Page 33 - Telebrasil - Julho/Agosto 1979
P. 33
COBRA Cleófas Ismael de Medeiros Uchôa
Engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP,
Master of Science in Electrical Engineering
Resultado de diretrizes de (Telecomunications), Rádio Astronomia-MIT, ex-Chefe
do Departamento Industrial da Diretoria de Eletrônica
da Marinha, ex-Presidente da TELEBRASÍLIA, ex-
transferência de tecnologia Presidente da COBRA — Computadores e Sistemas
Diretor Técnico da DIG1BRÁS, ex-Diretor - Vice-
Brasileiros, Diretor Presidente do Centro de Estudos em
Uma visão retrospectiva Tecnologia — CET S.A., membro do Conselho de
Administração da TELEBRASIL.
Introdução
A — Indústria de Minicomputadores ” ... o de promover o desenvolvimento de tecno
Consistiria na criação de uma empresa nacional logia nacional na área digital para garantir no fu
Em 1973, o Governo brasileiro apresentou o \?
para industrializar um minicomputador. Tal em turo a manutenção c o desenvolvimento de seus
Plano Básico de Desenvolvimento Cientifico c
presa se constituiria de duas divisões, sendo uma sistemas, ao mesmo tempo cumprindo diretriz de
Tecnológico (1973/1974), aprovado pelo Decreto para a produção de minis cm geral e periféricos, desenvolvimento tecnológico autônomo, de
n? 72.527 de 25 de julho do mesmo ano. O Plano
e outra que, atuando basicamente na área de acordo com a orientação do I PND, para o pleno
enfatizava o desenvolvimento de novas indús
controle de processos, possibilitaria apoio ás ne atendimento de política econômica e de seguran
trias intensivas de tecnologia. Entre elas citava,
cessidades militares de equipamento especializa ça nacional” .
explicitamente, a indústria de computadores. do (1).
Em fins de 1968, a Marinha já desenvolvia com
No contexto do Plano surgiu um projeto prio B — Tecnologia de Computadores
ritário, do elenco pertencente ao “ Programa Es Consistiria no desenvolvimento da capacidade intensidade o “ Plano Básico Golfo” , estrutura
pecial de Tecnologia Industrial” , que seria de nacional de projeto. Destinava-se ao desenvolvi do desde 1965, para desenvolver a indústria na
senvolvido segundo o que o Governo denominou mento dc protótipo industrial de minicomputa cional de eletrônica (EE, Delta, Microlab, Inbel-
de “ Novo Modelo de Capitalismo Industrial” . dor capa/ dc ser produzido cm série c dotado dc sa, Telefunken entre outras), através da enco
menda dc diversos equipamentos, tais como ra
características técnicas que possibilitassem capa
Estabelecia o Projeto (página 61): cidade dc competição no mercado brasileiro e, dar dc busca dc superfície, radar de navegação,
ccobatimetro, transmissores, contador de fre
posteriormente, no exterior. Enfatizava o proje
“ Este projeto terá como consequência o estabe to que tal atividade era dc fundamental impor quência, sistemas de audio, para citar alguns
lecimento no país de uma indústria de minicom tância para que ” ... se absorva a tecnologia projetos, demonstrando pleno Envolvimento na
estratégia tecnológica do país. Entendia a Mari
putadores através da associação do Governo com transferida pelo projeto industrial” ... (2)
nha que era forçoso implantar, em curto prazo,
empresa nacional e fabricante estrangeiro. Isso
possibilitará a transferência imediata para o pais O Desenrolar dos Fatos um know-how industrial para fabricação de
de tecnologia industrial de ponta, constituindo- A Marinha Começa computadores no pais, ao mesmo tempo em que
se num constante fluxo de tecnologia externa que sentia a necessidade de esforço tecnológico nati
seja rapidamente assimilada e absorvida” ... As diretrizes acima referidas fixadas no PBDCT vo no desenvolvimento de um projeto de compu
tiveram sua origem em 1965, na época em que a tador nacional. A idéia, na época, era fabricar os
Nesta mesma época, autoridades do pais Diretoria de Eletrônica da Marinha, hoje Direto computadores que a Marinha viria a instalar em
pronunciavam-se sobre o objeto daquele progra ria de Comunicações e Eletrônica (DCEM), reali seus sistemas operacionais e partir para o desen
ma e sobre a política industrial a ser implantada, zava, dentro de sua competência organizacional, volvimento de um computador nacional de ca
que viria a ter marcante influência na evolução intenso programa de apoio às indústrias de ele racterísticas mais simples. Estando a Marinha
do projeto de industrialização de minicomputa trônica através do desenvolvimento de protóti envolvida integralmente no problema, decidiu o
dores. pos, fabricação de cabeças de série e encomendas Presidente da República atribuir a ela a respon
de vários tipos de equipamentos. Era ainda de sabilidade pelo desenvolvimento tecnológico na
competência daquela Diretoria a seleção dos sis área de equipamentos e sistemas digitais.
Em julho de 1973, o Ministro do Planejamento,
em conferência proferida na Escola Superior de temas eletrônicos das novas “ Fragatas” que se
Guerra, afirmava: riam construídas em atendimento ao “ Plano de Nasce o GTE
Renovação dos Meios Flutuantes” da Marinha
de Guerra. Recebia a Marinha, já em 1967, as
“O país já dispõe hoje de instrumental que se A Marinha propôs então, ao Presidente da
primeiras propostas de fornecedores para os
aperfeiçoou continuamente, destinado a dar con República, através de exposição de motivos, a
“ Sistemas de Comando e Controle” de navios,
dições à empresa privada nacional de participar criação de um Grupo de Trabalho Especial
resultado de expressiva atividade e de estudos
de forma qualitativa e quantitativamente signifi (GTE) para o cumprimento do objetivo de desen
realizados desde 1965. Era exigido pela DCEM
cativa, isoladamente ou em associação com em volvimento de um computador nacional. Em
que as propostas sempre incluíssem o estabeleci
presas estatais e empresas estrangeiras, no desen 18/02/1971, o Decreto n? 68.267 criou o GTE,
mento de atividade industrial e serviços de manu
volvimento de setores dinâmicos com tecnologia vinculado àquela corporação militar,
tenção no país. As empresas Litton e Univac
complexa, sob a forma de grandes empreendi
eram as mais cotadas na época. Em fevereiro de
mentos. Uma consequência é que a grande em “ ... com a finalidade de promover o projetamen-
1968, foi encaminhado pela Diretoria de Eletrô
presa privada nacional seja viabilizada em seto to, o desenvolvimento e construção de um
nica ao Estado Maior da Armada o documento
res prioritários, identificados, para tal fim, se protótipo de um computador eletrônico para em
denominado “ Estudo para a Implantação de
gundo critérios técnicos e econômicos, compati prego em operações navais” . (D.O. de
Computadores Eletrônicos nos Navios da Mari
bilizando conveniência e exeqüibilidade. Estão já 19/02/1971
nha” , que incorporava aspectos industriais e de
nesse grupo a Petroquímica e a produção de mi
transferência de tecnologia.
nicomputadores, certos ramos de máquinas e fer A Participação da EE e da Ferranti (3)
ramentas e certos equipamentos, ao lado do po *
A Marinha se apresentavam dois problemas que
deroso instrumento apresentado pelas Trading
requeriam compatibilidade de solução a fim de Em reunião do Estado-Maior da Armada, reali
Companies para o acesso a mercados externos” .
atender os altos interesses do país: Primeiro, um zada a 15/04/1971, decidia a Marinha optar pe
problema operacional — (tático). los equipamentos e sistemas Ferranti para insta
O projeto, como apresentado noPBDCT, estava lação dos navios “ Fragatas” a serem cons
assim constituído: ” ... os novos navios do Plano de Renovação da truídos,
Marinha teriam que ser construídos já dotados
de sistemas digitais para comando e controle, tes “ ...por ser esta firma que, no momento, apre
( 1 ) S u r g i r i a a C O B R A tados e operacionais” .Segundo, um problema in senta os melhores requisitos para atender os inte
( 2 ) S u r g i r i a o G 1 1 dustrial — (estratégico). resses da Marinha” ...