Page 18 - Telebrasil - Março/Abril 1991
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dívida externa. Até os anos 70, o Pa ficamente brasileiras. mentais nas Universidades”, consta
ís se aproximou dos países desenvol Alertou Julian Saleck que está co tou o sociólogo da UFRJ.
vidos. A partir daí, mudou a ordem meçando a ocorrer êxodo de pessoal
monetária internacional com o térmi de pesquisa para o exterior e que T ransferência
no da paridade ouro (em 71), o cho muitas das pesquisas aqui feitas estão A interface Universidade-setor pro
que do petróleo (73), a reciclagem de atreladas a interesses muito mais ex dutivo corre por conta de entidades
petrodólares e o aumento da taxa de ternos, do que voltadas para as neces como o Escritório de Transferência
juros (79), que conduziram ao endivi sidades propriamente brasileiras. de Tecnologia (ETT) da Unicamp e
damento do 3o Mundo, Brasil incluí Por sua vez, o sociólogo Michel a Coppetec da UFRJ. Antonio Celso
do. Na década de 80 (perdida), o País Thiollent, do Depto. de Política de Guimarães, 53, diretor executivo do
se voltou para a exportação e arro C&T da UFRJ, acha que ainda não ETT, afirmou que não se pode desvin
chou o mercado interno com redução atingimos massa crítica de pesquisado cular o conhecimento básico universi
de gastos em pesquisa e tecnologia, res e que estes, além de agirem isola tário de seu aproveitamento pelo se
em setores de ponta, apesar de decre damente, estão muito ‘‘atrelados ao tor produtivo. Cabe à Universidade
tar reservas de mercado, como a de reconhecimento externo”. Por outro gerar conhecimento novo e formar
informática”, resumiu o economista. lado, o País tende a eleger tecnolo gente com ênfase em uma ou outra
Ao lembrar o modelo coreano bot- gias do primeiro mundo e que nem destas áreas (a Unicamp tem 45% de
tom-up (o contrário do que foi adota sempre se adaptam ao nosso perfil só- seus 15 mil alunos fazendo pós-gra
do no Brasil), André Tosi disse que cio-econômico. Ele se disse surpreso duação e conta com orçamento de cer
lá o Governo investiu, primeiro, em com a pouca formação laboratorial ca de 300 milhões de dólares).
saúde e educação, promovendo refor do pesquisador brasileiro, que pode Ele criticou a falta de vontade polí
ma agrária e subsidiando a cesta bási levar até 12 anos (na Europa são cin tica do Estado, os modismos e o ge
ca e só depois partiu para a tecnolo co) para obter um doutorado. ‘‘Há re renciamento da ciência e tecnologia
gia. A curto prazo, ele recomendou lativamente poucos projetos experi- por pessoal não habilitado, como cau
aglutinar empresas nacionais para for sas de desagregação de grupos de pes
marem grandes conglomerados, tipo quisadores, que levaram anos para
Cbaebols coreanos, incentivando tais montar, mas observou que apesar de
grupos a investir em tecnologia (aqui termos de 20 a 40 vezes menos pes
a iniciativa privada responde por ape quisadores do que nos países desen
nas 10% deste tipo de investimento, volvidos, sua presença, aqui, garante
que no total representa cerca de 0,5% um conhecimento mínimo (em áreas
do PIB), além de promover a padroni como química e mecânica fina, micro-
zação de sistemas tecnológicos, se o eletrônica, biotecnologia) “para poder
Brasil quiser competir “lá fora”. mos negociar melhor”. Para ele, a
Ele alertou que “o esquema de joint abertura para o exterior já trouxe
ventures atrasa a competitividade da mais de 300 empresas ao ETT em
empresa brasileira no mercado mun busca de soluções e advertiu que as
dial, e que o sucateamento progressi patentes internacionais servem, não
vo das entidades onde se desenvolve só para gerar royalties a seus detento
tecnologia, obrigará a importar cada res, mas também para inibir os com
vez mais know-how externo. Final
Jacqucs Marcovitch, professer tituJar e diretor petidores.
mente, na visão do pesquisador da do Instituto de Estudos Avançados, da USP Por sua vez, Maurício Guedes Pe
Unicamp, pela ordem internacional, reira, 37, coordenador adjunto da Cop-
estabelecida pelos países mais avança petec/UFRJ, disse que a instituição
dos, está reservado a países como o (Coppe) há mais de 25 anos atua na
Brasil a exportação de produtos side
fronteira entre as ciências básicas e
rúrgicos, o suco de laranja, o leite de a engenharia. ‘‘Queremos acompa
soja, mas jamais tecnologia de ponta, nhar e gerar a inovação para evi
que é muito mais rentável. ta r sermos simples montadores de
Já Julian Saleck, pesquisador e dire caixas-pretas, vindas de fora”, obser
tor da área de desenvolvimento do vou o técnico dizendo que já há uma
Núcleo de Computação Eletrônica, centena e meia de projetos desenvol
da UFRJ, referiu-se ao complexo ele vidos na Coppe/Coppetec, citando a
trônico, observando que temos capaci computação paralela, automação de
tação tecnológica em algumas áreas André Furtado Tosi, economista do Depto. veículos subm arinos, engenharia
(arquitetura de computadores, proces de Política Cientlficae Tecnológica, da Unicamp. off-shore de águas profundas (200 m).
samento paralelo, redes, base de da novos aços, catalisadores e outras áre
dos, robótica, processamento da ima as de vanguarda.
gem, automação), mas estamos defasa Ele opinou que o atual modeb nos
dos na produção de chips, principal- leva à dependência do exterior pela
mente em tecnologia C-MOS. Para falta de investimentos do setor produ
ele, o processo produtivo do País es tivo em tecnologia, mas eximiu ai. es
tá um verdadeiro caos e ainda atordo tatais (Petrobrás, Eletrobrás, Telet rás.
ado pelas sucessivas mudanças econô Petroquisa), que mantém centros de
micas. Quanto à abertura para o exte pesquisa tecnológica próprios. “O fos
rior, ela irá afetar o pouco que já acu so com o exterior cresce e o quadro
mulamos nas indústrias de hardware < I a longo prazo em ciência e tecnologia
e software básicos, mas sobreviverão não se mostra promissor, apesar do
Antonio Celso Guimarães, diretor executivo
pequenos nichos — tais como progra otimismo do discurso oficial”, concluiu
do Escritório de Transferência de Tecnologia
mas aplicativos para situações especi (ETT), da Unicamp. Maurício Pereira.