.° Ato — 3 . * C e n a
nova, um poderoso vislumbre de como também em que se vai adaptando a estrutura do adulto. Pedomorfose das Idéias
pode se dar a fuga. Como se dão as grandes gui Sujeita assim a forte pressão seletiva, mais in
nadas. É por Pedom orfose — o título de nosso tensa do que a exercida na fase adulta, e tendo A n u la ç ã o e R e e x e c u ç ã o — Começamos
ensaio — e tudo indica ser um processo de pro ainda que promovera própria evolução— a larva agora a estender o conceito para outros campos
gressos. como que procurou uma maneira de preservar — das idéias, das artes, da tecnologia — e para
E e neste processo de fuga para a tentativa aquelas caracteríticas larvares distintas. o nosso setor. A pedom orfose também se aplica
de escolher um novo caminho evolutivo, mais E isto é pedom orfose. Quer dizer: "A utiliza à evolução das idéias — ciências, artes. É bom
promissor — que vamos agora nos concentrar, ção de potencialidades, de características juve lembrar que "nem a evolução biológica, nem o
buscar a analogia. Porquanto tudo leva a crer nis, embrionárias, inibidas na fase adulta, para processo mental — seguem uma linha con
que as grandes guinadas, as grandes revoluções a produção de uma nova corrente evolutiva". E a tínua".
nos processos biológicos, mentais, científicos, p e d o m o rfo s e se realiza quando ocorre "um Nenhuma evolução das idéias é estrita-