Page 33 - Telebrasil - Maio/Junho 1989

Os produtos que ainda precisam para sua
fabricação do uso intensivo da mão-de-
obra, bem como aqueles que poluem o am­
biente, ou que requeiram alto nível de
energia tendem a ficar com os países em
desenvolvimento.
Em termos atuais, a divisão internacio­
nal do trabalho vem-se definindo cada dia
mais claramente através de vantagens
comparativas em cuja base estão a mão-
de-obra qualificada e o domínio de tec­
nologias avançadas ao invés de trabalho
barato e recursos minerais. Os pesados
custos da concorrência tecnológica agra­
vados pelas incertezas impostas pelos c i­
clos de vida, mais curtos, dos produtos e
processos, fazem com que cada vez maior
número de empresas busquem parcerias.
A formação de coalizões tornou-se um im­
perativo para as indústrias que procuram
dividir os custos e disseminar os riscos de
novas tecnologias. Passou também a ser
essencial para muitas destas empresas in­
dustriais e de serviços competirem em
mercados globais.
Nos Estados Unidos, num momento em
que as tensões aumentam, em relação aos
principais concorrentes daquele país, es
pecialmente Ásia e Europa, a comerciali­
zação de chips semicondutores tornou-se
motivo de conflito económico entre os EUA
e o Japão. Mas esta confrontação não dimi
nuiu o ritmo de parcerias comerciais e tec
nológicas entre os dois países.
Salomão Wajnberg deu, mais adiante
em sua palestra, os nomes de diversas
campanhas que se encontram em litígio
comercial, principalmente pela manuten­
ção e proteção do Copyright de alguns pro­
dutos:
Na Europa, a Alcatel, após absorver
uma série de indústrias de telecomunica
çòes francesas, se fundiu com a ITT, for­
mando o maior conglomerado industrial de
E s t r a t é g i a
De acordo com Salomão Wajnberg, se as
transnacionais, no passado, montavam m
dústrias nos países mercado-alvo e se valiam
da proteção local, contra a concorrência do
exterior, agora elas se concentraram em
bens de alta tecnologia e de larga demanda,
com elevadíssimos investim entos para
serem produzidos, a preços cada vez mais
baratos e visando tomar cada vez mais difí­
cil. o ingresso de novo competidor no mer
cado
Como consequência, a corporação trans-
nacional pode agora dominar mercados sem
manter unidade fabril nos países alvo, como
acontece no caso de máquinas fotográficas,
fac símiles, videocassetes e outros bens si­
milares A regra geral, no entanto, é a cor
poraçáo, localizada em país de moeda forte,
investirem países de moeda fraca para redu
zír o custo de produção e do transporte e. as
sim, competir melhor no mercado interna
cional, analisa Wajnberg.
A produção de uma transnacional, em
país de moeda fraca, pode ser do tipo hori­
T elebrci/il
A G R A D E C E
P a t r o c í n i o : «
MONYTEL
W M / i k r o
(E D) Luiz Alberto Salvatore (Monytel), Jorge Salomão (Bracel), Tallis Palma (W.M./lkro). ABL e a
Associação Brasileira de L istas Telefônicas.
comunicações, obtendo assim uma maior grupo brasileiro. Em seguida, o orador ci­
amortização de seus custos de P&D e de tou vários exemplos de outras empresas
comercialização. A Philips foi buscar sua nacionais que estão montando subsidiá­
atualização tecnológica na área de CIs di­ rias ou formando joint-ventures nos Esta­
gitais adqmrindoa Signetics. A Siemens, a dos Unidos e Europa.
Philips, a SGS e a Thomson se consorcia­ Prevendo o futuro do setor brasileiro de
ram para o desenvolvimento conjunto de telecomunicações, Salomão Wajnberg dis­
um chip de memória de 4 megabytes. A se que "o número de empresas que aten­
Philips também se aliou ã Sony, tradicio dem o mercado vem aumentando, compe­
nal concorrente na área de eletrônica de tindo cada vez mais entre si e tornando
consumo, para desenvolverem em con­ cada vez mais difícil a amortização dos
junto o compact disk. custos dos desenvolvimentos de novos mo­
Segundo Wajnberg, esta tendência já delos necessários para enfrentar a cres­
chegou ao Brasil. “ A Toga, do grupo Kla cente competição". Disse ainda o técnico
bm, em jomt-venture com a norte-ameri­ que “ caso o cenário atual persista se terá:
cana Bryce, vai operar uma fábrica de em mercado com crescimento limitado e com­
balagem de rotogravura no Tennessee, petitivo; Indústrias com poucos recursos
EUA. O acordo completa as linhas da Bry para investir; P&D pedindo altos níveis de
ce e dá um novo impulso às exportações do investimentos; Equipamentos de ciclo tec­
nológico de vida curta; Microeletrônica
com nenhum progresso aparente e Prote­
cionismo com tendência a diminuir".
d a s g r a n d e s c o r p o r a ç õ e s — Da mesma maneira como aconteceu
nos países desenvolvidos — prognosticou
o palestrante — deverão ocorrer fusões e
zontal ou vertical. Nesta ultima modalidade,
tem-se ativo fixo (instalações) pequeno e ca­ absorção de empresas, formando conglo­
pital de giro grande. Trata-se de operações merados industrialmente fortes, tendo por
de montagem, com vasta rede de fornece­ núcleo sua Divisão de Microeletrônica e de
dores locais, desenvolvidos ou não pela outros insumos. Dois grupos nacionais já
transnacional. Ao ocorrer o risco de proble­ despontam no horizonte dentro desta filo­
mas políticos, o capital de giro é reposicio- sofia: Itaú e Sharp. Outros, sem dúvida, já
nado. deixando a descoberto fornecedores estão em processo de formação. O Itaú
que, então, pressionarão o Governo, a favor
da transnacional. oriundo da área profissional se desloca
No modo vertical, o produto inteiro e fa­ para a área de consumo. A Sharp o inverso.
bricado localmente, a partir da matéria-pri­ C oncluindo sua palestra com uma
ma Neste caso. o ativo fixo é grande e o ca­ análise econômica, Salomão Wajnberg fri­
pital de giro, proporcionalmente, menor. Só sou que “ do ponto de vista empresarial, a
optam por essa maneira empresas que tém decisão de partir para o desenvolvimento
(ou tiveram) absoluta confiança na estabili­ de um produto, prende-se principalmente
dade política do país hospedeiro. Diz Wajn­ aos seguintes fatores.- inovação tecnoló­
berg que todo país — desenvolvido ou em gica, por obsolescência; demanda poten­
desenvolvimento - faz o máximo para atrair cial ou efetiva de mercado; contratação
corporações transacionais, pelo fortaleci­
mento económico, formação de riqueza e para aplicação específica. Via de regra, o
aporte de conhecimento que elas trazem ao parâmetro decisório reside, essencial­
país hospedeiro (JCF) mente, no efetivo retorno do investimento
realizado durante a vida útil de comerciali­
zação prevista para o produto". (J.P.)