Page 77 - Telebrasil - Maio/Junho 1982
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A conseqüência é que o desenvolvimento da
periferia ocorre apenas na dimensão econômica;
a problemática social, nestes grupos, é reduzida
à problemática do desenvolvimento econômico.
Focalizando a infra-estrutura simbólica, vemos
que ela só se moderniza na dimensão econômica:
dá-se a absorção da cultura tecnológica cada vez
mais convencionalizada bem como da cultura or
ganizacional produtiva, também cada vez mais
racionalizada e convencionalizada. Enquanto
isto, na dimensão política, a integridade pode
manter-se por pouco tempo num plano tradicio
nal, mas logo deriva para umá mediação em ter
mos de linguagem simbólica analógica (domina
ção carismática), que, já vimos, é bastante instá
vel, ou regride ao nível da linguagem da ameaça
(metqnímica) ou mesmo da linguagem concreta
(dominação pela força). Em suma, nos grupos da
periferia, o ritmo da evolução política e conse-
qüentemente cultural, se atrasa dramaticamente
em relação ao processo de evolução econômica.
Estas conseqüências podem, como tantas vezes
já o vimos, passar do simples dramático ao pro
fundamente trágico. Precisamos tomar conh?^
mento desse descompasso entre os dois tipos de
desenvolvimento, pois é um problema funda
mental dos países subdesenvolvidos. Este fato
não é tão evidente porque os grupos de elite têm
maneiras de disfarçar. Constituições e regula
mentos agem simplesmente como formas de dis
simulação, afirmando que todos são iguais na Nos países m ais desenvolvidos (centro) há um equ ilíbrio nas relações sociais; nos p eriféricos, a influência
da estrutura econôm ica d o país d e centro dom ina as relações sociais e as desiqu ilibra.
pirâmide social. Também pelo fato da sociedade
ser um pouco machista nos grupos de cima, es
sas funções analógicas são delegadas para a mu
lher e o homem faz de conta que ele é digital. E ro. Está colocado numa posição de periferia, lítico e sócio-cultural; que, na periferia, não ocor
quanto mais ele dissimula, mais escreve coisas onde o nível de evolução do desenvolvimento rerá naturalmente. O mais provável é que aí se
que não cumpre, como regulamentos e constitui técnico-econômico-científico é bastante diferente amplie, de forma drástica, o "gap" entre o desen
ções, uma forma de dissimular esse problema do nível de desenvolvimento sócio-político. volvimento econômico e político. Obviamente,
não se trata de uma fatalidade, mas o será se não
mais geral.
O gerente é o tipo de papel exemplar para perce nos conscientizarmos profundamente da serie
O Papel do Gerente é Fundamental bermos esse tipo de problema: utilizando a lin dade da situação e não nos empenharmos na
guagem convencional, vamos dando autonomia aceleração firme e conseqüente do processo de
Qual é o papel do gerente? É aquele que tem que ao simbólico e saindo do reino da natureza; por desenvolvimento sócio-político. Isto equivale a
arregimentar os fatores materiais e pessoais e ad outro lado, cada vez que usamos uma linguagem dizer que, para estes grupos sociais, o processo
ministrá-los para atingir a um determinado obje mais analógica confundimos o simbólico com o de educação científico-técnico-econômico pre
tivo tático ou estratégico de uma determinada concreto. Havendo dificuldades para resolver cisa ser acompanhado de um vigoroso processo
empresa. O papel do gerente é muito específico, um problema real vai-se para o simbólico usando de educação sócio-política e, conseqüentemente,
já que tem que compatibilizar a administração de métodos de bruxaria, como pegar um tufo de ca sócio-cultural.
coisas — a relação entre objetos, — com a admi belo de alguém — um pedaço da pessoa — e pôr
nistração de pessoas. debaixo de uma pedra. Abordar um problema
técnico apelando para bruxaria é difícil, mas um
Um Programa de Desenvolvimento de Cultura
É um papel fundamental. Na política o indivíduo problema humano já é mais fácil, porque esses
apela para o analógico e, como não tem que fabri problemas estão sendo tratados com uma lingua
O setor das telecomunicações no Brasil é sem dú
car nada nem comprar equipamento, vive no gem analógica, uma linguagem muito mais car
vida um alvo certo do avanço tecnológico que há
analógico sem muito conflito. Já o gerente é exa regada de sentimentalismo, de aspectos emocio
pouco comentamos. Somos exátamente o setor
tamente aquele cujo papel social é o de compati nais. social que, no nível técnico-cienhfico, vai dar um
bilizar os dois fatores. Dentro das culturas oci
passo além e onde, futuramente, mais poderá
dentais mais desenvolvidas o gerente é o sujeito Se agora procurarmos coordenar as conclusões
tomar-se crítica a distância entre este nível e o ní
que, com um mesmo tipo de linguagem, trabalha observaremos que os grupos sociais da periferia,
vel sócio-político. Neste sentido, a Embratel vem
com princípios teóricos e com equipamentos, e uns mais, outros menos, acham-se, presente-
realizando um trabalho de Desenvolvimento de
trabalha com pessoas. Mas na periferia não é mente, à beira de uma situação bastante séria.
Pessoal calcado em dois objetivos fundamentais:
assim.
a melhoria da qualidade das relações humanas
Será inevitável a penetração da nova tecnologia
(cultura sócio-política) e a ampliação da capaci
Não é que as pessoas não sejam sensíveis aos — a da informática, da teleinformática e da robó
dade adaptativa da empresa (cultura técni
problemas da empresa, do país, de uma classe tica. Sabemos que estas tecnologias representam
co-científica). Precisamos ter um domínio na área
social como um conjunto de pessoas — simples um verdadeiro salto qualitativo no processo
técnica que permita à empresa ser eficaz, mas de
mente isso é irrepresentável, a linguagem usada evolutivo técnico-econômico da humanidade.
vemos procurar também manter a integridade de
não tem condições de representá-las. O descom
passo profundo entre os problemas humanos- e Certamente, nos grupos do centro, ocorrerá um uma empresa que está crescendo. Essa integri
os problemas técnicos existe no gerente brasilei processo paralelo de desenvolvimento sócio-po- dade grupai é obtida, geralmente, na base da do- }