Page 23 - Telebrasil - Julho/Agosto 1991
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Machado:
Evolução do modelo brasileiro
A evolução do modelo brasileiro, depois cussão de ser ou não elitista, será uma indis na melhor das hipóteses, com o diferencial
do pacote de desregulamentação, assinado cutível ferramenta de aumento de produtivi do custo real do dinheiro em relação à Taxa
em 08/11/90, pelo Governo Collor, fez par dade para empresários, executivos e profis de Referência (TR), que é o fator que vem
te dos esclarecimentos emitidos pelo presi sionais liberais, especialmente nos grandes sendo fixado como indexador ou encargo
dente da Telebrasil por ocasião de seu relato. centros urbanos", explicou. após o Plano Collor II".
Na parte referente às TCs brasileiras, Referindo-se à inadimplência financeira Mais adiante disse o executivo: "Verifica
Luiz Machado lembrou que os primeiros ins de algumas concessionárias do Sistema Tele- mos, em nosso relato de evolução de mode
trumentos de desregulamentação ou re-regu- brás, Machado alertou que "é inevitável a los de outros países, como os detalhes do
lamentação (o que muitas vezes ocorre na erosão na saúde das empresas privadas que processo de desregulamentação diferem
prática) estão sendo deslanchados. E conti trabalham com margens normais, visto que de um país para outro. É que cada país pro
nuou: muitos componentes dos custos e despesas cura uma alternativa que contemple suas
— No Brasil, entretanto, a boa lógica des não foram congelados, como é o caso das necessidades de novas tecnologias, novos
te processo pode acabar sendo prejudicada tarifas públicas e mesmo dos salários, sujei serviços e custos mais baixos, mas que con
pela situação crítica que vem sendo vivida, tos aos reajustes decorrentes dos acordos sidere também suas tradições, sua jurispru
e progressivamente agravada, pelo nosso sindicais. Receber em dia as contas venci dência, hábitos e práticas, enfim sua cultu
setor. 0 fato é que, no decorrer dessa cri das passa a ser mandatório neste cenário, ra peculiar. Não há, pois, uma corrida desen
se, podemos ser empurrados para soluções para não agravar a deterioração. Se isso não freada à privatização como se isto pudesse
que sejam determinadas pelo esgotamento ocorre, a empresa credora passa a arcar, ser a cura para todos os males existentes". (JP)
do modelo atual, não pelas suas deficiências
intrínsecas, mas pela sua operacionalização
problemática, levando ao caminho de mudan
ça para procurar uma saída forçada. Desregulamentação
Em seguida, Luiz de Oliveira Machado ca Luiz de Oliveira Machado, presidente da Te- legal do Bundespost, que foi cindido em três
racterizou alguns elementos principais da lebrasil, fez um breve relato sobre a desregula- entidades jurídicas distintas, sendo uma delas
crise: "Apesar da enorme demanda não aten mentaçào nos países mais industrializados: responsáveis pelas TCs (DBT). Embora o Bun
dida, e malgrado o enorme benefício do au- Estados Unidos Até 1982 o modelo ameri despost continue como uma entidade estatal,
tofinanciamento, que viabiliza por antecipa cano se mostrava simples e eficaz. Após lon a função regulatória será de responsabilidade
ção os investimentos necessários, fixamo- ga batalha judicial, a AT&T foi desmembrada do PTT, que não terá funções operacionais.
nos inexplicavelmente nas modestas metas em sete companhias regionais independentes, Holanda: Os serviços de correios e TCs são
de implantação de 300 mil terminais por originadas das regulamentações antimonopolis- agora de responsabilidade de uma holding de
ano, claramente insuficientes para recupera tas. A AT&T ficou com 68% do tráfego urba direito privado, denominada PTT Nederland
ção da demanda e manutenção das ativida no. O tráfego internacional também é opera NV, cujo capital é detido pelo Estado. A área
des do parque de fornecedores. Alega-se do pela AT&T, com a concorrência de revende de TCs fica sob a responsabilidade da subsidiá
que o setor não tem saúde financeira para
dores de serviços e exploradores de satélites. ria PTT Telecom BV.
vôos maiores. Ora, isso não é aceitável num Os serviços de valor agregado são oferecidos Espanha: Segundo a Constituição, as TCs
segmento em que há demanda, capacidade em concorrência plena. são um setor estratégico do Estado, que, por
industrial, tecnologia e recursos humanos Japão: Até 1984 o mercado era servido pe tanto, detém competência exclusiva neste cam
disponíveis e que, além de tudo, conta com la NTT, empresa pública, para a rede nacional, po. Existem um Conselho Nacional, órgão con
a alavancagem proporcionada pelo instituto e pela KDD, privada, para a rede internacional. sultivo para debater problemas importantes, e
do autofinanciamento. O saneamento das Em 1985, a situação se modificou, radicalmen uma Secretaria Geral, que é o órgão regulador.
empresas operadoras não deve ser alcança te, com a lei que aboliu o monopólio das duas Itália: As TCs na Itália encontram-se em es
do pela via do imobilismo, que acarreta na operadoras, abrindo o mercado à concorrên tágio inferior às de outros países de mesmo
negação do seu objetivo, que é a prestação cia. Ao mesmo tempo, a NTT foi transformada porte. A exploração dos serviços é feita por
do serviço. Ao contrário, o equilíbrio deve em sociedade de economia mista. três empresas públicas de direito privado, filiais
ser procurado, à semelhança de qualquer Grã-Bretanha: O processo foi iniciado em da holding financeira estatal denominada STET
empresa privada, pela redução de gastos, 1981. Em 82 o consórcio privado Mercury foi e mais duas entidades do PTT.
aumento de produtividade, alongamento do autorizado a operar uma rede independente, França: De todos os países analisados, a
perfil da dívida, enfim, por outras providên em concorrência direta com a da British Tele França continua sendo o mais conservador e
cias normais nesses casos, mas nunca pela com (já privatizada). O "Telecommunication o que tem apresentado menos novidades em
não prestação dos serviços na medida defi Act” de 1984 criou o OFTEL (Office of Telecom termos de desregulamentação. A única evolu
nida pela demanda existente". munication), autoridade reguladora independen ção prevista é a criação de uma Direção de Re
0 palestrante disse, ainda, que não proce te da British Telecom. A despeito de sua ousa gulamentação Geral do Ministério de Correios
de a alegação de que o serviço de telefonia dia, a desregulamentação britânica não trou e Telecomunicações, que se ocupará dos as
móvel celular é elitista e supérfluo. “ A verda xe, em cinco anos, os resultados esperados. pectos de regulamentação, permanecendo a
de é que não estamos conseguindo superar Alemanha: Também na Alemanha as teleco exploração dos serviços a cargo da France Tele
a malha burocrática e de interesses que en municações (TCs) passam por fortes transfor com.
volve este tema, e estamos atrasando a im- mações. Recentemente foi extinto o monopólio
plantaçao de um serviço que, acima da dis