Page 44 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1982
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A T E C N O L O G I A I N D U S T R I A L N A C I O N A L
E s c o l h a , t r a n s f e r ê n c i a e a d a p t a ç ã o n o e x t e r i o r
Salomão Wajnberg — E n g e n h e i r o E l e t r i c i s t a
N ã o h á tem a m a is im portan te Existem exemplos atuais de países com conhecimentos cientí
ficos e tecnológicos bastante bons, porém com poucos resulta
d o q u e o d o m ín io da dos ecõnômicos e sociais, como a índia e o Paquistão, e, de
te c n o lo g ia p e lo s p aíses em países sem ciência ou tecnologia próprias, porém com muito
d e s e n v o lv im e n to . A m atéria, progresso econômico e social como a Suíça, Itália, Formosa,
Suécia e outros.
p o r su a abran gên cia, exige
u m a a b o rd a g e m sistêm ica, tal
A distância tecnológica que separa os países desenvolvidos
c o m o apresentada neste dos países subdesenvolvidos não é resultado de uma simples
questão de conhecimentos e de equipamentos, mas de siste
mas complexos e integrados de recursos humanos formados,
instituições especializadas, escolas profissionais, organismos
governamentais, interesses financeiros, econômicos, de se
Introdução
gurança e mercados.
A indústria eletro-eletrônica brasileira é constituída de aproxi
Os países em desenvolvimento estão, via de regra, despre
madamente 3.000 empresas, 70% das quais são fabricantes de
parados para absorver tecnologia ou desenvolver tecnologia
equipamentos, partes e insumos para eletrônica. Cerca de
própria. Seus recursos humanos são escassos, a infraestrutura
10% delas podem ser classificadas como de médio e de grande
material para o exercício daquelas atividades praticamente
porte.
inexiste.
Estas empresas, que atendem direta e indiretamente o mer
A fim de participarem de uma forma mais direta do mercado
cado de equipamentos eletrônicos nacional, efetuaram gran
local, os capitais de risco normalmente instalam-se nesses paí
des investimentos em sua expansão industrial. Baseando-se
ses sob a forma de subsidiárias de empresas multinacionais,
na tradição já adquirida na última década de um crescimento
anual sempre superior a 15%, sofreram em 1981 a maiorqueda de modo a obter maiores vantagens que o seu concorrente no
de produção do pós guerra, resultante da retração do mercado exterior. Face às incertezas do negócio, via de regra se ins
interno, consequência da política de combate à inflação. talam numa primeira fase de modo horizontal, realizando as
últimas etapas do processo industrial, utilizando partes im
Já no ano passado, face às necessidades de remunerar seus in portadas. À medida que se afirmam no mercado, vão se verti-
vestimentos e utilizar sua capacidade ociosa, as empresas, se calizando, o que tem como consequência o início de um mer
guindo a orientação governamental, procuraram participar do cado local de insumos, futuro gerador de novas unidades in
dustriais.
mercado externo.
%
O mercado mundial de eletrônica, apesar de ser cerca de 38
A necessidade de ter um produto competitivo em utilidade e
vezes maior que o brasileiro, é extremamente competitivo; e
custo, depende da oferta e da procura do produto no mer
competir é difícil face ao estágio tecnológico, produtivo e co
cado. Se o produto responde bem à demanda e consegue man
nhecimento de mercado de nossos maiores concorrentes.
ter a empresa dentro de seus planos de crescimento, nâo há
razão imediata para investimentos no aperfeiçoamento do
Uma das maneiras de b y p a s s a r esta dificuldade e participar
produto nem em seus métodos produtivos.
com vantagens de um determinado mercado externo é a cons
tituição de empresas subsidiárias locais ou a formação de
j o i n t - v e n t u r e s com empresas nativas utilizando a proteção A necessidade imperiosa de se investir na tecnologia e desen
que seus governos normalmente oferecem à sua indústria. volvimento do produto surge na empresa como consequência
da ameaça de m anutenção de sua posição no mercado e
Este artigo tem por fim levantar alguns problemas e aspectos a mesmo da sua sobrevivência, face ao crescimento do produto
serem considerados durante os estudos para a constituição das empresas concorrentes locais ou do exterior.
dessas j o i n t - v e n t u r e s ou de subsidiárias de empresac nacio
nais no exterior.
As empresas multinacionais não encontram razão econômica
Conceitos iniciais para desenvolver estes investimentos nos países onde se ins
talam, pois essas necessidades são prontamente atendidas
O progresso científico de uma nação nem sempre tem como pela matriz onde desenvolvem intensa atividade de pesquisa
consequência garantida o progresso econômico e social, se e desenvolvimento tecnológico.
não existir uma infraestrutura de recursos humanos, forma
dos em todas as especialidades e níveis, capazes de transfor Para uma indústria local, vivendo em regime de livre competi
mar novos conhecimentos em utilidade, mediante a aplicação ção, o processo não é assim tão paternalista como no relaao
de processos industriais. namento matriz-filial.