Page 65 - Telebrasil - Maio/Junho 1982

i DE DIRIGENTES
a V é m d e c o n v i v e r
Eu gostaria de registrar o agradecimento pelo
convite e salientar que é um prazer, a experiência
empresarial indica que esse tipo de troca de
idéias é via de duas mãos, beneficia a quem está
aqui pela troca de experiências e eu espero que
algum benefício exista para os senhores também.
0 tema é formação de dirigentes, e eu entendo
que o meu papel é muito mais o testemunho prá­
tico do que fazemos na Shell sobre o tema. Isto é,
o que fazemos em termos de formação de diri­
gentes. Eu vou me permitir, em alguns momen­
tos, pequenas incursões em alguns conceitos. E
isso traz um risco que, ao misturar conceitos com
experiência prática, eu talvez dê uma idéia errô­
nea de que os nossos sistemas de formação de
dirigentes estão muito melhores do que na reali­
dade estão. A mistura de conceitos leva a uma si­
tuação teórica ideal e isso pode mascarar a reali­
dade.
PRINCIPAIS ASPECTOS
Eu pretendia abordar o tema em 3 ou 4 aspectos.
Ao perguntarmo-nos o que será o desafio da for­
mação de dirigentes na década de 80, por exem­
plo, é inevitável que esse tema esteja condicio­
nado a alguns aspectos. E eu saliento primeira­
mente os aspectos sociais, sem me prender a ce­
nários tecnológicos e políticos que influenciam as
organizações. Eu acho que ainda há um enorme
hiato entre as demandas da sociedade e as res­
postas que as organizações vem dando com seus
O S IS /V M S
C A P \ Z t S
S\O O S
t S C O L H I D O S
Ivayr Thomar. de Azevedo, vice-presidente da
Shell Brasil e diretor da Shell Química S.A. e da
Mineração Rio Xingu. Éadvogado', administrador
de empresas e de recursos humanos.
O g e r e n t e d a p r ó x i m a d é c a d a p r e c i s a r á t e r i m a g i n a ç ã o ,
W d e r a n ç a e c o m p \ e m e n t a n d a d e d e s e u s \ a \ e n \ o s Ç i m a g i n a ç ã o e
s e n s o d e r e a W d a d e V , e s a b e r n e g o c i a r , c o m u n i c a r e \ n \ e g r a r ,
c o m a a m b i g u i d a d e , o c o n f l i t o e a c o m p i e x i d a d e d a s s i t u a ç õ e s .
sistemas humanos. Esse hiato será uma grande doras, as oportunidades de carreira e de remu­
condicionante de formação de dirigentes nessa neração. Mas, por outro lado, há uma tendência
década. de esforço igualitário e assistencialista no país.
Outro aspecto é o do desenvolvimento indivi­ Vê-se cada vez mais uma grande discussão sobre
dual, profissional e organizacional. Esse enfoque política salarial, tentando acelerar a redução das
também me parece de máxima importância ao se diferenças de salários que existe neste país, real­
cogitar de identificação e desenvolvimento de mente diferenciais ainda muito grandes. Eu en­
características de dirigentes nessa década. E, fi­ tendo por fatos que constatei há algum tempo,
nalmente, eu vou tomar a liberdade de, em al­ que temos hoje a diferença entre um mínimo
gum momento, entrar no relato de alguns instru­ salario líquido e um máximo salario líquido nesse
mentos, de alguns processos que usamos na for­ país, salários profissionais algo como 60 a 70 ve­
mação de dirigentes. São esses 4 pontos que eu zes. Eu entendo que a situaçáo na Europa Cen­
pretendo abordar. tral, na Europa livre, a diferença é na ordem de 5
salários. Estados Unidos é alguma coisa em torno
0 1 .° deles, como eu salientei, se nós olharmos os de 10. Quer dizer, esse tipo de tendência iguali­
cenários com ênfase no aspecto social, eu tenho a tária é que nós estamos vendo através da legisla­
impressão de que o Brasil como sói ser em muitos ção e através de práticas no campo da gerência.
dos campos é um verdadeiro mosaico, quer di­
zer, é um país contraditório em várias ênfases de Todas essas tendências obviamente com efeito
desenvolvimento e, em conseqüência, ele tem sobre as situações de organizações e sobre o sis­
uma situação ímpar e tem variáveis que, em tema humano das organizações muito particular­
geral, são mais nítidas em outros países. Por mente. Eu acho que nós não questionamos que
exemplo, se considerarmos um cenário de cresci­ gradualmente vamos ter uma tendência a um
mento econômico elevado, que ainda temos crescente movimento sindical, conflito sindical
grande condição nessa década, a despeito das di­ ou negociação sindical, quer dizer, é outra ten­
ficuldades do ano de 82 e possivelmente maiores dência inevitável e que deverá influenciar a for­
em 83, a nossa visão é de uma volta a crescimen­ mação de dirigentes nessa década. Nos últimos
tos econômicos a níveis elevados. E o Brasil certa­ 15 anós os dirigentes não lidaram com essa pro­
mente ainda responderá a variáveis tais como blemática. Uma crecente consciência da impor­
uma elevada ética e motivação para o trabalho, o tância do desempenho social das organizações,
que quase já não existe mais na situação euro­ não só o desempenho econômico, a relação de
péia. Certamente ainda serão grandes motiva­ produção e lucro, mas uma consciência social tra- ^