Page 10 - Telebrasil - Julho/Agosto 1990
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Conjuntura:
C o m o o B a n c o M u n d i a l v e n o s s a e c o n o m i a
João Carlos Fonseca
ACRJ - 31 de maio / 01 de junho
Rio de Janeiro-RJ
r .n i i c. Bresser Pereira (ex-Min. Fazenda), Stanley Fischer (R Mundial), da (See
4ac. Planej.), Jório Dauster (Embaixador p/ Dívida Externa), M am o Fortes (I K Banerj). J .M u d
a (Anfavea).
muitos países as indústrias protegidas se tomaram
A crise na América Latina é a crise do Estado
A expressão Banco Mundial abrange o uma força organizada querendo perpertuar o sta
que se desgovernou. Novas reformas na política
Banco Intemac ional di * Rt 'const rução t * econômica da Região deveriam ser acompanha tus quo. O modelo de substituição de importações
Desenvolvimento BI RI), sua afiliada da» por um fluxo de capital externo e ixda remo chegou a seu limite e é a ocasião de integrar os paí-
Associação Internacional de Desenvol ção, por parte dos países desenvolvidos, de Ixirrei- si*s tia América Latina ao sistema internacional de
ras que são impostas aos produtos provenientes da comércio”, aconselhou o técnico do Banco Mun
vimento-A l D, a Corporação Financeira dial, observando que:
América Latina. A atual crise só não explodiu an
Internacional-lbC e a Agencia Multila - te» devido ao alto volume de empréstimos inter "A industrialização da América Latina foi fei
teral de Garantia de Investimentos- nacionais (|M*tnxlólans) que foram canalizados, na ta às custas principalmente de empréstimos ex
AMG1. O Banco atua desde 1919 no década de 70, para a região. Particularizando, no ternos obtidos na década dos 70. mas sem levar
caso do Brasil, observou-se na década cie 80 incon* em conta que o custo do petróleo iria crescer. Paí
Brasil, q u eéo 2? País (o primeiro é a ín
troláveis crescimentos na dívida pública e no ta ses importadores de petróleo, encorajados, sem
dia). cm termos de recepção det 'inprés- manho do governa "O Plano Collor |>ara reforma dúvida, pelo sistema bancário internacional, toma
timos. Até fevereiro de 1990, o Banco econômica e estrutural do Brasil é dos mais am ram empréstimos para fechar a balança de paga
Mundial já aprovou ISO projetos para o biciosos e corajosos já lançados por qualquer país, mentos gerando a dívida externa em relação ao sis
desenvolvido ou em vias de desenvolvimento’, elo tema financeiro internacional. Ao secarem as fon
Brasil, num total histórico de 17,õ mi
giou Sahid Husain. tes para reciclagem da dívida chegou-se à crise de
lhões de dólares, dos quais 12 milhões A observação do desenvolvimento ecqnôniico 78 a 82, com a alta de juros internacionais, quan
foram emprestados na recente década ocorrido nas últimas três décadas, na África e do praticamente dobrou a dívida da América La
de 80. Quatro especialistas do Banco América Latina, demonstra que houve retroces tina. O modelo desenvolvimentista, utilizado nas
so. No caso do Brasil, porém, ocorreu no mesmo décadas de 60 a 90, está agora esgotado".
Mundial se pronunciaram durante o Se
período um crescimento de 330% do PNB (Pro
minário ‘A Retomada do Desenvolvi duto Nacional Bruto), diversificou-se a estrutura Reformas
mento — 0 Brasil na Década de 90", industrial — mas que poderá se tomar obsoleta ca
promovido conjuntamente pelo Banco so não seja modernizada — e expandiram-se os Em resposta à atual crise econômica muitos go
e pela Associação Comercial do Rio de serviços de infra-estrutura. vernos latino-americanos começaram programas
Segundo o vice-presidente do Banco Mundial, de reformas, como o México, Brasil, Argentina.
Janeiro-ACRJ: Sahid Ilusain, Deme- a estratégia desenvolvimentista utilizada na Amé Bolívia, Venezuela, Honduras e Costa Rica. A crise
trios Papageorgious, Armeane Choksi rica Latina a partir dos anos 60, se apoiou no se da dívida na América Latina serviu para mostrar
e Stanley Fischer. guinte tripé: 1) - atuação intensa dos governos; que o empréstimo e a utilização de capital exter
2) - saída do modelo tradicional exportador de pro no para o desenvolvimento interno deveriam ser
Crise dutos primários; 3) - empréstimos de capitais ex feitos de maneira judiciosa. Tomando como exem
ternos. Assim, nas décadas de 60 a 80, a atuação plo México, Chile, Bolívia e Venezuela o represen
Shaid Husain, vice-presidente América Latina/ dos Governos latino-americanos se fez presente em tante do Banco Mundial disse que “pacotescomo
Caribe, do Banco Mundial, lembrou que na Amé todas as esferas do jogo econômico. Proliferaram o da conversão da dívida melhoram a confiança do
rica Latina o modelo de substituição de importa as empresas públicas e surgiu uma rede de inte sistema financeiro internacional para com os paí
ções, que contou inclusive com forte apoio de ca resses e privilégios para o setor privado. Em con ses tomadores de empréstimos, ao passo que paí
pital externo nos anos 70, está definitivamente es trapartida, aumentou o déficit público (o governo ses como o Peru, que tratam unilateralmente o prev
gotado. Assim, resta aos países latino-americanos, gastando mais do que arrecadando) e instaurou-se blema da dívida, demonstram que um alto nível
que visam o desenvolvimento, enfrentar reformas uma inflação crescente. de endividamento externo vem acoplado a estru
estruturais internas, diminuir a influência do Es Prosseguindo em sua análise, Shaid Husain turas e políticas econômicas internas que se nâo
tado e abrir o comércio para o exterior, levando em observou que a industrialização na América La forem reformuladas, farão com que o fenômeno
conta que eles deverão operar cada vez menos com tina — que sem dúvida melhorou sua base tecno da dívida volte a se repetir.
o suporte de capitais externos. Eis, a seguir, um lógica — foi obtida via pesado protecionismo, cré “Por outro lado, o fluxo de capital comercia’
resumo do desenvolvimento econômico nas últ i ditos subsidiados e monojxMio sobre o mercado do para os países em desenvolvimento foi afetado pela
mas três décadas do cont inente latino-americano, méstico (reserva de mercado) redundando em al crise do endividamento. Não haverá mais na dé
visto pelo executivo do Banco Mundial. to custo social e em estagnação econômica. “Em cada de 90 fluxo de capitais em quantidade e con-