Page 18 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1966
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h)  —  a  via  “déficits”  financeiros  do  go-   São  operações,  tanto  no  caso  dos  tí­
              vêrno  federal,  porque  êste  goza  da   tulos  como  no  caso  dos  dólares,  que  se  jus-
              faculdade  de  emitir  papel-moeda  e   uücam  quanao  panem  aa  iniciativa  do
              quando  o  emite  nao  e  para  guardá-   Govêrno  como  medida  de  política  monetá
              lo  nem  para  depositá-lo  e  sim  para   ria ativa, para aumentar ou reduzir os meios
              injetá-lo  nas  emprêsas,  indivíduos   de  pagamento.  O  que  não  se  justifica  é
              ou  funcionários,  assim  reforçando  a   uma  atitude  passiva  deixando  que  dólares
              demanda  monetária;               ou  outras  divisas  afluam  ou  fujam  do  mer­
                                                cado  em  quantidade  superior  às  compatí­
         «)  —  a  via  do  crédito  bancário,  facilitan­  veis  com  a  política  monetária.  Nesse  caso
              do  aos  bancos  a  possibilidade  de   a  arma  clássica  de  defesa  ainda  é  a  taxa
               maiores  empréstimos  e  portanto  de   cambial  flexível,  para  baixo  ou  para  cima,
              maiores  depósitos,  que  importam  no   conforme  o  caso.  Em  casos  extremos,  de
               aumento  correspondente  de  “meios   emergência,  o  controle  cambial.
              de  pagamento”,  já  que  a  moeda  es­
              criturai  ou  “moeda  bancária”  é  tão
              valiosa  quanto  a  moeda  manual.   Pode  ainda  o  Govêrno,  além  da  políti­
                                                ca  de  crédito  bancário  influir  sôbre  o  vo­
             Quem  tiver  acompanhado  a  política   lume  de  meios  de  pagamento  à  disposição
         anti-inflacionária  do  atual  Govêrno  verá   do  setor  privado  fazendo  variar  a  carga
         que  ela  COINCIDE  EXATAMENTE  COM    fiscal  reduzindo  ou  aumentando  os  impos­
         AS  TRÊS  DIRETIVAS  CLÁSSICAS  QUE    tos,  isto  é,  deixando  ou  absorvendo  dinhei­
         ÁCABO  DE  CITAR.  No  setor  salarial  tem   ro  das  mãos  do  público  e  das  emprêsas,
         o  Govêrno  procurado  limitar  os  aumentos   medida  que  atinge  não  só  os  meios  de  pa­
         ao  necessário  para  manter  a  média  do  po­  gamento  como  os  próprios  rendimentos  do
         der  de  compra  real.  No  setor  Receita-Des-   público.  Quando  porém  o  Govêrno  arranca
         pesa  federal  tem-se  o  Govêrno  esmerado   mais  dinheiro  do  setor  privado  por  meio
         em  reduzir  quanto  possível  o  déficit  e  no   de  impostos  e  os  gasta  seja  em  obras  pú­
         setor  crédito  bancário  bem  conheceis  as   blicas  seja  em  desperdício,  isso  não  influi
         limitações  impostas                   sôbre  a  inflação;  há  apenas  transferência
                                                da  despesa  do  setor  privado  para  o  setor
             Não  há  portanto  como  criticar  a  orien­  público,  mas  não  há  criação  de  meios  de
         tação  geral  da  política  monetária  do  Go­  pagamenxo  novos
         vêrno.  Pela  simples  razão  de  que  é  a  única
         racional  e,  a  única  possível.
                                                   Se  é  portanto  inegável  que  a  orienta­
                                                ção  da  política  anti-inflacionária  está  certa
             Importa  entretanto  acrescentar  que  as
         três  vias,  que  acabo  de  citar  pelas  quais   e  não  podia  deixar  de  ser  o  que  é  porque
         se  processa  a  inflação sôbre  serem  as  prin-   não  há  outra,  sua  execução  tem  deixado
         pais,  não  são  as  únicas.           muito  a  desejar.
                                                   Primeiro,  por  uma  atitude  psicológica
             Pode  por  exemplo  a  inflação  “ser  im­  errada  de  injustificado  otimismo  em  prazo
         portada”;  uma  alta  de  preços  nos  países
         com  que  comerciamos  dá  lugar  a  uma  ele­  curto.  Já  em  fins  de  1964,  o  Govêrno  pro­
         vação  correspondente  de  nosssos  preços   metia  a  estabilização  dos  preços  para  os
                                                princípios  de  65,  quando  só  deveria  ter
         de  importação  como  de  exportação.  Para   prometido  o  que  sabia  poder  dar,  a  saber
         isso  a  defesa  apropriada  reside  como   sangue  suor  e  lágrimas.  O  não  cumprimen­
         adiante  veremos  a  flexibilidade  da  taxa
         cambial.                               to  repetido  fêz  desaparecer  a  confiança  do
                                                público  nas  promessas  governamentais.
                                                Chegou-se  mesmo  ao  ridículo,  em  plena  in­
             Pode  ainda  a  massa  monetária  ser  au­
         mentada  ou  diminuida  por  operações  cha­  flação,  de  decretar  um  “cruzeiro  forte”.
         madas  de  “open  market”  em  que  o  Govér-
         no  compra  ou  vende  seus  títulos  no  mer­  Segundo,  encarando  o  objetivo  desin-
         cado;  no  primeiro  caso  o  Govêrno  cria  no­  flacionario  não  como  o  item  principal,  pri­
         vos  meios  de  pagamento;  no  segundo  os   mordial  e  preferencial  da  política  econô-
         reduz.                                 mico-financeira,  monetária  e  fiscal  do  Go­
                                                vêrno  e  sim  como  UM  DOS  ITENS,  de  seu
             O  que  se  diz  de  títulos  aplica-se  igual­  programa,  ambicionando  ao  mesmo  tempo:
         mente  a  divisas  estrangeiras;  quando  o   1)  Promover  o  desenvolvimento  econômico
         Govêrno  compra  dólares  acresce  aos  meios   a  uma  bôa  taxa;  2)  executar obras  públicas
         de  pagamento  e  quando  os  vende,  diminui   de  vulto  inclusive  em  Brasília,  estradas  de
         esses  meios.                          ferro,  rodovias  etc.,  3)  obter  saldo  no  ba­
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