Page 57 - Telebrasil - Julho/Agosto 1981
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3.* FASE — A IN FO R M A Ç Ã O EX TR A -SO M Á TIC A maior revolução cultural imaginável. Passou a poder acu
mular informação fora de seu cérebro, mas, sobretudo, trans
A nova visão que nos é facultada pelo uso do conceito de missível a outros indivíduos imediata ou longinquamente vi
quantidade de informação, com um modelo puramente biofí zinhos no tempo.
sico da evolução, é extremamente ampla. Poder-se-ia mesmo
falarem um novo tipo de taxonomia: a taxonomia informacio-
Quando se pensa na tremenda massa de informação contida
nal. Ou estudos antropológicos a nível da biofísica da nas bibliotecas, nas fitas magnéticas, nos vídeo-teipes, nas
informação? Creio que estamos vendo o começo destas ciên películas cinematográficas, vê-se que a quantidade de infor
cias. Mas podemos aprender ainda muito mais das curvas da mação cerebral, somática, passou mesmo a ser desprezível. A
Figura 1. Com o aparecimento do banco de memória progra quantidade de informação extra-somática é muitas ordens de
mável (em branco), o homem passou a poder educar-se de grandeza maior do que a dos cérebros. E cada vez aumentará
uma maneira clara. Não apenas o homem, mas outros mamí mais. A explosão de informação escrita é bem conhecida. Ven
feros e, principalmente, os primatas. A capacidade de criação
de símbolos, através do uso de informação cerebral, criou ceu-se mesmo a segunda barreira da possível saturação da in
formação cerebral, usando-se a informação extra cerebral, pas
ainda uma nova possibilidade para o sistema informacional sando o cérebro a processar, criar, controlar e escolher infor
biológico: a capacidade de armazenamento de informação ex mação extra-somática.
tra-somática. Isto é, poder-se-ia, com símbolos adequados,
com o uso da memória, guardar informação fora dos neurô
nios. Também a telemática e as telecomunicações podem agora ser
entendidas de uma forma mais ampla, pois a elas cabe agora o
papel de transmitir, armazenar e tornar acessível para proces
Esta, sim, foi uma das maiores revoluções da história dos seres samento cerebral a informação extra-somática.
vivos e do homem em particular. Tomemos um exemplo: um
indivíduo, homo sapiens, vê uma ave morta, que lhe pode ser
vir de alimentação Processa a informação visual com seus Identificamos, pois, estes três tipos de informação e sua ação
neurônios já programados geneticamente (mecanismo fisio biológica: genética, cerebral e extra-somática.
lógico da visão no homo sapiens), estabelece uma correlação
simbólica com a ave, colocando esta informação em neurônios Qual o significado que teve para o homem, em particular, a
não programados geneticamente e, ainda, usando sua capaci
possibilidade que a natureza lhe deu de poder usar informa
dade cerebral, resolve enterrar a ave junto a uma árvore no lo ção cerebral, com neurônios programáveis, em branco, capa
cal. Ora, a quantidade de informação que teria que usar para
zes de serem educados? Em primeiro lugar ela lhe deu uma
lembrar-se do local, das árvores, da clareira, daquela parti tremenda capacidade de sobrevivência, através de educação
cular árvore perto da qual enterrou a ave, bloquearia grande que poderíamos chamar de individual. A capacidade de poder
parte da sua memória.
ter, não um computador biológico, programado e pronto (com
seu imprinting), mas um computador biológico para seu uso
Através de processo criativo, possível pela própria existência individual, capaz de lhe dar criatividade quase instantânea,
de neurônios não programados geneticamente, mas em frente à variabilidade dos eventos de sua vida, tornou o ho
branco, lhe é possível, por exemplo, colocar uma pedra no lo mem o senhor absoluto dos seres vivos, e lhe permitiu grande
cal do túmulo da ave, ou algum outro objeto símbolo, que lhe domínio sobre o ambiente. Mas, sobretudo, através da criati
permitirá limpar (esquecer) muitos neurônios e manter ape vidade e da educação, lhe deu grande força de sobrevivência.
nas alguns com a informação necessária. A pedra identifica
dora da ave está substituindo o uso de neurônios dentro de É preciso meditar finalmente sobre as possibilidades incomen
sue cérebro. suráveis que as telecomunicações e a informática podem pro
porcionar para a evolução humana, na medida em que permi
A informação, em parte, passou a ser extra-somática. Os neu tem a interligação e a interação de infinitas fontes de informa
rônios passam a exercer uma outra ação, a de verdadeiras pon ções, transformando o patrimônio cultural do homem como
tes sensoriais entre o cérebro e o ambiente, incluindo o sím indivíduo em patrimônio de toda humanidade.
bolo (pedra). Este simples exemplo, que nos ocorre, pode ilus
trar um dos possíveis processos de criação de uma linguagem
escrita. Passar da pedra ao desenho da pedra no chão e do de
senho da pedra numa caverna, a finalmente para toda uma or Fontes de Referência:
denação simbólica, que levaria à linguagem escrita, não pare
ce agora impossível. Biofísica da Informação e Evolução da Inteligência
Prof. Sergio Mascarenhas
Vejamub novamente a gradação de verdadeiras revoluções a Introdução à Teoria da Informação
nível informacional: em primeiro lugar, a) informação gené Elwyn Edwvards
tica, com símbolos atômico-moleculares e barreira informacio #
nal genética, como mostrado na curva contínua da Figura 1; b) Genética
evolução do cérebro para criação de neurônios não programa Robert Paul Levine - Universidade de Harvard
dos geneticamente, e aumento drástico da informação a nível
individual, numa escala de tempo completamente diferente
da genética; desta etapa à criação de outro tipo de informação,
diferente dos outros dois anteriores, c) a informação extra-
somática, através dos símbolos orais e, principalmente, es
critos.
Quando a informação pôde extravasar do cérebro humano
para os símbolos da palavra escrita, o homem passou pela Contribuição da IR E L L I