Page 76 - Telebrasil - Julho/Agosto 1994
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Telepar e Telesp:
Como aprender a melhorar
José Osmir Fiorelli, da Telepar, fez cia de que há uma concorrência, a difi-
um brilhante relato do processo da c u ld a d e para m o tiva r torna-
qualidade, desenvolvido na sua em se in fin ita . A im portância com que
presa, por ele definido como lições de deve ser encarado o fator concorrên
um começo. Como introdução, adver cia é uma coisa m uito distante dos
tiu para uma série de fatos que acon gerentes e demais empregados. Mes
teceram no processo de aprim ora mo aqueles que dizem saber da con
m ento da q u a lid a d e na Telepar. corrência e estar preocupados com
"Questões relacionadas a qualidade ela, na hora das decisões demonstram
têm m uito de emocional. Mas quem o contrário.
analisa um processo de qualidade, A terceira causa, "crucial", segun
não tem o direito de fazer julgamento do F io re lli, fo i a subvalorizaçào do
de outras pessoas pelas posturas que valor do complexo Relações Interpes-
elas adotaram durante o processo", soais-Valores-e-Objetivos, três coisas
afirm ou. Abaixo, um resumo da sua que em sua opinião andam de màos
conferência: dadas. Fazer um trabalho verdadeira
— O trabalho de qualidade na Tele m ente de equipe é dificílim o e não
par teve início em novembro de 1991. está em nenhum manual; só se con
Naquela ocasião, o ito gerentes de segue com a prática. E só se aprende
departamentos, com responsabilidade a prática repetindo-a. A grande lição,
sobre cerca de 40% dos empregados para Fiorelli, é que primeiro tem que
da empresa, formaram um comité de J o s ó O s m ir F io re lli, d a T e le p a r. se investir no comportamento, e so
q u a lid a d e . Fato im p o rta n te a ser mente depois na ferramenta. A ferra
observado: do comité não participava menta tem que ser dada no momento
nenhum d ire to r da empresa. A p ri em que o comportamento motivou a
meira providência foi servir a "sopa tâncias. M uita coisa a p re n d i pelo vontade de usá-la. Sem isso náo há
cultural" de letrinhas, ou seja: TQC, "m étodo do b a n h e iro ": local onde programa de qualidade.
TQS, 5S, 6M, 4M etc. Depois do bebê lado a lado, as pessoas vivem um No m om ento, a Telepar vive uma
la, há que assimilar a nova cultura e se momento do verdade. La obtive depoi fase de retomada do seu programa de
estabelecer o consequente domínio do mentos bom diferentes dos constantes qualidade total. Depois de dois anos,
jargão da qualidade. nos formulários, entrevistando duzen em maio últim o, pela primeira vez a
No espaço de seis meses o comitê tas pessoas, num universo de duas diretoria da empresa se reuniu para
criou um plano de trabalho, montado mil. Tomei ciência de que os em pre tratar do assunto.
para um período de quatro anos. Ofi gados tinham vontade do fazer a coisa
cia lm e n te , o plano foi entregue, de um jeito diferente do prescrito, mas Qualidade nos celulares da Telesp
aprovado e lançado pelo presidente sem saber qual, contanto que fosse
da empresa, em setem bro de 1992. outro. Por sua vez, Gilson Rondinelli Filho,
Para o dia do lançamento foi feita uma — Se aprende muito mais com os da Telesp, começou informando que a
festa reunindo num auditório trezen fracassos do que com os sucessos. te le fo n ia ce lu la r conta atualmente
tos gerentes e o próprio ministro das Três causas foram fundam entais na com mais de 35 milhões de usuários
Comunicações. paralisação do programa de qualidade no m u n d o in te iro . Residem nos
— O tem po passou e em pouco da Telepar. A primeira foi a aprovação Estados Unidos 50% deste total. Há
tempo o plano foi despertando entusi do plano pelo presidente da empresa dez anos, quando foi inaugurada a
asmo; o comitê cresceu para 18 mem e não por todos os d ire to re s. Um telefonia celular nos EUA, haviam ape
bros e fom os ficando cada vez mais plano de qualidade tem que ser da nas oito mil usuários. No ano passado
otim istas. Começamos a preparar o empresa e como tal deve ser conver já a tin g ia m 15 m ilhões, num cres
treinam ento dos empregados. Cria sado, d is c u tid o , e n e g o cia d o por cim ento que nunca esteve abaixo de
mos, então, a seguinte situação: ensi todos. E não basta aprovar um plano: 35% ao ano. No princípio, existiam
namos o cliente a consertar o carro, é preciso cumprí-lo. Ou todos se en apenas os aparelhos veiculares, uti
mas esquecemos de saber se ele tinha volvem, ou nada feito. São comuns as lizados principalm ente nos trajetos
vontade de fazê-lo. Em maio de 1993, frases: "com esses em pregados, o entre residências e escritórios, numa
com a decisão de avocar a si todas as plano é inviável" e "com essa direção espécie de extensão do aparelho fixo.
decisões com relação ao programa de que tem a em presa, é im p o ssíve l De 3 m il d ó la re s, o preço dos
qualidade, o comitê se desfez. E, como cumprir o plano". Ambas estão certas, a p a re lh o s caiu para uma variação
numa batalha onde algumas fileiras porque evidenciam falta de coesão. entre US$ 800 e US$ 1.000. No início,
de soldados param e outras avançam, Outra dificuldade - por ele reputa a conta média mensal girava em torno
alguns gerentes prosseguiram empol da com o m uito grave - que Fiorelli de US$ 150.00, tendo se reduzido a
gados com o processo e o u tro s o detectou com o "m étodo do banhei US$ 40.00. Entre os países com maior
abandonaram. ro", falando com aproxim adam ente densidade dem ográfica de usuários,
— Numa empresa, alguém sempre quatrocentas pessoas, foi a falta de destacam -se os nórdicos, liderados
é cliente de alguém, com as posições entendimento quanto ao fator concor pela Finlândia e seguidos de Suécia,
se invertendo, conform e as circuns- rência. Segundo ele, sem a consciên Noruega e Islândia. Em quinto lugar,