Page 36 - Telebrasil - Julho/Agosto 1984

S e m i n á r i o T e l e b r a s i l
AS TCs NUM AMBIENTE DE MUDANÇAS
John Segai pouco antes de sua palestra, recebendo as atenções de (E D) Geraldo Garbi, A lene a s t r o
Silva e Antonio Del Fiol.
John L. S egall, form ado pelo T rin ity
College de H artford C onnecticut ingressou
em 1 9 5 6 no Departam ento de M arketing
da New York Telephone Company, onde
chegaria treze anos m ais tarde a vice-pre­
sidente. Em 7 6 passou a ser responsável
p e lo s a s s u n to s de re g u la m e n ta ç ã o
A T& T e em 8 0 pelas áreas de p la n e ja ­
m ento e de a d m in istra çã o financeira da
corporação. Desde m aio se reporta direta­
m ente ao presidente com o vice-presidente
sénior para estratégia corporativa e de de­
senvolvim ento da AT&T.
U m a personalidade m arcante e dinâ­
m ica (chegou ao Brasil no avião da em pre­
sa), leu sua palestra em inglês (havia tra ­
dução sim ultânea) em m eio a um clim a de
profunda atenção do público do auditório
R e b o u ç a s — na sua quase to ta lid a d e
gerentes, em presários e especialistas de
TCs — pois se tratava de um depoim ento,
em prim eira mão, dos m otivos e repercur-
sões do desm em bram ento recente de uma
corporação com um m ilhão de empregados
e 1 5 0 bilhões de dólares de patrim ônio: a
Am erican Telephone and Telegraph Com­
pany.
Transm itindo emoção, Segall disse que
catharsis (em grego, pu rifica çã o ) seria a
A T & T :
m o n o p ó l i o f i c o u p a r a t r a s
trodução de com petição no monopólio dos
a p a re lh o s te le fô n ic o s , PABX, serviços
ponto-a-ponto e interurbanos, na década
de 6 0 , e a grande ação antitruste do Go
verno em 1 9 7 4 . Dois anos mais tarde, o
C o n g re s s o d a v a s in a is de repensar
“ quando e o n d e " m onopólio e competição
serviriam m elhor ao público — uma poli
tica que datava desde 193 4. Tudo indi­
cava o fim do m onopólio.
.. Nesse ponto a direção da AT&T —
explicou o executivo — começou a perce
ber que o mercado seria a verdadeira força
que irá com andar o futuro das TCs, que o
sistem a B e ll era tid o com o demasiada­
m ente poderoso e que se uma mudança de
ru m o devesse o c o rre r, esta seria uma
ú n ica o p o rtu n id a d e . Viram se então os
planejadores diante de três opções.- conti­
nuar com o litígio, optar pelo não desmem­
bram ento da AT&T às custas de restrições
e adicionais à sua atuação e aceitar a solu­
ção — drástica porém não draconiana —
estendida pelo Departamento de Justiça.
Adotou-se a últim a alternativa que tirou a
empresa do clim a de incerteza e libertou
palavra m ais adequada para os “ com pa­ suas energias para o futuro. Optou-se por
nheiros executivos e gerentes aqui presen­ náo viver do passado, “ o que é conveniente
te s” participarem do grande espetáculo apenas para os arqueólogos", ironizou Se
das opções e das decisões complexas que gall.
levaram sua corporação a abrir mão de 22 O desm em bram ento foi cirurgicamente
de seus negócios absolutam ente saudá­ lim po mas doloroso. Foi sobretudo impor
da veis e florescentes, interrom pendo uma tante por sig n ifica r o reconhecimento de
tra d içã o de m ais de um século de exis­ que m onopólio e com petição são filosofias
tência. basicam ente incom patíveis. A solução re
— Foi o térm ino de uma era histórica presentou para a AT&T o fim da pecha de
com a missão de dotar os Estados Unidos gigantism o que sobre ela pairava, removeu
de serviço telefônico. Não foi uma decisão o problem a do subsídio cruzado entre mo­
repentina e se existem observadores que n o p ó lio e serviços liberados e terminou
acham que o desregramento voluntário da com o delicado problem a do acesso dos
AT&T foi uma jogada brilhante em que o com petidores às redes locais. Preservados
passado foi trocado pelo fu tu ro sabemos ficaram o gerenciam ento de uma rede na­
que esta decisão foi tomada internam ente cional unificada de TCs e o elo vital entre
com relutância. Na realidade nada m ais f i­ os ram os de P&D e in d u stria l. Enfim, a
zemos do que seguir a filosofia estabele­ nova corporação ficou livre para o uso ple­
cida porTheodorVail, patriarca do sistema no de sua tecnologia, em qualquer mer­
Bell, quando diz que “ a m aior tarefa das cado que vier a escolher.
adm inistrações é a de m oldar os negócios O choque cultural foi grande. Para trás
aos desejos do p ú b lico " — revelou o con­ ficaram 2 2 operadores qúe constituiam a
ferencista. essência (sob a ótica governamental) do
Em janeiro ú ltim o , a corporação acei­ m onopólio natural das TCs. Nosmesesque
tava a proposta desregulatória do Governo. sucederam janeiro de 8 2 deu-se a tarefa
0 vice-presidente da AT&T m ostrou a gigantesca da reorganização do antigo im­
seguir que o desregramento era um proces­ pério em novas bases voltadas agora para o
so que já se iniciara de longa data, com in ­ futuro. Náo foi tarefa fá cil, adm itiu Segall,