Page 21 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1966
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O Diálogo entre a Emprêsa Pública
e a Emprêsa Privada
f Conferência proferida no Simpósio organizado
por Alcântara Machado Empreendimentos) ROBERTO DE OLIVEIRA CAMPOS
Imaginava ser esta uma discussão extrema mento pode ser falacipso porque a maior ga
mente informal e isso associado à promoção dos rantia da segurança nacional está certamente na
deveres executivos poupa-me tempo para uma eficácia da operação. A segurança nacional
meditação serena. Entretanto, o que perderá jamais será servioa pela ineficiência e pode,
esta exposição em liquidez e coordenação de ra ao contrário, ser garantida adequadamente me
ciocínio, certamente ganhará em espontaneidade. diante uma combinação da eficácia privada e
O que talta em autoridade será compensado pe da supervisão regulatória pelos organismos pú
lo desejo de me empenhar naquilo que hoje se blicos.
chama uma espécie de mania do diálogo.
O terceiro tema da nossa mitologia é que
O tema que me roi proposto se intitula a intervenção da emprêsa pública é necessária
O Ministério do Planejamento e a Iniciativa para investimentos pioneiros ou supletivos. O
Privada. argumento é procedente, ou antes, seria pro
cedente se cumprida a sua missão pioneira ou
Antes de abordá-lo, entretanto, preferia satisfeito o papel supletivo, não persistisse o
começar comparando aquilo que chamarei a Govêrno no intervencionismo. Mas, a nassa
mitologia da emprêsa pública para depois passar tragédia tem sido a de continuar imobilizando
à mitologia da emprêsa privada. Os principais recursos públicos em algumas áreas onde êles
elementos da mitologia que se criou em torno poderiam ser substituídos pela emprêsa priva
da emprêsa estatal e do intervencionismo eco da, liberando recursos para novas aventuras
nômico são os seguintes: primeiro, diz-se que pioneiras onde se faz imprescindível a ação es
a emprêsa estatal é necessária para regular pre tatal .
ços ou impedir monopólios privados. É claro
que ambos êsses objetivos, conter preços e im Mas. além de ter a sua mitologia, o inter
pedir monopólios privados, são desejáveis mas vencionismo estatal através de emprêsas pú
podem ser ambos atingidos pelo simples poder blicas, pode encerrar um repertório de perigos.
regulatório do Govêrno. Para exercer o seu Citarei apenas: a descontinuidade administra
poder regulador, não necessita o Govêrno ser tiva, a politização das decisões de investimen
nem proprietário nem gerente. É tempo de tos, a falta de sanção da falência e castigo da
substituirmos o conceito de controle regulatório ineficiência e a tentação do empreguismo.
aos conceitos de controle patrimonial e contro
le gerencial, muitas vêzes mais complexos e Isto dito e pôsto, permanece verdadeiro
frequentemente menos necessários. Basta, para nue é a área de intervenção onde o Estado
atingir os objetivos desejáveis que mencionei, desempenha papel oportuno e mesmo indispen
que o Govêrno exerça os seus poderosos poderes sável. Mas o objetivo todo desta discussão é
de controle fiscal, monetário e cambial para im apenas indicar que a grande maioria das ações
pedir abusos monopolísticos ou refrear preços necessárias do Estado não requerem controle
da emprêsa privada. patrimonial ou gerencial que pódem ser ade
quadamente desempenhados pelo controle re
Ao criar emprêsas públicas para moderar gulatório. É melhor regular que intervir, é
o impulso de lucros das emprêsas privadas aca melhor previnir do que corrigir, mas com a
ba, não raro, o Govêrno pelo chamado meca minha mania quase que imoral de objetividade
nismo da ombreia ou do guarda-chuva, assegu depois de ter indicado o repertório de perigos
rando à emprêsa privada conforto e ineficiên da intervenção estatal e da emprêsa estatal,
cia por que os preços necessários para preservar nassarei a afirmar que a emprêsa privada no
a operação das emprêsas públicas acabam, não BraSil também desenvolveu sua própria mito
raro, dando extrema lucratividade à emprêsa logia. Citarei alguns exemplos da mitologia pri-'
privada vada ou da mitologia privatista.
Um segundo tema da nossa mitologia é de Um dos temas dessa mitologia é que, o
que a intervenção da emnrêsa pública, se jus único meio de combater a inflação é o aumen
tifica, muito frequentemente, por considerações to de produção. Essa tese é exasperante e sim
de segurança nacional. Na prática, o argu pática. Acontece que jamais, em país algum,