Page 24 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1966
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A  parte  do  leão  do  crédito  bancário  se  diri­  Nação  com  o  grau  de  intervenção  econômica
       gia  para  financiar,  através  do  Banco  do  Brasil,   do  Govêrno  na  atividade  e  na  produção  nacio­
       02  déficits  do  Tesouro.  A  partir  de  1965,  ini­  nal.  A  participação  no  investimento  é  mu.
       ciando-se  o  processo  em  1964,  tudo  isto  mu­  maior  do  que  a  participação  na  gestão  e  no
       dou,  o  tesouro  não  pressionou  o  crédito  ban   poder  nacional.
       cário,  o  tesouro  em  grande  medida  se  auto-
       financiou.  Houve,  no  entanto,  uma  vultosa   Há  alguns  pontos  que  merecem  comentá­
       expansão  de  crédito,  seria  mesmo  uma  exage­  rios  porque  frequentemente  são  sujeitos  a  errô­
        rada  expansão  de  crédito  e  tôda  ela  dirigida  pa­  nea  interpretação.  Há  quem  fale  que  o  Govêr­
       ra  o  setor  privado  da  economia.   no  não  revelou  uma  prcpensão  suficientemente
                                              nacionalista  no  tratamento  do  empresário  pri­
           Aceitamos  uma  expansão  de  crédito  me­  vado.  Ainda  aqui  o  êrro  de  enfoque  é  consi­
       nor  devido  ao  desejo  de  alcançarmos  outros   derado.  Foi  êsse  Govêrno  que  na  lei  de  mer-
       objetivos,  como  por  exemplo:  acumulação  de  caucs  de  capitais  promoveu,  pela  primeira  vez,
        reservas  cambiais  e  a  proteção  estendida  à   estabelecimento  de  limitação  no  acesso  de  em­
       agricultura.  Mas  muitos  empresários  se  esque   presário  estrangeiro  à  rêde  bancária  privada.
       cem  que  o  auxílio  ao  setor  privado  não  se   Anteriormente  já  se  havia  limitado  o  acesso  do-
       mediu  apenas  pelo  crédito  bancário.  É  que  fo;   investidor  estrangeiro  ao  mercado  de  crédito-
       criado  tôda  uma  nova  instrumentação  de  de   oficial  para  investimento.  Mas,  não  era  êsse
       senvolvimento  através  de  fundos  especiais  co­  exatamente  o  problema  crucial.  O  problema
       mo  o  FINAME,  FINEPE,  FIDEME,  etc.,  que   mais  crucial  era  a  limitação  do  acesso  ao  mer­
       representaram  pela  primeira  vez  um  esforço  do   cado  bancário  privado  para  ca-ifal  de  giro.
       Governo  de  mobilizar  recursos  estrangeiros,  não   Isso  foi  feito  na  lei  do  mercado  de  capitais.
       para  financiamento  de  empresas  estrangeiras  ou   Par  não  estiolar  nem  estagnar  as  emprêsas  es­
       para  financiamento  do  Governo  ou  de  empresa   trangeiras  que  dão  ocupação  a  amplos  segui­
       estatal e sim  rara financiamento  do setor privado.   mentos  da  nossa  fôrça  de  trabalho,  que  pagam
       Que  ouçam  issõ  e  entendam  isso  os  pseudonacio-   impostos  e  que  nos  trazem  tecnologia  e  que
       nalista.  que  frequentemente  praticam  uma  in­  algumas  áreas  exercem  papel  criador  como  na
       dústria  nacionaleira  —  utilizando  a  nobreza  do   indústria  elétrica,  na  eletrônica,  na  petroquími­
       termo  e  o  poder  criador  da  inspiração  nacional   ca,  na  indústria  automobilística  e  na  indústria
       —  para  proteger-se  contra  a  concorrência  e  o   pesada,  a  fim  de  não  estiolá-las,  preferiu  o
       resguardo  de  sua  própria  ineficiência.  Finalmen­  Govêrno  pressioná-las  no  sentido  de  buscarem-
       te  a  contribuição  eu  uma  das  contribuições   crédito  no  exterior  através  de  um  mecanismo-
       mais  importantes  do  Governo  foi  nos  investimen­  melhor  e  mais  conveniente  ao  interêsse  nacio­
       tos  de  infra-estrutura.  Foram  aplicados estão  sen­  nal,  do  que  o  anteriormente  existente.  O  me­
       do  aplicados  e  serão  aplicados  enormes  recursos   canismo  anterior,  criado  por  govêrnos  que  se
       na  infra-estrutura  de  energia,  assim  como  na  in­  diziam  nacionalistas,  era  o  chamado  mecanb
       fra-estrutura  de  transporte  e  de  educação.  Nesse   me  - o  swaps  —  operação  de  compra  e  venda
       campo  com  menos  vigor  e  progresso  do  que   de  divisas  estrangeiras  a  uma  taxa  garantida.
       nos  dois  anteriores.                 O  Govêrno  decidiu  liquidar  gradualmente  os
                                              swaps  c  substituí-los  por  um  nôvo  sistema  em
          Muita  gente  se  diverte  comparando  alga­  que  empresários  estrangeiros  eram  pressionados
       rismos  sôbre  a  participação  do  Governo,  inves­  no  sentido  de  irem  buscar  capital  no  exterior,
       timento  global  da  Nação,  concluindo  que  esta   trazendo  para  o  País.  sem  entretanto  se  fixar
       participação  governamental  já  supera  50%  dos   prèviamente  a  taxa.  Ou  o  investidor  estrangeiro
       investimentos  totais  e  que  isso  representaria  uma   corria  o  risco  da  faxa  de  câmbio,  ou,  se  quises­
       insuportável  medida  do  intervencionismo  esta­  se  uma  compra  de  câmbio  futuro  após  algum
       tal.  É  óbvio  que  o  raciocínio  é  deficiente,  nem   temno.  tinha  aue  pagar  uma  determinada  taxa.
       todo  investimento  estatal  significa  intervencio­  de  juros  assaz  pesada  no  final.
       nismo,  nem  todo  investimento  estatal  reforça   Tem.-se  dito  oue  essa  instrução  289  favo­
       poder  estatal.  O  investimento  estafai  em  ener­  rece  o  investidor  estrangeiro  em  detrimento  do
       gia,  em  transporte,  no  abastecimento  de  água,   nacional.  Não  é  verdade  porque,  convidado  a
       que  nenhum  Govêrno  fêz  tanto  para  levar  êste   utilizar  dêsse  recurso,  investidor  estrangeiro  dei­
       conforto  mínimo  e  êste  requisito  industrial  má­  xou  de  pressionar  o  mercado  bancário  nacional,
       ximo  às  cidades  do  interior,  nenhum  dêsses   ao  qual  teria  acesso  fácil  porque  poderia  ofe­
       jnvestímentos  significa  poder  adicional  do  Go­  recer  garantias  sólidas  de  firmas  e  emprêsas  na-
       vêrno.  Pão  investimentos  tipicamente  dirigidos   'cionais  de  grande  potência  financeira.  Des­
       para  o  fortalecimento  do  setor  privado.  O  Go­  comprime  o  mercado  de  crédito  nacional  dei­
       vêrno  neles  é  apenas  um  promotor,  o  investidor   xando  recursos  mais  amplos  para  o  capital  na­
       privado  é  realmente  o  usuário  e  o  beneficiário   cional.
       do  investimento.  Não  há  falácia  mais  perigosa  c
       Simples  do  que  se  confundir  o  grau  de  parti­  Em  segundo  lugar  o  recurso  dêsse  método
       cipação  do  Govêrno  no  investimento  total  da  de  busca  de  dinheiro  externo  está  aberto  tam-
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