Page 19 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1966
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lanço  de  Pagamentos  com  o  Exterior  o  que   dut^s  pgrícnlp«!  o  "lie  importou  em  consi­
        é  Clàssicamente  Inflacionária;  4)  esti­  derável  contribuição  inflacionária.
       mular  as  exportações  e  reduzir  as  impor-
        laeofs  o  que  lambem  é  clàssicamente  infla­  A  adoção  das  taxas  de  câmbio  flexí­
       cionário;  5)  sustentar  efetivamente  pre­  veis  é  hoje  recomendada  pelos  melhores
       ços  mínimos para os produtos agrícolas.  economistas,  salvo  para  os  países  de  moe­
                                              da  reserva  (dólar  e  libra).
           Seria  o  caso  de  çelembrar  aos  ilustres
       ministros  da  Economia  o  provérbio  fran­  Para  os  brasileiros  maiores  de  60  anos
       cês  que  diz  “on  ne  peut  pas  contenter  tout   o”»  se  recordem  da  desordem  e  da  joga­
       le  monde  et  son  père”.             tina  cambial  que  prevalecia  em  nosso  mer­
                                              cado  de  câmbio  antes  de  Joaquim  Murti-
           Vários  dos  objetivos  visados  são  con­  nho  e  ao  tempo  da  jogatina  do  café,  cujo
       traditórios  entre  si.  Formação  de  uma  re­  embarques  e  preços  não  eram  então  regu­
       serva  apreciável  de  divisas,  objetivo  aliás   lados  a  proposição  pode  parecer  desavisa-
       perfeitamente  adiável,  é  tudo  quanto  há   da.  Mas  não  é  a  êsse  regime  que  se  propõe
       de  mais  contrário  à  desinflacão,  iá  que  é   voltar.  Ao  contrário,  o  atual  sistema  de
       preciso  emitir  os  cruzeiros  para  comprar   alteração  da  taxa  cambial  por  degraus,  in­
       os  dólares.  Be  outro  lado  reduzir  as  im­  termitentemente  ascendentes,  é  que  é  o  pa
       portações  e  pretender  incrementar  a  taxa   raíso  do  jogador.  Porque  quem  joga  na
       de  desenvolvimento  são  duas  coisas  tam­  baixa  do  cruzeiro  está  certo  de  ganhar,
       bém  incompatíveis;  como  é  incompatível   mais  cedo  ou  mais  tarde.  Ao  passo  que  no
       essa  taxa  de  desenvolvimento  com  uma   regime  da  taxa  flexível  o  especulador  tan­
       quase  paralização  das  construções  civis   to  pode  ganhar  como  perder  e  se  o  dire­
       afugentadas  por  uma  lei  de  inquilinato   tor  de  câmbio  fôr  hábil,  pode  até  o  joga­
       confiscatória  e  tão  inintelegivel  quanto  a   dor  perder  muito.
       Reforma  Agrária.
                                                  Não  se  recomenda  a  taxa  flexível  co­
           Pretender  reduzir  o  déficit  do  Tesou­  mo  regime  de  oscilações  desordenadas;
       ro  quando  se  gastam  10 bilhões  só  na  cons­  uma  pequena  reserva  de  divisas  n0  Banco
       trução  de  um  novo  palácio  Itamaraty  em   Central  é  o  bastante  não  para  intervir
       Brasília  e  mais  uma  estrada  de  ferro  de­  contra  a  tendência  geral  e  verdadeira  do
       ficitária  até  a  nova  capital  e  ainda  cons­  mercado,  mas  sim  contra  as  oscdaçnes  de
       truir  ferrovias  no  Nordeste,  são  coisas  que   caráter  acidental  ou  especulativo.  Carece
       brigam  umas  com  as  outras.         também  de  fundamento  a  alegação  de  que
                                              as  taxas  flexíveis  afetariam  a  boa  ordem
                                              do  comércio  de  importação  e  exportação;
           A  Fxação  de  preços  mínimos  para  os   basta  que  importadores  e  exportadores
       produtos  agrícolas  é  uma  medida  de  con­  comprem  ou  vendam  câmbio  futuro,  quan­
       veniência  duvidosa.  Porque  o  que  impor­  do  fecham  seus  negócios,  o  que  não  ofe­
       ta  para_ o  agricultor  é  a  sua  receita  total.
       Essa  não  depende  somente  do  preço,  mas   rece  complicação  alguma,  a  não  ser  um
       também  do tempo  meteorológico e  da  quan­  pouco  mais  de  trabalho  para  os  emprega­
                                              dos  dos  bancos.
       tidade  produzida.  Para  os  que  têm  boa  pro­
       dutividade,  mesmo  o  preço  baixo  é  remu­
       nerador;  para  os  que  produzem  pouco  e   Duas  são  as  experiências  recentes  e
       mal  não  há  preço  que  cubra  as  despesas.   plena mente  satisfatórias,  em  nosso  pró­
       Vi  ültimamente  aqui  em  São  Paulo  casos   prio  hemisfério,  de  taxas  flexíveis  de  câm­
        de  fornecedores  de  cana  cujo  preço  bai­  bio:  o  caso  do  Peru  e  o  do  Canadá.  O  Peru
       xara  de  Cr$  10.000  para  Cr$  7.000  a  to­  vem  adotando  há  30  anos  (  com  uma  só’
       nelada  e  que  entretanto  tiveram  muito  boa   interrupção  em  1948-49)  o  regime  de  ta­
       receita  graças  à  quantidade  produzida.  O   xas  flexíveis,  com  os  melhores  resultados,,
       mesmo  se  tem  verificado  nos  Estados  Uni­  não  só  sôbre  o  balanço  de  pagamentos  co­
       dos:  alta  produtividade,  mesmo  em  áreas   mo  por  sua  contribuição  para  as  altas  ta­
       reduzidas,  têm  produzido  receitas  que  dis­  xas  de  desenvolvimento  econômico  que  se
       pensam  o  subsídio.  O  crédito,  o  financia-  têm  verificado  naquele  país.  O  Canada
           ,.  -  Eventual  armazenamento  do  pro­  também  adotou  o  regime  da  taxa  flexível
       duto  acabado,  assim  como  a  assistência   durante  mais  de  10  anos  (1950-62)  com  o
       técnica  me  parecem  muito  mais  aconselhá­  melhor  resultado.  Foi  suspenso  em  1962
       veis  do  que  a  garantia  de  preços.  O  Go-   por  ocasião  de  uma  inexplicável  “manca­
       vêrno  despendeu  o  ano  passado  cêrca  de   da”  praticada  pelo  Governador  do  Banco
       250  bilhões  de  cruzeiros  na  compra  de  pro-  do  Canadá  (foi  exonerado)  que  quando
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