Page 27 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1993
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Q u a l i d a d e d e s o f t w a r e é
a t i t u d e c u l t u r a l
nização, das forças e deficiências de seu ma
m dos grandes desafios da informáti tem organizações, no entanto, que entregam terial humano e dos ideais perseguidos pela
U ca tem sido o desenvolvimento de pro a terceiros toda sua parte de informática ou entidade. Uma empresa pode ser vista como
gramação de qualidade. A propósito,
se contentam em contratar externamente a
uma gigantesca célula contendo núcleos de
a Sucesu-RJ promoveu, no auditório
da ECT, no Rio, o 2o Simpósio de feitura de apenas alguns programas. Um dos operação, administração e informação — em
perigos da terceirização, alertou Dany Fer
Software e de Ferramentas Case (Computer nandes, é o da metodologia de desenvolvi si microempresas — que interagem entre si
aided system engineering) coordenada por mento — algo em constante evolução — e com insumos e usuários externos. A estru
Edna Chagas Cristo e com a presença de que precisa ficar bem definida, ao ser fir tura da célula empresarial tem que ser aber
Celso Almeida Parisi, presidente da entida mado o contrato de terceirização.Claúdio ta para a fluência da informação e para o
de. O grupo de interesse da Sucesu-RJ de D’lpollito, da Interação, comparou o de controle dos tempos em que as coisas acon
engenharia de software, que organizou o en senvolvimento de software de qualidade co tecem.
contro, incluiu especialistas da área de in mo “construir a escada certa para galgar o “O brasileiro ou é um submisso ou é um
formática de empresas como a Embratel, muro certo” , definindo a engenharia de soft autoritário” , o que dificulta o surgimento
Banerj, Furnas, Tasa, IBGE, Senai, White ware como uma disciplina para desenvolver de líderes autênticos que são os que mobili
Martins. programas de computador de forma siste zam equipes e as ajudam a se automotiva-
O desenvolvimento de programas está li mática. “Temos que pensar no desenvolvi rem. “Para a qualidade só valem as coisas
gado ao assunto da qualidade que assume mento de software como um produto cultu úteis e ela é o objetivo final” , observou Flá-
renovado interesse frente às exigências do ral e não físico” — disse Ippolito citando vio Silva. Ainda sobre o tema da qualidade,
comércio internacional. Passou a ser impor
tante a obediência às Normas ISO 9000 da
Organização Mundial de Padrões, explicou
Walter Ludwig, da firma de consultoria MCG.
No conjunto, a norma ISO 9000 trata da
qualidade do projeto, das instalações de pro
dução e da assistência técnica, bem como da
inspeção da qualidade e até da organização
da empresa. Mesa de
trabalho
Terceirização durante
o evento
da Sucesu-RJ.
Walter Ludwig também abordou cm sua
palestra o problema da terceirização. Segun
do disse o consultor, é importante para uma
empresa definir seu núcleo central de com
petência podendo, a partir daí, delegar a
terceiros — daí o nome terceirização — as
atividades complementares sobre as quais, “O brasileiro ou é acrescentou o palestrante Walter Ludwig que
no entanto, deve manter controle de quali um submisso esta envolve uma mudança cultural que de
dade. ou é um autoritário ve tocar nas crenças das pessoas que atuam
Wagner Rangel, da Metodologia e De numa empresa.
senvolvimento de Sistemas-MDS, ao falar O conceito de qualidade provém dos anos
de terceirização para o desenvolvimento de que ao desenvolver sistemas “o que é 70 a 82, na Unesco — o consumo excessivo
software recomendou que para cada 100 pes familiar pode muitas vezes surgir como amea geraria a miséria e a cultura é a forma de ser
soas contratadas a empresa mantenha um çador, como a simples previsão de mudan dos povos — que redundou na retirada do
núcleo de 25 de seus próprios funcionários ças. Muitas vezes não adianta pavimentar apoio dos EUA a esta organização. Poste
para validar o serviço do pessoal de fora. um caminho de carro de boi se a solução é riormente, a idéia foi retomada no Japão
O conferencista Xavier da Silveira, do repensar uma nova estrada.” culminando com o Prêmio à Qualidade que,
City Bank, lembrou que a competividade Roberto Flávio de Carvalho e Silva, pro depois, foi adotado pelos norte-americanos,
das empresas, hoje, depende do relaciona fessor de planejamento da Fundação Getú- surpresos com o bom desempenho dos paí
mento da empresas com seus fornecedores4 lio Vargas - FGV e autor do livro “Mobili ses asiáticos no mundo dos negócios. “ Mas
c não somente de seus recursos internos. Ele zação para a qualidade” , observou que o há que tomar cuidado para a busca da qua
destacou a informática como atividade cada conceito de qualidade ainda vai dar muito lidade não gerar o caos e lembrar que, sen
vez mais essencial para os bancos. Xavier que falar e que é um fenômeno a ser resol do um produto cultural, ela é que torna o
da Silveira defendeu a idéia que o desenvol vido localmente para cada País. O pales povo feliz. A tecnologia neste contexto é
vimento de sistemas — a inteligência do pro trante percutiu a tecla de que só há qualida um instrumento e não o final de tudo” ,
cesso — deve ser ficar sob controle dos re de com uma “postura pessoal” frente à sua lembrou professor da FGV.
cursos internos da empresa. obtenção. A empresa brasileira tem muito Bernardo Melquior da Silva, mestre da
Já na opinião de Dany Elisa Fernandes, tecnicismo e autoritarismo em sua gestão e Coppe/UFRJ, numa internação do conceito
da International Tccnologia-IT, não é reco lhe falta o clima participativo que é o que de qualidade, tratou da postura de amor
mendável fazer “outsourcing” (terceirização) motiva as pessoas. como elemento essencial para alcançar o ob
tratando-se de sistemas ligados à atividade Na base da qualidade está o conhecimen jetivo último da qualidade de vida.
fim ou que sejam essenciais à empresa. Exis to dos pontos negativos e positivos da orga (/.CF.)