Page 22 - Telebrasil - Março/Abril 1991
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A H i s t ó r i a d a R e s e r v a
logia. Foi criado o Conselho Nacional de
A partir daí, a CAPRE passou a con
A s atividades nacionais no campo da trolar também a concessão de incentivos Informática e Automação (CONIN), subor
informática começaram a se deline
ar na década de 60, por iniciativa da co à fabricação de computadores, privilegian dinado à Presidência da República. Sua
munidade científica e universitária. Defen do as indústrias nacionais. Entre 74 e 78, tarefa era a de ditar diretrizes para a polí
dida inicialmente pelos cientistas, a im a IBM foi impedida de fabricar seus Siste tica de informática através da elaboração
portância estratégica da capacitação do mas 132, 133 e /34, no Brasil, por falta de de planos trienais: os PLANINs — Plano
País na fabricação de computadores ga licença para importar componentes. Nes Nacional de Informática e Automação. A
nhou respaldo das Forças Armadas, con te período (1976), a CAPRE aprovou mais lei regulamentou a formação de joint-ven
cretizando-se no início dos anos 70 no Pro três projetos de empresas nacionais para tures, limitando em 30% a participação
jeto Guaranys, formulado pela Marinha, produção de minis no Brasil, além do da de capital estrangeiro em empresas de in
com apoio do Banco Nacional de Desen Cobra: foram os projetos da Edisa, Labo formática, proibindo as joint-ventures tec
volvimento Econômico (BNDE). Destè e Sharp e desclassificou da concorrência nológicas.
projeto nasceu, em 1984, a Cobra Compu as empresas estrangeiras IBM, Burroughs, As interpretações que a SEI fez da lei
tadores. Olivetti e HP, entre outras. Estava instau na administração da política de informáti
Como fruto dos esforços nacionais pa rada, na prática, a reserva de mercado. ca provocaram divergências internas e ex
ra desenvolver uma política de informáti Em 1979, a intervenção estatal no se ternas. Parlamentares brasileiros — espe
ca, o Ministério do Planejamento criou, tor de informática se solidificou com a cialmente o senador Roberto Campos —
em 1972, a Comissão de Coordenação das substituição da CAPRE pela Secretaria desencadearam ataques sem tréguas à re
Atividades de Processamento Eletrônico Especial de Informática (SEI), subordina serva de mercado, baseados quase sempre
(CAPRE). O choque do petróleo, em 1974, da ao Conselho de Segurança Nacional. no argumento da perigosa defasagem tec
veio acrescentar um novo ingrediente na Nesta fase, a SEI promulgou dezenas de nológica a que o País estaria sujeito ao fe
formação da política para o setor, ao pro atos normativos que ampliaram a abran^ char suas fronteiras à tecnologia estran
vocar a adoção do modelo de substituição gència da reserva de mercado e ditaram geira.
de importações nos setores intermediá normas para importações e licenciamen A digitalização crescente dos produtos
rios, de bens de capital e de alta tecnolo to de tecnologia. Restringiu a atuação das industrializados colocou políticas indus
gia. Nessa época, o item “computadores" multinacionais à produção de mainframes. triais de setores como o de telecomunica
era o terceiro na lista de importações de E passou a controlar a venda de softwa ções, por exemplo, em rota de colizâo com
manufaturados, subtraindo ao País US$ re estrangeiro no País. Daí em diante, a a política de informática. Ao definir os
98,8 milhões. política brasileira de informática passou bens de informática, a Lei acabou por in
cluir entre eles as centrais digitais de co
mutação telefônica (CPAs), dando à SEI
o direito prévio de autorizar a importação
EV O LU ÇÃ O TEC N O LÓ G IC A destes equipamentos com base no exame
de similaridade. O Minicom já não era so
Ano Evento berano nas suas decisões, caso elas impli
1976 Início da produção de minicomputadores pola COBRA cassem importação de equipamentos digi
1978 Instalação de novas indústrias de minicomputadores tais.
1979 Instalação de indústria de periféricos Em setembro de 1985, os Estados Uni
1980 Fabricação de microcomputadoros dos acusaram o Brasil de prática desleal
1981 Produção do modelo Apple de comércio, invocando a Seção 301 da
1982 Produção do modelo PC sua Lei de Comércio. No serne da ques
1984 Inicio da automação bancária tão, a reserva de mercado brasileira para
1985 Inicio da automação comercial e industrial; Microeletrônlca a área de informática, as restrições da for
1986 Produção do modelo AT mação de joint-ventures e a pirataria de
1987 Ultrapassada a marca de 1 milhão de equipamentos vendidos pela indústria nacional software. Os americanos pretendiam evi
1988 Produção dos modelos 386 tar a expansão da reserva para novas áre
1989 A SEI autoriza acordo de transferência de tecnologia entre a Elebra e a Digital para as. Reivindicavam mudanças da política
a produção pela primeira vez no Brasil do Mlcrovax em uma direção mais liberal, e a proteção
1990 Acordo IBM-ltautec para fabricação no País do AS-400 do softw are mediante Copyright.
1991 Acordo IBM-SID para fabricação no Pais dos PS-2 O processo de negociação foi difícil.
Os americanos ameaçaram o Brasil de re
taliações comerciais. O Congresso brasi
leiro chegou a pensar em autorizar a con
Em 1977, a CAPRE teve os seus pode a ser formalmente definida como de inte tra-retaliação, caso necessário. Antes das
res ampliados pela resolução 104 do Con- resse estratégico. eleições presidenciais de 1986, dos EUA,
cex que estabelecia a necessidade da auto o governo Ronald Reagan adiou as retalia
rização prévia do órgão para a importa Lei de Informática ções, deixando as ameaças no ar. Em
ção de computadores, suas partes ou pe 1989, Carla Hills reabriu o contencioso.
ças. Cabia agora à CAPRE, além do con Ao estender a política de informática Neste meio tempo, o governo brasileiro
trole da produção local e das compras para outros segmentos econômicos, con fez algumas concessões, especialmente
do governo, a restrinção das importações. trariando diversos interesses, a SEI levou no tocante à adoção de um regime jurídi
Pouco tempo depois, o Presidente Geisel o governo a articular a sua legalização. co para proteção do software, com a cria
baixou resolução regulamentando as ativi Assim, em outubro de 1984, o Congresso ção da Lei de Software (7.646).
dades de fabricação de computadores no aprovou a Lei de Informática (7.232), que Em 1990, o governo Collor assumiu
País, e o Conselho de Desenvolvimento confirmava todos os regulamentos existen anunciando o fim da era de substituição
Econômico limitou a concessão de incen tes e renovava de forma explícita o objeti de importações. A SEI passou a se cha
tivos a projetos de empresas estrangeiras, vo de capacitação nacional na área. mar Departamento de Informática da Se
destinando o setor de microcomputadores Com a Lei, a SEI passou a ser subor cretaria Especial de Ciência e Tecnologia
para a indústria nacional. dinada ao Ministério de Ciência e Tecno- (Depin), perdendo muito do seu poder.