Page 25 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1966
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ibém  à  emprêsa  nacional.  Inúmeras  empresas   que  procuram  apenas  uma  visão  da  estratégia
         nacionais  se  tem  valido  desse  sistema.  econômica  a  seguir  nos  próximos  10  anos.  Isto
            Uma  terceira  vantagem  é  que  uma  parce   não  significa  um  planejamento  detalhado  que
         Ia  substancial  dos  empréstimos  obtidos  no  ex­  seria  ridículo  para  o  Govêrno.  Não  há  esta­
         terior  por  êste  veículo  é  feita  por  banco  e  ins   tística  nem  capacidade  de  visão  para  tanto.
         tituições  financeiras  que  depois  reemprestam   Citam-se  meios  de  estabelecer  premissas  de  com­
         •êsnes  recursos  no  mercado  nacional,  aumentado,   portamento  para  determinadas  equações  de  com-
         portanto,  a  disponibilidade  de  recursos  para  o   riamento  que  permitam  escapar  ao  imedia-
         empresário  nacional.                  tismc,  oportunismo  de  certas  decisões,  ensejan­
                                                do,  , 0_u  contrário  tomar  de.í sões  presentes
            É  fácil  ver,  portanto,  como  uma  aquisição   com  uma  contemplação  do  futuro  e  não  tomar
         simples  dessa  pode  ser  perigosa  para  aquêles   decisões  presentes  para  repetir  erros  do  passa­
         ¦que  não  analisaram  detidamente  o  problema   do.  Procura-se  então  ter  uma  grande  estratégia
         e  passa  a  interpretar  algo  que  favoreça  ao   de  desenvolvimento  que  chegará  ao  ponto  de
         empresário  nacional  como  algo  que  lhe  é  de-   projetamento  em  alguns  setores  que,  por  sua
         trimentoso,  como  se  isso  não  bastasse,  o  Govêr-   própria  natureza,  vive  um  longo  período  de
         no  Brasileiro,  o  atual  Governo  comeguiu  que   previsão:  a  indústria  de  energia  elétrica  que
         as  organizações  financeiras  internacionais  que   vive  um  horizonte  mínimo  de  15  anos,  a  in­
         normalmente  só  financiavam  o  equipamento   dústria  de  aço  -e  dos  transportes  que  vivem
         Importado,  onde  do  Exterior  passassem  a  nos   um  horizonte  mínimo  de  10  anos.  Nos  demais
         ¦dar  recursos  livres,  em  moeda  para  conversão   seCores  a  estratégia  de  longo  periodo  e  comple­
         em  cruzeiros,  para  compra  à  Indústria  Nacio­  mentado  por  uma  programação  de  investimen­
         nal  e  reforçando  o  empresário  nacional.  ¦  tos  quinzenal  e  traduzida  em  planos  operacio­
            Os  Govêrnos  anteriores  somente  obtinham   nais,  a  serem  constantemente  revistos,  por  isso
         crédito,  frequentemente,  em  más  condições  para   mesmo  que  a  essência  econômica  está  mais  no
         aquilo  que  importavam  do  Exterior;  nós  esta­  capitulo  das  artes  do  que  no  das  ciências  pre­
         mos  alcançando  crédito  da  Aliança  para  o  Pro­  cisas  ou  matemáticas.  Há  um  forte  exasperan-
         gresso,  do  Banco  Interamericano,  do  Banco   temente  difícil  de  coeficiente  humano  a  pertur­
         Alemão  de  Recursos  e  Desenvolvimento  etc.,   bar  as  previsões  e  o  planejamento;  de  que  se
         não  apenas  para  o  equipamento  trazido  do  Ex­  cogita  é  êste  executivo  no  tocante  à  obra  go­
         terior.  mas  para  o  equipamento  encomendado   vernamental.  A  responsabilidade  do  setor  go­
         no  Rrasil,  comprado  à  Indúnria  e  ao  Comér­  vernamental  é  coordenadora  no  tocante  ao  pla­
         cio  Nacional  e  fortalecendo  o  empresariado  na­  no  das  diversas  unidades  autônomas  de  gcvêrno
         cional .                               assim  como  às  das  entidades  regionais  e  uma
            A  acusação  portanto,  não  pode  ser  levada  a   das  enormes  complexidades  do  p'anejamento
         sério,  não  posso  escapar  a  impressão  de  que   brasileiro  é  não  ser  uma  organização  unitária
         mais  de  uma  vez  se  tenta  explorar  o  tema  do   e  sim  uma  organização  federativa,  em  que  Es­
                                                tados  têm  uma  ampla  medida  de  autonomia,
        nacionalismo,  não  como  um  fator  de  edifica­
        ção  nacional,  mas  como  um  fator  de  mobiliza­  de  tal  forma,  que  o  Govêrno  não  pode  senão
         ção  de  exaustão  de  energia,  como  simplesmen­  coordenar  êsses  planos  com  os  estaduais,  sem
        te  de  um  fator  de  mobilização  de  ressentimentos   que  lhe  sobre  capacidade  impositiva.  Tem  que
        c  de  proteção  à  ineficiência.      ser  um  planejamento  por  persuasão  e  não  por
                                               imposição.  Na  voz  da  área  do  setor  privado,
            Sou  a  favor  do  nacionalismo  construtivo,   na  grande  área  da  emprêsa  privada  que  ainda
         do  nacionalismo  industrial  fortalecendo  a  In­  compreende  alguns  setores  da  atividade  econô­
        dústria  Nacional.  Direi  agora  algumas  palavras   mica.  da  nação  do  plano  do  Govêrno  é  mera­
        sôbre  a  posição  específica  do  Ministério  do  Pla­  mente  indicativa.  Tudo  o  que  o  Govêrno  pode
         nejamento  neste  contexto,  o  que  significa  o   fazer  é  indioar  objetivos,  metas  de  crescimento,
        Planejamento,  em  que  trecho  tem  êle  se  alen­  problemas  de  procurar  e  acertar  estímulos  ou
         tado,  em  quê  êle  é  relevante,  útil  ou  antago­  propor  desincentivos  para  a  ação  privada.  Não
        nista  à  Emprêsa  Privada.  O  tipo  de  planeja   lhe  cabe  nem  manietar,  r.em  dar,  nem  regular
         mento  que  se  procura  implantar  no  Brasil  é  o   o  comportamento  privado.  Trata-se  de  um  pla­
         tipo  politicamente  meu,  não  é  certamente  c   nejamento  de  moldura,  de  construção,  de  clima
        planejamento  intervencionista  com  úteis  técni­  não  de  interferência  daninha.  Esta  é  a  tarefa
        cas  de  previsão,  de  fixação  de  objetivos  e  mé­  fundamental  do  Ministério  do  Planejamento  que
        todos  de  seleção  de  meios  que  podem  lervir   acredito,  não  compatível  com  o  viger  da  Em­
        tanto  para  a  ação  estatal , como  para  a  ação   prêsa  Privada,  mas  efetivamenCe,  eficazmente
        privada  mas,  em  escolhendo  êsse  instrumental   útil  para  o  desenvolvimento  da  iniciativa  pri­
        que  não  é  socializante  nem  intervencionista,  o   vada,  porque  êste  tipo  de  planejamento  não
        Govêrno  procurou  dar-lhe,  explicitamente,  in­  tem  outras  ambições  senão  da  racionalidade  à
        centivo  privatista,  tanto  assim  que  procurou   ação  governamental  e,  como  dizem  os  france­
        •escalonar  o  planejamento  em  vários  setores:   ses,  em  seu  planejamento  positivo  aceitar  os
        Há  um  planejamento  a  longo  prazo  para  os  fatos  para  escapar  à  fatalidade.
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