Page 5 - Telebrasil - Julho/Agosto 1990
P. 5
e d i t o r i a l
E m b u s c a d o
t e m p o p e r d i d o
Armando Luiz Medeiros
(Diretor da Telebrasil)
Sob este tf tulo escrevi, em nossa edição de veria causar grandes transtornos, nem preo
novembro/dezembro de 1989, editorial cha cupações desmesuradas. Afinal, qualquer em
mando atenção para a grande necessidade na presa privada experimenta flutuações muito
cional dos serviços básicos de telecomunica maiores, praticamente a cada ano. Todos sabe
ções, advogando que nosso SNT fosse admi mos que a melhor forma de garantia de empre
nistrado sob critérios profissionais de eficácia go é trabalhar numa empresa eficiente e bem
e eficiência: bons serviços com uma contra administrada. Uma empresa eficiente e bem
partida de tarifas justas. Apenas bons servi administrada não pode, assim, se dar ao luxo
ços; não é preciso muito mais. de manter pessoal em excesso, apenas por es
Com imensa satisfação li a recente entre pírito corporativo. Estaremos, porém, prepa
vista do ilustre presidente da Embratel, nos rados para competir? Mas competir onde?
so colega de TELEBRASIL, engenheiro Car Os serviços básicos são garantidos por dis
los de Paiva Lopes, ao Jornal do Brasil. Iá que posição constitucional, mas há toda uma no
é preciso competir. Compet ição por parte de va gama de serviços ainda não disponíveis, ou
quem compete exige eficiência e bons servi apenas disponíveis em volumes insuficientes,
ços. Subentendo que algo importante está por para atender ás reais necessidades dos usuá
acontecer no setor das telecomunicações. Para rios. Parece razoável que os recursos disponí
competir será necessário compensar e corri veis sejam canalizados para os serviços bási
gir o que não foi feito durante a década, per cos, que se encontram tão longe ainda da qua
dida, dos anos 80, onde o crescimento das li lidade e disponibilidade desejáveis. Não pa
nhas em serviço foi acompanhado de uma fan rece razoável que, num momento em que o
tástica queda na qualidade do serviço presta Governo anuncia para breve, a meta de forne
do aos usuários. De pouco valeram os inves cer telefones num prazo de 48 horas e sob um
timentos fortemente concentrados, no aumen regime de assinatura alugada, se queira exi
to do número de assinantes. As posições do gir dos grandes usuários um super-autofinan-
presidente da Embratel confirmam o que mui ciamento que cubra toda a implantação de um
tos já têm dito. Prejudicial é a situação de mo- sistema para interconexão com o SNT, para
nopólio. Irrelevante fica a questão da proprie depois transferí-lo como “planta doada” pa
dade das empresas, desde que exista a neces ra a operadora, que passará então a receber
sária competição. Uma empresa — privada ou polgudas tarifas por sua operação.
estatal — baseada no monopólio geralmente E preciso corrigir tais distorções. A com
torna-se ineficiente. A situação agrava-se so petição, seja entre as próprias operadoras lo
bremaneira sob condições de tarifas defasa cais e a Embratel, ou mesmo com possíveis
das e investimentos limitados, como foram as empresas privadas dirigidas a serviços não
dos últimos anos. básicos, só poderia ser salutar. O monopólio
As tarifas já foram, felizmente, recupera constitucional concedido a empresas contro
das de forma substancial. Não tenho elemen ladas pelo Estado pressupõe, em contrapar
tos para avaliar o quanto; porém, o plano de tida, a disponbilidade de serviços eficientes,
estabilização econômica, apesar de não estar à altura de uma economia desenvolvida. E
talvez atingindo seus objetivos, completamen preciso estarmos preparados para a competi
te, conseguiu reduzir em uma ordem de gran ção. Competir com braços e pernas amarra
deza a inflação, o que se reflete numa recompo dos por limitações, ditadas pelo próprio sócio
sição real do valor da moeda. Recursos econó majoritário, é fracasso certo. Que se cobrem
mico-financeiros não deverão, portanto, faltar as promessas de controle das empresas por
ao setor. A máxima “serviço público é tarifa” objetivos e não de insumos e se exijam empre
deveria ser atingida sem maiores problemas. sas eficazes e eficientes. Nesta competição
O que faltaria, então? Recursos humanos não é apenas necessário competir. E vencer
estão disponíveis, e da melhor qualidade. A ou vencer! Somente assim poderemos com
anunciada redução de 8% do pessoal não de pensar o tempo perdido.