Page 15 - Telebrasil - Março/Abril 2003
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formam conjuntos autônomos, com
70 anos de economia brasileira
suas próprias agendas. O Partido dos
Megatendências Trabalhadores de 2003 passa pelo
mesmo roteiro de ilusões que o PSDB
Período Modelo Resultado
econômico atravessou em 1994 – disparou o
palestrante.
De Vargas a Figueiredo Desenvolvimento com inflação e Pais industrializado, mas com elevada
1929-1984 com fechamento comercial ao desigualdade social. Em qualquer governo há o conflito
(50 anos) mundo exterior. clássico que o presidente precisa re-
solver. É o embate entre os “gasta-
De Tancredo a Itamar Ciclo hiper-inflacionário, marcado Redemocratização do País, gerando
1984-1994 pelo sucesso do Plano Real. crise de identidade em relação ao dores” do Ministério do Planejamento
(10 anos) modelo anterior. e os “controladores” do Ministério da
Fazenda. O mesmo sucede com os
FHC Época de amadurecimento,com Pais é considerado uma economia
1994-2003 privatizações e abertura para o emergente, mas com baixo acordos políticos. O presidente preci-
(10 anos) exterior. crescimento do PIB.
sa receber parlamentares cujo ideário
Fonte: Gustavo Franco, março de 2003. não compartilha. Quanto ao Conselho
de Desenvolvimento Social, recém-
de “rescaldo” do governo anterior, distantes do almejado AAA+ das criado, é simplesmente, na opinião de
com suas seqüelas de cenários regu- economias do primeiro mundo. Franco, uma perda de tempo.
latórios, dívida pública e de reformas Prosseguindo com sua palestra,
ainda por fazer (previdenciária, Choque Gustavo Franco destacou o lado ex-
tributária, eleitoral). Gustavo Franco observou que a terno da economia, onde hoje goza-
– A fim de atrair investidores, um corrente de centro-esquerda, ao mos de um superávit comercial, mas
governo não pode se demonstrar hos- assumir o poder, recebeu verdadeiro que é atípico, com uma exportação
til ao capital privado – afirmou o ex- choque cultural. O novo Governo teve exuberante, porém com uma guerra
presidente do BC, lembrando que “a que atuar “como um bombeiro para em questão.
vontade política, apenas, não conse- apagar o incêndio das contas públicas, – Quem manda hoje na nossa eco-
gue superar o real problema da ausên- algo muito distante de sua ilusão de nomia é a conta de capital. É o risco
cia de capital”. atuar como um ativista redentor”. Brasil que manda. A suscetibilidade
Segundo o palestrante, será pre- – No Brasil, a política social (dívida/PIB) de 60% é alta. (JCF)
ciso destronar velhos mecanismos de sempre sofreu de um clientelismo
Palestra do economista Gustavo
poupança institucional, como o Fundo fisiológico, com desprezo pelo equi- Franco, ex-presidente do Banco
Central, durante o lançamento do TIM
de Garantia de Tempo de Serviço líbrio fiscal. As estatais não são do
Business, em 13 março de 2003, no
(FGTS) e o Fundo de Auxílio ao Tra- povo e sim de seus funcionários e Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro.
balhador (FAT), em favor de um mer-
cado de capitais “de verdade”.
O custo do capital para o Brasil Por que juros altos?
está elevado. O desafio é como baixá-
lo (veja box). A seguir, sob a rubrica O economista Gustavo Franco a inflação, a manutenção de juros
de “paridade internacional”, Gustavo citou algumas razões para os juros altos faz ser mais atrativo investir e
Franco explicou a estrutura dos juros altos e o câmbio desvalorizado em poupar do que gastar; 4) a taxa Selic
de empréstimos internacionais, com- nossa economia: 1) há uma política (Sistema Especial de Liquidação e
posta dos juros nos EUA (senão é pre- mundial para fixar a paridade dos Custódia) é fixada diariamente (para
ferível lá investir) somados ao risco juros nos empréstimos internacio- um dia) pelo Banco Central – frente
do País, visto do exterior, e adicionada nais e que serve para regular a en- às perspectivas da economia – para
com o risco cambial (veja ainda trada e a saída de capitais; 2) juros títulos da dívida pública e norteia o
quadro). altos são utilizados para financiar o mercado financeiro; e 5) há o spread
O risco Brasil visto do exterior, débito do Governo, atraindo toma- bancário que reflete o custo da tribu-
hoje, é o grande vilão. O País é avalia- dores de títulos públicos – a preços tação que recai sobre os bancos e o
do como B+, podendo chegar a BB-; de mercado –, que servem para rolar custo dos depósitos compulsórios
e a Argentina como B-, podendo res- a dívida do Estado; 3) na luta contra ditados pelo Banco Central. (JCF)
valar para CCC+, ambos países ainda
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