Page 11 - Telebrasil - Julho/Agosto 1990
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dições equivalentes às dos anos 70. Um aspecto prias, como saúde, educação, assistência social,
essencial das reformas em andamento na Améri manutenção da ordem pública e proteção ao meio-
ca Latina é a de que a retomada do desenvolvimen ambiente. Ainda mais, a privatização irá aumen
to deverá ser efetuada com apoio cada vez maior tar a eficiência do aparato produtivo do País, além
de recursos internos e com menor aporte de capi de diminuir a presença reguladora do Estado na
tais externos de caráter público. “Esperamos que economia.
investidores de risco trazendo tecnologia e geren Disse ainda o palestrante que um processo de
ciamento substituam o investidor público interna privatição deve ser cuidadosamente planejado e
cional” deixou registrado o represenante do Banco envolve coisas tais como avaliação do patrimônio
Mundial. da empresa, decidir se a privatização será total ou
parcial, e qual o perfil dos novos acionistas tais co
Plano Collor mo empregados, pequenos e grandes investidores,
fundos de pensão, investidores locais ou estrangei
Coube a Demetrious Papageorgious, do De ros. Quanto aos certificados de privatização, eles
partamento Comercial do Banco Mundial, proce apresentam o inconveniente de “concentrar a pro
der a detalhada análise do Plano Collor que ele des priedade das empresas sendo privatizadas em
creveu como “uma das melhores oportunidades mãos de bancos federais ou estatais ou de um pe
que o País encontrou, nos últimos quinze anos, pa queno grupo de bancos comerciais, o que não tem
ra a retomada de seu desenvolvimento econômi se demonstrado conveniente em outros países”, ob
co”. O âmago do Plano é de caráter monetário (en servou Demetrious Papageorgious que, ao finali
xugamento da liquidez), fiscal (diminuição do dé zar sua exposição, tratou dos aspectos finaceiros
ficit público) e de reformas administrativas (pri do Plano. Ele mostrou que a extrema inflação a que
vatizações) profundas. Ao ser atingido o controle o País foi submetido distorceu o papel dos bancos,
da moeda e a eliminação do déficit público com a bem como promoveu extrema reciclagem de títu
aplicação do Plano renascerá a confiança no Go los da dívida pública através de mecanismos co
verno e serão eliminadas as expectativas inflaci- mo o ovemight. Ele aplaudiu a unificação da re
nárias. gulamentação relativa a reservas bancárias, con
A seguir, o economista comentou a reforma es denou a prática do crédito direto “que sempre le
trutural prevista no Plano e que envolve reduzir va a distorções” e pediu abertura do mercado de Demetrio Papageorgiou, chefe do Dep. Brasil/
a presença excessiva do Estado através da deses- capitais para capitais de risco. Banco Mundial.
tatização e liberar as atividades econômicas inter
nas e externas, com abertura do comércio exterior. Comércio Mundial
“Esta é a única maneira realística para o Brasil dos pela unificação alemã. Com déficits governa
crescer à semelhança de medidas que estão sen A década de 80 terá sido marcado pela dico mentais altos e poupanças limitadas, as taxas de
do tomadas pelo México e por países do Leste Eu tomia entre o continuado crescimento da econo juros no mercado financeiro internacional deverão
ropeu”, vaticinou o representante do Banco Mun mia dos países desenvolvidos e a queda do produto permanecer altas nos próximos anos.
dial, que depois se deteve nos aspectos da libera bruto per capita, e o aumento da dívida externa O fato central da década de 90 será a integra
lização do comércio exterior, da privatização e nas dos países da África e da América Latina. O ano ção da Comunidade Econômica Européia, com a
medidas financeiras do Plano. de 1992 será histórico devido à integração euro* possível criação de um só banco central e de uma
só moeda. O impacto das reformas nos países do
1 -este Europeu (Polônia. Alemanha Oriental, Tclie-
coslováquia e 1 iungria), de que tanto se fala, será
bem menor, visto representarem estes países ape
nas 90 milhões de pessoas e um PNB que, soma
do, não é muito maior do que o do Brasil. Já as re
formas econômicas na União Soviética, devido a
sua magnitude, terão que ser efetuadas com finan
ciamentos internos. Do ponto de vista ideológico,
a abertura das economias do bloco soviético mar-
cao término do modelo de planejamento centrali
zado e coloca em discussão o papel do Estado e do
mercado.
A seguir, Stanley Fischer referiu-se ao comér
cio entre as nações explicando que as rodadas do
GATT, tendo lugar no Uruguai, estão sendo mar
cadas pelo impasse entre EUA e Europa em rela
ção aos produtas agrícolas (que são objeto de sub
sídios de mais de 100 bilhões de dólares) e pela re-
lade in
telectual {software). No caso em que as negocia
ções do GATT não cheguem a bom termo, have
rá recrudescimento na formação de blocos e alian
ças comerciais sob liderança de países industria
lizados.
(E-D) Stanley Fischer, economista-chefe do Banco Mundial, dialoga com Ministro da lnfraestrutura, Do ponto de vista de novos financiamentos, pa
Ozires Silva. ra países intemacionalmente endividados, eles de
verão tomar a forma de investimentos diretos, sob
forma de capital de risco. Não é de se esperar, por
tanto, a entrada de dinheiro novo na América La
— Liberalizar o comércio exterior é acibar com péia que criará um mercado de 320 milhões de pes tina, cujo crescimento deverá ser feito às custas da
(jualquer restrição à importação de bens, tais co soas e uma produção equivalente a um terço do poupança interna dos próprios países.
mo as decorrentes de reservas de mercado, à ex produto total mundial. Em termos numéricos, os O economista-chefe do Banco Mundial vê o
ceção de aplicação de tarifas aduaneiras, dos in anos 90 verão um mundo desenvolvido crescen Brasil, dentre os NICs (News Industrialized Coun
centivos à exportação c para a Zona Franca de Ma do a taxas de 3% ao ano, com a economia da Ásia tries), com grande possibilidade da retomada do
naus — citou o palestrante, acrescentando que es (Japão e tigres asiáticos) aumentando anualmen desenvolvimento, visto a extensão dos recursos que
tudos efetuados pelo Banco Mundial, em mais de te a taxas de 6,3%. Em contraste, o cidadão m é possui e a estrutura produtiva já implantada. Dei
30 países, demonstram que a liberalização do co dio africano chegará ao ano 2000 mais pobre do xado de lado o debate ideológico e com base ape
mércio exterior não irá desgastar as reservas do que era em 1980 e o latino-americano — passados nas em motivos de ordem pragmática, a receita do
País, devido ao excesso de importações. No caso vinte anos — será apenas 10% mais rico. Banco Mundial para o desenvolvimento recai em
do Brasil, que possui extensa base industrial, se Estes e outros dados estatísticas foram citados quatro pontos: 1) - orientação para o comércio ex-
rá possível garantir exportações compensatórias pelo economista-chefe do Banco Mundial, Stan temo; 2) - tratamento apropriado do investimen
além do efeito regi ilador a ser conseguido pela ado ley Fischer, ao falar na Associação Comercial do to direto externo; 3) - eficiência na produção inter
ção de um mercado de câmbio flutuante. Rio de Janeiro sobre perspectivas da economia na, inclusive do setor público; 4) - estabilidade eco
Quanto aos benefícios da privatização “eles são mundial para a década de 90. Do lado dos países nômica com base e equilíbrio fiscal. “Um recei
óbvios”, afirmou o representante do Banco M un desenvolvidos, a dívida interna do orçamento fe tuário absurdamente simples”, observou o técnico.
dial, citando que ao liberar recursos destinados a deral dos El IA deverá ser da ordem de 2% do PNB O comércio externo ao Brasil tem sido expor
empresas públicas o Governo poderá empregá-los norte-americano e a dívida da Alemanha Ocidental tador — o que o País faz com sucesso — mas ago
com melhor proveito em áreas que lhe são pró- deverá crescer para fazer face aos encargos trazi- ra é hora de liberalizar as importações transfor-