Page 38 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1997
P. 38
r
Visão dos fornecedores
Furacão que beneficiou dos mais variados setores devem investir em tecnologia, buscar
economia de escala e conquistar novos mercados mesmo em outros
consumidores países para se tornarem competitivas" diz ele.
0 diretor superintendente da Equitel observa que um dos
primeiros efeitos da globalização no Brasil foi o acentuado aumento
das importações e manifestou preocupação com o fato do segmento
C de eletroeletrônicos, segundo ciados da Abinee, ter sido responsável
omparando a globalização da economia mundial a um furacão
que surpreendeu pelo impacto de desconsiderar fronteiras
em 1996 por importar US$ 11 bilhões e exportar apenas US$
geográficas ou políticas e devastar estratégias empresarias,
3 bilhões, gerando um déficit de USS 8 bilhões, quando o déficit
global do País no mesmo ano foi de US$ 5,5 bilhões. Segundo ele, as
; Verner Dittner, diretor superintendente da Equitel, observa que empresas deste segmento precisam "cultivar a idéia da produção e
a economia globalizada apresenta dados positivos desde 1986. da exportação, ou seja, aprender a competir com os outros num
Até o ano passado, em 10 anos, o PIB mundial cresceu a uma mercado global que inclui o nosso". Defende que o governo adote
média de 6,5% ao ano, as exportações internacionais elevaram-se _________ __________ _ uma política que promova a produção
8,6% ao ano, em média, as transferências internacionais de royalties ^ existe também em países de
evoluíram a uma média de 17,7% ao ano e o , [com ércio liberal. Ela poderia incluir
fluxo internacional de investimentos cresceu dSÉBBSS111111® [ barreiras alfandegárias razoáveis e
25,5% ao ano, em média. [ decrescentes de produtos acabados a
Esses efeitos positivos não eliminam [componentes, incentivos fiscais para
impactos negativos, como demonstraram as [ quem produz hardware e software no
quedas mundiais das bolsas de valores em l Brasil, semelhante ao que já temos no
diversos países devido a problemas em processo produtivo básico, e incentivos
determinadas regiões. A globalização tem im f financeiros para quem comprar produtos
pactos em toda a cadeia da atividade econô | produzidos no Brasil, como financia-
mica, interferindo no comércio local ou inter [ mentos privilegiados para investimentos.
nacional, obriga a redefinir estratégias de [ como os do BNDES, ou depreciação
empresas ou políticas macroeconômicas, enfra acelerada destes gastos. Dittner lembra
quecendo decisões governamentais e gerando I que incentivar a produção e a exportação
déficits na balança comercial de muitos países. interessa aos empresários e ao governo,
Verner Dittner: economia globalizada cresceu
Lembrando que as telecomunicações a que precisa reduzir o déficit da balança
nível mundial foram fundamentais para a comercial e ampliar a oferta de empregos.
globalização, Dittner observa que, se afeta empre Sugere ainda que, para enfrentar a competição da globalização, se
sas e decisões de governos, o fenômeno da globalização tem compre tecnologia. No ano passado a Alemanha gastou US$ 5.5 bilhões
beneficiado em geral os consumidores finais, que passam a contar em tecnologia desenvolvida no exterior, os EUA chegaram a USS 10
com produtos muitas vezes melhores e mais baratos do que os bilhões e a Coréia US$ 15 bilhões, enquanto o Brasil não chegou a USS
oferecidos pelos fornecedores locais. 0 empresário observa que a 1 bilhão. Comenta que as novas operadoras da banda B são integradas
globalização primeiro provoca desordem na estrutura estabelecida, por empresas estrangeiras que tenderão a trazer do exterior, devido a
com vencedores e perdedores, que são definidos não mais pelos suas políticas de compra globais, equipamentos e produtos que poderiam
fornecedores ou pelo governo, e sim pelos consumidores e clientes, ser fornecidos pela indústria instalada no Brasil. Se adotadas pelo governo
que escolherão livremente os produtos e serviços a serem adquiridos. as medidas de incentivo à produção local, contudo, estas operadoras
"0 mercado globalizado exige cada vez mais produtos melhores poderão vir a adquirir no Brasil estes itens que seriam importados
e mais baratos, levando as empresas a uma constante busca por
Globalização também gera problemas
produtividade e eficiência. Para alcançar esta eficiência, as empresas
0 presidente da NEC do Brasil, Gilberto Geraldo Garbi, afirmou que deixa de comprar se perder o emprego. Observa que alguns
que nenhum país do mundo pratica a filosofia da globalização em sua países pressionam pela globalização rápida, pois são mais fortes do
forma pura e que barreiras não alfandegárias ou alíquotas não razoáveis que seus competidores, e que no Brasil a administração da questão
são encontradas em toda a parte, disfar-çadamente ou justificadas tem sido razoável mas o déficit comercial crescente dos últimos
por argumentos que procuram esconder as reais motivações dos anos parece indicar que a abertura andou rápido demais. Ele diz que
governos. Ele considera compreensível que, ainda por muitos anos, a no setor de telecomunicações, o monopólio estatal e a política indus
globalização continue a ser mais pregada do que efe-tivamente trial dos anos 70 produziram resultados positivos, como a construção
praticada na quase totalidade dos países, pois embora beneficie o de um sistema integrado, de cobertura nacional e padrões
consumidor produz também desequilíbrio na balança comercial e homogêneos, com grande valor de mercado, a implantação de im
ameaças a indústrias locais e ao nível de emprego. parque industrial abrangente, capaz de suprir o País todas as suas
Tais problemas, segundo Garbi, não são pequenos e crescem necessidades de tele-comunicações e a capacitação de uma grande
em todo o mundo e é bom lembrar que o consumidor, objetivo último quantidade de recursos humanos nas áreas operacionais, técnicas,
ac nnnTíi
da globalização, tem sempre outra face, de produtor ou empregado. gerenciais e tecnológicas. Ressalta, porém, também VO V * ~