Page 24 - Telebrasil - Abril/Maio de 1964
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N ada melhor organizado como guerrilha do que a FALN da Venezuela (Fuer-
zas Armadas de liberaciôn Nacional), que age no campo e na cidade (terror). Nada
conseguiu. São 4.000 combatentes tendo como Quartel-General a Universidade de
Caracas, uma espécie de Faculdade Nacional de Filosofia do Rio em ponto maior.
A sua técnica de ação é a mesma da Arm ée Secrète, que foi tão presente na
F ran ça durante a guerra argelina e que, mais de uma vez, tentou o assassínio de
De Gaulle. Pois a FALN não conseguiu impedir as eleições de outubro próximo pas
sado e, com elas,a continuação do mecanismo democrático n a Venezuela. A FALN
é uma fôrça arm ada estudantil na sua maior fração.
Como referido, o mais bem sucedido caso de aplicação das duas táticas para
o mesmo fim é o de Cuba. O Movimento de 26 de Julho foi exclusivo de C astro du
ran te alguns anos. Permanecia, mas era incapaz de qualquer ação m ilitar impor
ta n te . De fato, C astro desembarcou em Cuba com 50 homens, em 1951, chegou a
te r 180 em abril de 1953, e, só em dezembro de 1958, 7 anos depois, quando o poder
foi tom ado não por êle m as pela Frente Única, conseguiu aliciar 800 guerrilheiros,
que foi a tropa que entrou em Havana. Enquanto a figura de Castro crescia em le
genda, como um Robin Hood da Sierra M aestra, o Partido comunista de Cuba pros
seguiu se infiltrando no Govêrno de B atista, atolado até o pescoço em. corrupção
só comparável à que há presentem ente no Brasil e de que o escândalo da Petrobrás
é pálida imagem.
Assim, a liderança estava com Castro mas o Poder se aproxim ava do P a r
tido Com unista. A união dêsses elementos quase antagônicos só foi possível pelo
auxílio do A parato Soviético, pelo esforço do Che Guevara.
Cumpre observar que o movimento da Sierra M aestra era revolucionário, mas
não comunista até 1957. Tornou-se comunista por conveniência da sobrevivência.
G uevara foi, como se disse, o traço de união e o técnico da fusão de interêsses.
A Em baixada Soviética possui olheiros para descobrir indivíduos não comu
n istas m as com qualidades de liderança sôbre a massa, que possam ser usados pelo
A parato no bom momento.
Indivíduos carismáticos como Goulart, Brizola e Arrais, regularm ente igno
ra n te s dos bastidores do comunismo, são provàvelmente estudados e cobiçados pelo
A p arato Soviético com mais interêsse do que o que possa despertar um “comunista
doente”, caso de Prestes. Hugo, Morena, e alguns outros. E’ mais importante para
a vitó ria com unista o esqwerdeiro, isto é, o sócio da esquerda comercial, como o cha
m a G uerreiro Ramos, do que o homem do Partido.
Voltemos ao c a rá te r conspiratório e reduzido do Movimento Com unista. Os
técnicos de conflitos no Brasil, especialmente graduados na profissão, não ultrapas
sam 600 em núm ero. Os mais bem preparados estudaram na Escola de Estudos La
tinos-A m ericanos de Praga, ab erta em 1950 e que m atricula 300 candidatos por ano,
entre latino-am ericanos e indivíduos da Cortina de Ferro.
N ão tem sido fácil aliciar candidatos brasileiros, mas cêrca de 300 com pleta
ra m estudos lá nos últim os 10 anos.
H avana tem lecionado tática revolucionária a cêrca de 1.300 latino-am eri
canos, dos quais m ais de 300 brasileiros.
Tôda a m assa conspiratória ativa em exercício no Brasil, de nível médio e
alto, não ultrapassa de trezentas pessoas mas já é o suficiente para criar o atual
desconforto, com o emprêgo das três técnicas descritas.
O Movimento Comunista pela agitação da massa operária, que é expendable,
isto é, usável e abusável, m era carne p ara canhão; e pela propaganda, procura a p a
re c e r m ilhares de vêzes m aior do que realmente é. O objetivo é ganhar o Poder
pela organização e no <<grito,,) como diz o carioca.
Cumpre observar que há dois grupos no Brasil pelo menos, que buscam, si
m ultâneam ente, alcançar o Poder fora da Constituição. Seguem trilhas paralelas,
ajudam -se m útuam ente m as guardam objetivos próprios: o Movimento Comunista
e o M ovimento Continuísta.