Page 75 - Telebrasil - Maio/Junho 1982

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em símbolos analógicos. Dada a relativa instabili­ Desenvolvimento Harmônico

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dade de um sistema simbólico desta natureza,

são rápidos os processos de instauração e dis­ Resta-nos, agora, apreciarmos a problemática do

& è solução deste modo de dominação. desenvolvimento harmônico.

Por fim, temos o tipo racional-burocrático que Para que um detérminado grupo social mante­

nha-se de modo continuado como centro relati­
fundamenta-se primordialmente num sistema
vamente autônomo de desenvolvimento social
simbólico convencional (linguagem natural). Se

global em meio a outros grupos, é necessário que
considerarmos o concreto como um simbólico

seja mantida uma relativa harmonia entre os ri­
empobrecido, onde a coisa é seu próprio sím­

tos de desenvolvimeno das diferentes dimen­
bolo, podemos juntar, aos sistemas simbólicos

sões do social. O desenvolvimento econômico é,
precedentes, os sistemas simbólicos "concretos''
necessariamente, por natureza, diferenciadorde
que caracterizam um outro modo de dominação,

subgrupos sociais, de unidades produtivas, de
que podemos chamar dominação pela força.

setores e de regiões; como este processo com­

porta um evidente ciclo de realimentação posi­
Em síntese, podemos tomar, como tipos puros
tiva (processo de acumulação de capital), tende
de dominação, a dominação pela força, a tradi­
necessariamente a alargar as diferenças assinala­
Coloquemos, inicialmente, a questão do desen­ cional, a carismática e a racional-burocrática, que
das. Somente mecanismos de natureza sócio-po­
volvimento social. Quais são as principais di­ terão, respectivamente, como infra-estrutura co­
lítica podem atuar no sentido de atenuar as di­
mensões do desenvolvimento social? Como se municativa, os sistemas simbólicos "concreto"
ferenças * assim manter um grau íntimo de coe­
articulam estas dimensões? Existem parâmetros metonímico, analógico e convencional.

são social.
que assinalam os principais degraus do desen­

volvimento social em suas diferentes dimen­ Considerados como tais, talvez os modos de do­

sões? Como poderemos caracterizar um possível minação não apresentem um caráter evolutivo

desenvolvimento social harmônico? evidente, porém, se focalizarmos as respectivas

infra-estruturas simbólicas, a ordenação evolu­

Tomemos, em bloco, as duas primeiras questões. tiva toma-se patente. Como já comentamos an­ A s q u e s t õ e s p o l í t i c a s ,

Nestas, podemos identificar três dimensões teriormente, pode-se observar que, do "concre­ c u l t u r a i s e e c o n ô m i c a s

principais do desenvolvimento social: o desen­ to" ao convencional existe um processo de auto­ d a s p e r i f e r i a s

volvimento sócio-político, o sócio-econômico e o nomização progressiva do mundo simbólico em

sócio-cultural. A dimensão política nos diz dos relação ao mundo concreto, caracterizado p,elo s â o a p e n a s p a r t e s

modos de preservação da unidade do grupo e da processo de passagem do reino da natureza (lei)' d a s q u e s t õ e s e c o n ô m i c a s

administração de seus conflitos internos e exter­ ao reino da cultura (regra, contrato, etc.). Por d o c e n t r o .

nos; a dimensão econômica nos diz dos modos tudo isto, é que não só elegeremos o simbólico

de produção (tecnologia e organização da produ­ como parâmetro fundamental da avaliação do ní­ a m

ção), apropriação do produto e seus respectivos vel de desenvolvimento da dimensão sócio-polí­

modos de regulação. Esta dimensão é só parcial­ tica, como das outras duas dimensões sociais, a Passando-se à perspectiva simbólica, podemos

mente autodeterminada, pois recebe influência econômica (inclusive tecnológica) e a cultura. afirmar que, para os grupos de centro (vale di­

da dimensão política. Esta' a resposta, presuminos, à terceira de nossas zer, desenvolvidos), mantêm-se, necessaria­

questões. mente, uma relativa harmonia entre os níveis de

Por fim, temos a dimensão cultural, que, de certo desenvolvimento simbólico no plano político e

modo, engloba as duas primeiras em seus aspec­ Vamos descobrir, olhando a história da humani­ econômico; linguagens de nível semelhante cir­

tos simbólicos, vale dizer, engloba a cultura só­ dade, que a criação da linguagem convencional, culam nos canais de comunicação que se consti­

cio-política e sócio-econômica, além de possuir a linguagem que nós usamos, veio permitir a for­ tuem em infra-estrutura informacional dos siste­

seus componentes próprios com maior ou menor mação das confederações tribais. Só a linguagem mas de planejamento e regulagem das ativida­

grau de autodeterminação, como ocorre, por escrita é que permitiu o surgimento das civiliza­ des políticas e econômicas.

exemplo, com os planos da arte, da religião, etc. ções antigas. Toda a documentação bíblica foi es­

crita por escribas babilónicos. Eram os escribas O que dizer dos grupos da periferia (vale dizer,

Para abordarmos o problema da parametrização que faziam a história daquela civilização, que fa­ subdesenvolvidos) situados num complexo de

do desenvolvimento social, inicialmente, vamos ziam as regras, etc. gurpos sociais? As coisas se passam de modo in­

restringir-nos à dimensão política o que irá per­ teiramente diferente: os grupos da periferia são

mitir valermo-nos de Weber e de sua tipologia da O outro passo importante foi a criação de uma captados em bloco pelo subsistema econômico

dominação. linguagem escrita convencional, começando dos grupos de centro, vale dizer, suas dimen­

com a escrita pictórica e depois a fonática. Cor­ sões políticas e cultural se fundem com a econô­

Weber identifica três tipos ordenados de domi­ respondeu ao desenvolvimento da civilização mica e, como tais, são integradas ao sistema eco­

nação política, ou seja, os modos de consecução grega. O mundo moderno começa quando o ho­ nômico do centro; suas questões políticas e cul­

da unidade social: o tradicional, o carismático e o mem faz a natureza falar, lógica e matematica­ turais, tanto quanto econômicas, são apenas par­

racional-burocrático. Correlacionado a cada tipo mente, criando a ciência moderna. Hoje estamos tes das questões econômicas do centro.

de dominação, está um tipo de sistema simbóli­ entrando na fase da linguagem de programação.

co. A dominação tradicional está assentada pri­ Todos esses progressos lingüísticos são acompa­ Situa-se neste contexto, por exemplo, a explica­

mordialmente num sistema simbólico de nature­ nhados de progressos na organização social, que ção do aparente paradoxo de membros contesta-

za metonímica (a parte simbolizando o todo, a vão corresponder à democracia grega e à demo­ dores de um grupo social da periferia, ao exila­

fase simbolizando o processo). Neste caso, a uni­ cracia liberal. Esses pares sempre andam juntos e rem-se, não raro, entre os grupos do centro e lá

dade do grupo social é mantida pelo efeito de um esses pontos, que marcam a história da humani­ não sofrerem maiores problemas. Na verdade,

complexo de reflexos condicionados. A domina­ dade, são exatamente os pontos que consegui­ eles deixam de fazer parte apenas da estrutura

ção carismática está assentada, fundamental­ ram manter uma certa compatibilidade entre o econômica do centro para também participarem

mente, num sistema simbólico de natureza progresso político e o progresso econômico, con­ de sua estrutura sócio-política e, assim, estarem

analógica. A coesão do grupo social é mantida seguiram manter uma compatibilidade das duas apenas restabelecendo a integridade de sua per-

através de um processo de comunicação baseado linguagens. sonalidade social. ?