Page 39 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1995

P e s q u i s a s a p o n t a m p a r t i c i p a ç ã o r e s t r i t a

Apesar do talento e da comprovada como horário flexível, creche e licença país, contra 33,6% em 1980. Ao

capacitação demonstrados pelas especial para que elas conciliem as mesmo tempo, ela ainda ganha 24%)

executivas do setor de telecomuni­ tarefas familiares e profissionais. menos do que o homem, de acordo com

cações, hoje apenas 3,4% das 400 dados da ONU e 40% menos de acordo

maiores empresas do pais apresentam Avanço com o IBGE. Em compensação, dados

mulheres nos postos de prim eiro Um importante estudo do BID (Banco de 1990 mostram que mais de 53% do

escalão. As pesquisas sobre o assunto Interamericano de Desenvolvimento), total de matrículas em cursos de nível

revelam ainda que o aumento da contudo, revela também que hoje 29% superior no Brasil corresponde a

participação da mulher nesses cargos da força de trabalho na região da mulheres e que seu perfil educacional

foi da ordem de 18% nos últimos cinco América Latina e do Caribe é de mu­ é mais poisitivo do que o masculino.

anos, um volume ainda baixo em lheres entre 30 e 44 anos. Nos países Os números são mais chocantes a

relação ao potencial mostrado pela pesquisados as mulheres já gerenciam nível mundial: segundo a ONU as

mulher brasileira. uma parcela significatica das mi- mulheres constituem 70% dos pobres

As mulheres apontam os precon­ croempresas, representando 30% no do mundo - ou 1,3% bilhão de pessoas

ceitos sexuais e os códigos culturais, Chile, 46% na República Dominicana, - e dois terços dos analfabetos. A valia-

seguido de conciliação da carreira e 35% na Cosa Rica e 31% na Jamaica. se em USS 11 trilhões anuais o

da família como os principais obstá­ Em âmbito geral, as informações trabalho não remunerado da mulher,

culos a ascenção de suas próprias divulgadas em Pequim na última principalmente como dona de casa.

carreiras nas empresas. Por último foi conferência mundial da ONU, revelam No Brasil somente um terço das

citada a barreira da auto-recrimi­ que as brasileiras estão cada vez mais trabalhadoras têm carteira assinada

nação, auto-estima e autoconfiança. presentes no mercado de trabalho. Na e o setor informal da economia

Somente 38, 7% dessas empresas virada do século elas estarão repre­ absorve a metade da mão-de-obra

oferecem benefícios de lo Mundo, sentadas em 40% dos empregos do feminina, segundo o IBGE.

tiva. Como nos terminava o curso C lássico e o teste transferiu-se depois para a Embratel e

ambientes pro­ psicotécnico a encaminhou para a e hoje é a diretora de serviços de

fissionais de for- engenharia. I loje ela conta ainda com o telecomunicações da Telemig.

mação técnica apoio do marido Marcos, que também é Em sua opinião, as executivas que

o predomínio ó engenheiro. hoje despontam nos altos escalões das

ainda masculi­ A caminhada de llelcni de Mello empresas nasceram, em sua maioria,

no. o primeiro Fonseca, 40 anos, três filhos, não foi tão como resultado do movimento feminista

requisito é ter fácil. Na infância, a tradicional família das décadas de 60 e 70. Na época do

mais competên­ mineira de I ambari assustou-se inicial­ Detel. ela lembra que antes de chamá-

cia até que a dos mente com sua decisão de seguir a la para uma consulta, o diretor geral

colegas homens carreira na I scola I ecnica de Eletrônica a\ isava que ia chamar "o seu homem na

porque a mulher do Inatel, em Santa Rita do Sapueaí. engenharia". "De lá para cá fomos ga­
Vânia Ferro
é mais cobrada; Depois de formada, llelcni aceitou uma nhando cada vez mais confiança e
Ger. Gemi 3COM
em seguida, e proposta em Belo Horizonte para ser respeito por nosso desempenho, o que

associado a isso, engenheira tio antigo Conselho Estadual representa uma conquista, sem arrogân­

é preciso ter ousadia para lidar com eles; de Telecomunicações (antigo Detel), cia e irreverência", conclui ela. T f

e por fim determinação e vontade firme

para além do trabalho ter capacidade para

criar sua própria família.

Elizabete Couto, chefe da divisão de

sistemas satélite da Hmbratel não D e o l h o n a s m u d a n ç a s d o s e t o r

acredita mais na discriminação entre

homens e mulheres no trabalho e As mulheres que atuam nos altos ticipação da iniciativa privada.

também lista o que considera os mais escalões das empresas de telecomuni­ Nancv Aprá também apóia a abertura

importantes requisitivos para se tomar cações estão acompanhando atenta­ do setor como uma forma de tirar o

uma executiva com bom desempenho: mente as mudanças que estão ocor­ país do atraso em que se encontra.

competência, sorte, oportunidade, nível rendo no setor e consideram que o Vânia Ferro acha o momento mui­

técnico, know-how gerencial e ha­ pais tem hoje uma grande oportu­ to rico, onde todos devem ser ouvidos

bilidade tanto em poder de síntese nidade nas mão para crescer. Angela e os modelos implantados lá fora

como para lidar com recursos humanos. Peçanha acredita na seriedade da devem ser atentamente analisados

atual política definida para o setor e para que não se repitam aqui os erros

Influência da família acha que como um grande mercado cometidos. Da mesma forma, llelcni

A engenheira de 43 anos, mãe de três potencial o Brasil pode atrair bons considera a situação atual como um

filhos, teve a sorte de contar com o apoio in vestimentas internacionais. desafio, onde deve haver muito

primeiramente do próprio pai, em casa, Elisa bete Couto concorda com a cuidado para se garantir o sucesso

que incentivava os filhos a consertar todo importância do momento e espera do modelo. Rose \ feire espera que até

o tipo de equipamento usado pela família. acredita que as telecomunicações o final do ano o governo defina as

Isto deu a Elisahete uma facilidade para possa voltar ao auge, com aumento primeiras regras para permitir ás

decidir por uma profissão técnica quando de investimentos e uma maior par­ empresas como atuar no mercado.