Page 27 - Telebrasil - Julho/Agosto 1991
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causar saturação do tráfego. Sobre tarifas, das — que poderão prestar serviços públi
elas não estão baixas, mas sim distorcidas, cos de TCs: definição técnica dos entronca
visto que não levam em conta o custo do mentos empresa privada x empresa pública:
autofinanciamento, observou Estrella con repartição e compensação de tarifas; estu
cluindo que “o modelo atual tem que ser dos técnicos de padrões do sistema e ou
mudado e a própria Telebrás tem qualifica tros. Pradal acrescentou que "esta sugestão
ções para contribuir na discussão do papel para a criação de uma Agência Governamen
que lhe caberá desempenhar” . tal é cópia do modelo britânico de privatiza
ção” .
Pradal Declarando não ser partidário da venda
das empresas públicas de TCs à iniciativa
0 coronel do Exército e engenheiro Hum privada, o palestrante também sugeriu a par
berto Chagas Pradal, subcomandante do Ins ticipação do capital privado (40%) na compo
tituto Militar de Engenharia (IME), fez em sição acionária das empresas estatais, bem
sua palestra, uma análise atual das teleco como dos empregados, definindo ainda as
municações e sugeriu algumas soluções que áreas de atuação da empresa privada. Para
se adaptam ao novo modelo dos anos 90. ele, os preços dos terminais estão acima
Ele enfatizou que "é preciso que a comuni do poder de compra do mercado e com o
dade de telecomunicações faça algo para Hum berto Pradal, do IME. desgaste atual das empresas públicas pou
remodelar o sistema, de modo que em cur cos têm interesse de adquirir novos termi
to prazo, possamos oferecer à sociedade sa sociedade” . Mais adiante, o palestrante nais pelo processo de autofinanciamento. "So
brasileira um modelo moderno que seja real afirmou que "precisamos definir o que se luções outras como "planta doada” também
mente instrumento para o nosso desenvolvi deseja em termos de desregulamentação e não resolvem o problema e é até prejudicial
mento”. qual a dimensão ideal do monopólio” . a empresa pública receber equipamentos e
Pradal disse, a seguir, que”o Sistema Na 0 militar sugeriu ainda: "para que o es rede de terceiros para operar” , acrescentou.
cional de Telecomunicações, nos dias atuais, forço de modernização do atual sistema te — Enfim — disse Humberto Pradal —,
não é ágil, nem moderno e nem transparen nha sucesso que se crie um órgão governa as soluções existentes não irão resolver o
te. 0 modelo existente nasceu, atingiu sua mental que tenha o poder de decidir sobre: problema da modernização do Sistema Na
maturidade, colocando-nos entre os melho dimensão do monopólio natural; áreas de cional de Telecomunicações. Só grandes in
res do mundo e, nos últimos dez anos, tem serviços em que não haja monopólio e on vestimentos poderão alavancar as empresas
mostrado que não está mais conseguindo de o capital privado possa fazer investimen do STB para colocá-las em níveis mundiais
atender às necessidades crescentes de nos- tos; definição e escolha de empresas priva compatíveis.
Kestelman:
Exito e fracasso de um sistema
A palestra de Hélio Kestelman, membro centando ser difícil distinguir, com precisão, presa privada é um braço do Estado e este
do Corpo Permanente da Escola Superior "os fatores que têm origem em suas carac é um instrumento daquele” .
de Guerra (ESG) e ex-diretor técnico e admi terísticas intrínsecas daqueles que são pro Quanto ao monopólio, Kestelman lem
nistrativo da Telerj, teve como objetivo a dis venientes de circunstâncias históricas ou brou que é a concentração do poder de mer
cussão do modelo "setor público x setor pri das instituições não diretamente a ele rela cado em um único produtor, num único agen
vado”. A partir de uma valiação global, ele cionados, mas que exerce influência sobre te, que exerce o controle direto sobre os
deteve-se no setor de telecomunicações, en o seu funcionamento” . Citando Galbraith, preços, gerando ou não a escassez da ofer
focando os problemas da privatização e da em um de seus trabalhos, Kestelman disse ta. "O Estado pode procurar diminuí-lo, con
desregulamentação e seus efeitos nos no que "no sistema industrial moderno, a em- senti-lo, regulamentar preços ou rendas do
vos modelos institucionais. monopólio através de impostos e/ou taxas",
0 palestrante discorreu sobre a econo enfatizou o orador.
mia centralizada e descentralizada, citando Ele falou também sobre a experiência
autores como Alan E. Thomson: o desenvol de alguns países no setor de telecomunica
vimento teórico das instituições; as princi ções, tais como Japão, Estados Unidos, In
pais funções do Estado; sistema e regime glaterra, França e Alemanha.
econômico. Kestelman também abordou a Sobre a experiência brasileira, disse Kel-
presença do Estado nas funções regulado tesman: "Enquanto os países desenvolvidos
ras que assegurem a liberdade de iniciativa, são bases econômicas modernas, com ape
alegando que o tripé Empresa/Mercado/Con- nas algumas ilhas terceiro-mundistas, o Bra
sumidor representa o elenco das institui sil é um país em desenvolvimento com ilhas
ções econômicas. de economia moderna, ao lado de uma so
Mais adiante, falando sobre "Capitalis ciedade de subsistência, o que cria um fos
mo” , o palestrante fez uma comparação en Hélio Kestelman deteve-se nos problemas da priva so interno que cresce com o passar do tem
tre o êxito e o fracasso de um sistema, acres- tização e desregulamentação. po" (JP).