Page 27 - Telebrasil - Maio/Junho 1987
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0   M I T O   F R E N T E












                                                                                                                                                    À   R E A L I D A D E
























                                                                  bdos nós, com maior ou menor percepção do fato,  vivemos imersos em mi­



                                                                   tologias. Seja Vénus ou Marilyn Monroe, Hércules ou Rambo, Napoleão ou




                                                      Getúlio Vargas,  os mitos sempre nos perseguiram.  Dizem os estudiosos que o



                                                      mito, em si, não é idéia ou conceito, mas sim uma forma ou maneira de passar



                                                      uma mensagem. E o que distingue esta mensagem? Ela se caracteriza peia am-




                                                      bigüidade (pode assumir vários significados), pelo sentido poético e pelo envol­



                                                      vimento emocional, que retira a racionalidade. Mas é sobretudo no nascedouro



                                                     que o mito se distingue por tomar para si uma significação histórica qualquer,




                                                     atendendo a uma vulnerabilidade ou necessidade do momento.



                                                              E o que realizam os mitos? Muita coisa. Não só servem como eficazes instru­



                                                      mentos para harmonizar pontos de vista conflitantes como também facultam




                                                     ao mais humilde dos mortais sonhar um pouco,  mascarando as agruras e im­



                                                     perfeições do mundo real. Na fábrica em que se produz o mito a matéria-prima




                                                     é a história. O mito eterniza de certa maneira a história. Mas o faz à sua maneira



                                                     — ambígua, poética, emocional— levando Fernando Pessoa a afirmar que “o



                                                     mito é um nada que vira tudo".




                                                             A grande energia do mito reside em fixar mensagens. O ideal da beleza muito



                                                     deverá ao mito de Vénus,  o da força bruta a Rambo,  o do poder trágico a Na­



                                                     poleão.  Por outro lado, o mito também pode ser estratégia para manter imutá­




                                                     vel a sociedade. Ele aponta para o passado e não para o futuro.  Todavia, o vigor



                                                     do mito, enquanto mito, é incontestável. Ele ajuda a sobrepujar épocas de crise



                                                     e pode unir poderosamente pessoas em torno de ideais comuns.  Sua força se




                                                     faz sentir nas horas de conflito ou decisão— invoca-se ou ataca-se o mito para



                                                    se defender as respectivas posições e até para se ganhar eleições.



                                                             Lado a lado, com o mito, caminha a realidade, com todo grande capítulo da



                                                    discussão central que este termo possa significar.




                                                             Tudo isto nos leva a considerar o que são no setor das telecomunicações seus



                                                    mitos e realidades. Será o benefício do monopólio estatal um mito ou uma rea­




                                                    lidade? Constituirá o regime privatizante visto como alternativa melhor para o



                                                    que aí está,  mito ou realidade? E quanto à interiorização e popularização das




                                                    telecomunicações? Ou sobre os usos sociais,  militares,  comerciais do satélite



                                                    doméstico? E as perspectivas do atendimento da demanda? A tecnologia na­



                                                    cional? OCPqD?




                                                            Onde estarão os mitos e onde começa a realidade? Tais foram os temas abor­



                                                    dados, sob vários enfoques, no XVI Painel Telebrasil, em Canela (RS), num mo­




                                                    mento crítico para as telecomunicações do País, onde se configura uma nova



                                                    Constituição e,  talvez,  novos rumos.  (JCF)










                                                    Coadunando-se com a diminuição do numero de paginas deste
                                                    numero e nao querendo prejudicar a extensão da matéria, a edi-

                                                    tona da REVIS TA  TELEBRASIL decidiu que a reportagem do XVI

                                                    Painel sera publicada em duas edições sucessivas
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