Page 52 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1984
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DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO
P a i n e l I I I - D e b a t e s
O Painel de Debates III trouxe médio prazo, a falência tecnológica da em servando que "a universidade é algo ainda
presa privada brasileira, que perderá as muito pouco explorado entre nós, no que
a visão da indústria, quanto ao
sim seu mais valioso patrimônio: a tec concerne à cooperação tecnológica". Fi
processo de desenvolver tec nologia desenvolvida com recursos pró naliza-se o processo com a fase do rea
nologia, e o testemunho sincero prios. lismo, na qual verif ica-se que o que se pro
A. Peixoto (Nec): 0 setor das comunica jetou não é exatamente o que se alcançou
das dificuldades encontradas e
ções, como um todo, apoia-se num tripé e que o acionista deve portanto ser avisado.
de como estão sendo supera constituído pelos recursos financeiros do Como já foi dito, de qualquer maneira, é
das. Foram poucas as lamenta FNT (hoje, longe de nós), na capacitação preciso gerar tecnologia, o que nos leva a
ções e preferi u-se falar do que já dos recursos humanos necessários e na maiores investimentos, volume de vendas
política de desenvolvimento industrial e e abertura para o mercado externo. Repe-
se fez ao invés do que poderia tecnológica. Nesse momento, todavia, ve te-se então a velha história "do ovo e da
ter sido feito. Um sinal de que mos a discussão da norma de um setor galinha": para se ir ao mercado externo é
com a crise nossa indústria novo, o da informática, legalmente invadir necessário ter produto competitivo, o que
em profundidade o setor das comunica requer tecnologia e maiores mvestimen
amadureceu. ções, pelo controle excessivo que exerce tos, e tudo recomeça.
sobre seus insum os. 0 que pensar a 0 processo decisório do que e como de
respeito? senvolver produtos diverge, se sua aplica
O. Jardim (M oddata): Gosto sempre de L.O. Machado (Erickson): Uma análise em ção for para a área pública privada. No
lembrar a história de dois irmãos: um deles profundidade da Lei de Informática, apre caso da Telebrás é esta que define quem
operador da bolsa e o outro engenheiro. sentada pelo executivo (suponho que é precisará tal produto, possível de ser ob
Eles criaram o Tele-Open, baseados na disto que se trata), deveria ser feito anali tido em tal prazo, como no caso da fibra
idéia da simplificação das comunicações. sando item a item do projeto. Do ponto de óptica. O mesmo acontece com o rádio di
A idéia frutificou e, posteriormente, adqui vista global, e a título pessoal, acho que gital sendo desenvolvido por um pool de fa
riram a Coencisa, que deverá faturar, neste este projeto de lei, tem abrangência exces bricantes e pelo próprio CPqD.
ano, de 26 a 30 bilhões de cruzeiros e que siva, visto que sob a aparência de legislar J.M. Costa: Mas a importação pura e sim
hoje vai buscar tecnologia lá fora com as sobre informática, aplica um severo con ples de tecnologia é extremamente preju
universidades americanas. Como poderia trole sobre um grande segmento de tec dicial, visto não se desenvolver recursos
ser dado mais apoio à pequena empresa? nologias modernas aplicadas no processo humanos internos e ficar-se a margem dos
J.M . Costa (ABC-Xtal): 0 apoio náo deve produtivo do país. conhecimentos, tanto na area de compo
depender do tamanho da empresa, mas Por outro lado, o projeto traz em seu nentes quanto na dos processos produti
sim da importância do projeto para o sis vos. A alternativa é o desenvolvimento de
tema de telecomunicações e para o país. tecnologia no país.
R. Aprá (Andrew): Darei, a seguir, o teste Em alguns casos, porém, quando não
munho de alguém que faz uma indústria houver essa capacidade de desenvolvi
funcionar, há dez anos Em primeiro lugar mento interno, não se teria o produto. Isto
existe a pressáo do acionista para que o re A importação pura representa certamente uma decisão polí
torno do investimento seja rápido, o que tica forte, mas de consequências, a meu
pressupõe o sucesso comercial do produto e simples de tecnologia é ver, positivas.
e a possibilidade de sua exportação. A ma prejudicial ao país, L.O. Machado: Se a importação ou trans
tenalizaçáo de um novo produto vai desde por não transmitir ferência de tecnologia for feita de maneira
do estudo de mercado, passando pela in afoita, concordo que a importação de tec
dispensável fase de seu desenvolvimento conhecimentos. nologia será provavelmente um ato divor
conceituai, a que se seguem as fases de (José M Costa) ciado do melhor interesse nacional. Mas
produção, instalação, operação e ate não creio que essa conotação se extenda a
garantia a ser dada ao cliente. qualquer caso de aplicação de tecnologia
O desenvolvimento do processo indus ou de insumos.
trial, que deve se sobrepor ao desenvolvi Assim, por exemplo, no caso do novo
mento de laboratono implica no conheci bojo uma regulamentação e um dirigismo key system Ericsson, tivemos de decidir,
m ento de m atérias-prim as, maquinas, estatal excessivo e em outros aspectos é em certo momento, se devíamos utilizar
processos produtivos e máo-de-obra dispo dem asiado vago em seus propósitos, um circuito integrado dedicado, o que im
níveis. Temos porém um círculo vicioso: a caracterizando o que denom inaria de plicaria, desenvolvido a tempo, com cus
fim de manter a liderança, a empresa pri "uma delegação indevida do poder de le tos razoáveis e com possibilidade de as
vada necessita de elevados investimentos gislar". pirar ao mercado externo.
de recursos próprios em P&D (à seme M. Magalhães (Philips): Voltando à indus A outra opção seria usar componentes
lhança do que fazem as multinacionais), tria, a atividade do desenvolvimento co disponíveis no mercado brasileiro, com o
que supõe alto nível de vendas, com a fi meça com uma catequese: convencer o que não poderíamos empregar a caixa do
nalidade de permitir a acumulação de re acionista que deve aceitar prazos mais lon telefone preferencial brasileiro, por moti
cursos a serem reinvestidos em P&D. Nos gos para o retorno de seu investimento. De vos de espaço e chegaríamos a um produto
preocupa porém o baixo nível de aquisi pois segue-se a fase da criatividade dentro mais caro, mais demorado de lançar no
ções de nosso mercado, que faz prever, a da limitação dos recursos disponíveis, ob mercado e menos competitivo. Optamos