Page 24 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 2001

Globalização:

oportunidades e ameaças

"As
A pós a crise do México, em 1995, saber como tirar proveito desigualdades,
dela, tem um preço alto. Que
alguns propuseram revogar o proces­
so de integração econômica interna­
podemos fazer, na condição
cional. Seria o mesmo que se tentar ignorar de país que, conquanto de­ infelizmente,
a revolução industrial, os cabos submarinos tenha um peso importante tendem a memente a nossa competitivi­
ou os navios a vapor. na economia mundial, está dade internacional;
aumentar,
A globalização é um processo recorrente ainda longe dos padrões dos • protecionismos clássicos e
do capitalismo ao longo da história, tomado países desenvolvidos? Apre­ se não se reservas de mercado são coisas
avassalador nas últimas décadas pelo livre sento algumas considerações do passado. Defesa da compe­
manejar bem
fluxo internacional de informações e capi­ em seguida: titividade nacional, representa­
as realidades
tais. Não se trata de gostar ou não da • os agentes do mundo da por ações em que os países
globalização, mas sim de como conviver com globalizado não se tornaram desse mundo desenvolvidos são mestres, como
24 ela. Em um ambiente globalizado convi­ tar pelas suas exportações, novo r financiamentos competitivos
mais benevolentes do que
vem a internacionalização dos portfolios, o
antes.Todos continuam a lu­
TELEBRASIL/novembro-dezembro de se captar fundos, a volatilidade trazida pelas margens de lucro, pelo cados com competência;
por agentes governamentais,
advento da securitização como alternativa
presença forte nos foros inter­
nacionais, barreiras não-tarifárias etc. são
pelo desenvolvimento tecnológico e a de­
domínio das tecnologias que geram pro­
parte das regras do jogo e devem ser prati­
dutos de mais alto valor. Temos que de­
terminação das taxas de câmbio pelos mer­
cados financeiros.
senvolver a capacitação para defender nos­
* aceitar os riscos de mudanças e toma­
A adoção de taxas de câmbio flutuantes
sas posições nos foros apropriados.
das de decisões nos momentos corretos em
com o fim do sistema de Bretton Woods,
Precisamos de mais especialistas em co­
em 1973, concomitante com a espetacular
cos comerciais. Por que protelar indefini­
expansão dos mercados financeiros mun­ mércio internacional, propriedade indus­ temas vitais como o alinhamento com blo­
trial e que conheçam os mecanismos inter­
damente a discussão da Alca em nome de
diais nos últimos 20 anos, tornou o mundo nacionais de negociação e decisão do que uma pretensa preparação para melhor
em um paraíso de oportunidades em coe­ passeatas e xingamentos antiimperialistas. competitividade industrial, enquanto fatos
xistência com os riscos de um nível de Já que não mais podemos nos isolar e fe­ consumados se acumulam à nossa volta?; e
volatilidade até então desconhecida. Assim, char fronteiras, temos que aceitar jogar e • atualmente, as 500 maiores corporações
acabou o tempo em que se podia conside­ tentar ganhar dentro das regras do jogo; multinacionais mundiais detêm mais de
rar que uma crise do outro lado do mundo - • devemos achar nossos nichos de com­ 50% do comércio mundial e por elas fluem
por exemplo, na Ásia ou na Rússia - era petência para colocar no mercado interna­ 90% do estoque mundial de investimento
um problema dos outros, ao qual estáva­ cional os insumos de alto valor relativo. direto estrangeiro. Se precisamos de inves­
mos imunes. Temos o exemplo vitorioso da Embraer que timentos diretos para fechar nossas contas
Importante é ressaltar que a globaliza­ achou seu nicho de mercado, adquiriu com­ externas e para financiar nosso desenvol­
ção é um processo em que uns ganham e petência, joga com perícia o jogo interna­ vimento, temos que conviver com essas
outros perdem. As desigualdades, infeliz­ cional de importações, exportações, associ­ companhias como um elemento natural e
mente, tendem a aumentar, se não se ma­ ações. Ouvimos do governador de Santa inevitável do mundo globalizado e disso
nejar bem as realidades desse mundo novo. Catarina, Esperidião Amin, durante o Fu- tirar o melhor proveito.
A renda per capita dos 20% mais ricos da turecom, realizado em Florianópolis, a afir­ A internacionalização da economia é um
população mundial, que era de 30 vezes a mativa de que a cidade de Blumenau pos­ jogo concreto, presente, inexorável. Aceitá-
dos 20% mais pobres na década de 1960, sui mais de 300 empresas de software - lo, entendê-lo e jogá-lo com competência é
pulou para 60 vezes no inicio dos anos 90. superior ao número de padarias. H á mui­ a única saída.
Na América Latina, a renda per capita caiu tos outros exemplos além de aviões e soft­
de um terço da dos países desenvolvidos ware que poderiam ser citados no Brasil. L Luiz de Oliveira Machado é membro do
para um quarto nos últimos 20 anos. Dessa Uma política de desenvolvimento que fo­ Conselho de Administração da Telebrasil e
chairman da Nortel do Brasil.
forma, tentar ignorar a globalização, ou não mente tais atividades poderia acelerar enor­