Page 73 - Telebrasil - Maio/Junho 1982

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O I S I N \ O W \ M S N T O
D l G E K S N H 5
Luís Sérgio Coelho de Sampaio, vice-presidente
da Embratel. Engenheiro e economista, pós-gra­
duado em análises de sistemas.
O p r o g r a m a d e I r e m a m e n l o d o s
c u U u r a V d e s e u s g e r e n t e s ,
Dentro da temática Formação de Dirigentes, va­
mos propor uma palestra sobre as linhas gerais
para um programa de desenvolvim ento de
gerentes, que dá ênfase aos aspectos do desen­
volvimento cultural. É um programa que esta­
mos desenvolvendo na Embratel há algum
tempo, um programa que tem uma aparência
pelo menos pouco ortodoxa, razão pela qual vou
me ater um pouco mais às premissas que levaram
a este tipo de programa. E uma digressão que me
parece necessária num terreno aparentemente
longe das nossas preocupações — o mundo do
simbólico.
Numa segunda parte vamos tentar, tomando is­
so como referência, considerar, sequencial­
mente, o problema do gerente de um país qual­
quer, o do gerente brasileiro, o do gerente bra­
sileiro no setor de telecomunicações; e encer­
rando apresentar os objetivos desse programa e
dar uma idéia de sua estrutura básica.
0 primeiro item dessa digressão como dissemos
é uma incursão ao mundo do simbólico. A partir
do fim do século passado começou a haver uma
preocupação muito grande com os aspectos sim­
bólicos da cultura. Data do fim do século a cria­
ção da Semiologia, a proposta de uma ciência dos
símbolos em geral.
Essa preocupação veio crescendo na primeira
metade do século XX: por exemplo, a obra filosó­
fica de Cassirer gira em tomo da idéia de que a
especificidade do homem, vale dizer, a diferença
entre o homem e o animal, não está na alma mas
J.C. Fon
r e c u r s o s h u m a n o s d a t m b r a l e \ d á è n t a s e a o d e s e n v o V v i m e n t o
p r o c u r a n d o h a r m o n i z a r o s n í v e i s d e c a p a c i t a ç ã o t é c n i c a e c u V t u r a V .
sim no domínio de uma linguagem sofisticada; é a Linguística passasse a ser a ciência paradigmá­
o entendimento de que é através do simbólico tica das ciências sociais.
que o homem se diferencia do animal.
Interpretando o problema do incesto, dos mitos,
da comida, da roupa, etc, ele começou a ver que
Na segunda metade do século XX houve uma
convergência muito grande em tomo do simbóli­ uma explicação em termos linguísticos era muito
co, e chegou-se a uma conclusão: a extrema rele­ mais importante que uma do tipo funcionalista,
vância do simbólico para o homem. Muitos acon­ vale dizer, todo fato social deve ser visto como
tecimentos levaram a este tipo de preocupação: fato linguístico. A própria maneira de calçar o sa­
por exemplo, a criação de linguagens artificiais pato, vestir a calça, o paletó — é como se fosse
para a área de processamento, e a tentativa frus­ uma frase, possuindo uma gramática própria. A
trada de traduzir automaticamente uma lingua­ sucessão de pratos à mesa também pode ser vista
gem natural para outra. Nos EUA foi criado um dessa maneira, como se fosse uma frase em que
cada prato é uma palavra. Os mitos, histórias que
grupo de tradução automática do inglês para o os indivíduos contavam para explicar a sua pró­
russo e vice-versa, o que obrigou a que se pene­
trasse profundamente no problema da lin­ pria cultura, seriam basicamente formas lingüís-
guagem. ticas da expressão da estrutura social daquele
povo.
Outro exemplo vem da biologia em que se pro­ Em resumo, ficou claro que a linguística deveria
curava a essência da vida, encontrada no código ser tomada como a ciência.padrão no mundo das
genético. O problema da vida teve uma solução ciências humanas. E um dado importante que
bem caracteristicamente simbólica, pois a heredi­ mostra uma mudança muito grande em relação
tariedade é um problema de linguagem, é um ao pensamento do século passado, onde o im­
problema de codificação. Outra coisa importante portante era o aspecto energia, o aspecto campo.
foi a crítica do próprio discurso ideológico. Passar para o destaque do aspecto linguagem,
significa uma mudança profunda na visão que o
Começa toda uma preocupação com essa ques­ homem tem de si mesmo, da sociedade. Basica­
tão do simbólico, que chega ao climax quando o mente, o homem é um animal simbólico e vive
antropólogo Levy-Strauss, que trabalhou na dentro de um universo simbólico. Esta é uma
Universidade de S. Paulo, identifica o estudo do primeira conclusão.
simbólico como fundamental na questão da cien-
tificidade das ciências sociais. Até então as ciên­ Sendo o mundo simbólico tão importante, tor­
cias sociais tomavam como padrão a Física, o que na-se necessário saber se existe uma evolução
não vinha dando certo. Levy-Strauss propôs que desse mundo simbólico — um simbólico mais ^