Page 16 - Telebrasil - Julho/Agosto 1981
P. 16
Centro de Comunicações
C o m p u t a d o r e s p o d e m a m e a ç a r o h o m e m
N o S i m p ó s i o D a v o s , d o F ó r u m E u r o p e u d e G e r ê n c i a , e r g u e u - s e Não é à toa que Hal, o computador que
co n tro lav a a espaçonave no filme
u m a v o z d i s s i d e n t e q u a n t o à u t i l i z a ç ã o d e s o r d e n a d a d e c o m p u
"2001, uma Odisséia no Espaço", de
t a d o r e s . J o s e p h W e i z e n J a m n , q u e é p r o f e s s o r d e c i ê n c i a d e Stanley Kubrick, teve que ser desati
c o m p u t a ç ã o n o M I T , a c h a q u e , e m s u a m a i o r i a , o s s i s t e m a s d e vado.
c o m p u t a ç ã o t o m a r a m - s e i n c o m p r e e n s í v e i s . A objeção de que, na informática, tudo
é preconcebido e mecânico, é contes
tada por especialistas, entre os quais o
professor Jean-Claude Simon, da Uni
O desenvolvimento de sistemas utili humanos vôem-se obrigados a se adap versidade Curie, em Paris, e autor do
zando computadores é efetuado por tar cada vez mais às exigências do sis relatório "A Educação e a Informatiza
um processo que parece outra coisa tema, e o resultado é que perderão pau ção da sociedade".
mais do que com a evolução darwinia- latinamente o controle e ficarão tam
na — mutações quase aleatórias esti bém dependentes dele. Jean-C lau d e Sim on julga incorreto
muladas por fatores quase totalmente comparar o computador a um telefone
não relacionados com a finalidade. O fato de que computadores são com ou a qualquer outro aparelho mecâ
plexos nao significa que precisam ne nico. E diz que não é verdade que no
cessariamente ser caóticos; "a comple computador só há o que foi colocado
"Q uando o sistema começa a ficar
pronto, a equipe original de autores ja xidade pode ser organizada", susten nele. Hoje, no quadro de certos progra
foi substituída em grande parte, não tou Weizenbaum, citando um enorme mas, "é impossível prever o que o com
sistema de modelo matemático, o MIT, putador vai dizer". Aos que temem a
deixando nenhuma documentação ou
a chamada documentação, que é mais que é perfeitamente compreensível, perspectiva de uma "dependência", o
complicada do que o próprio sistema. porque, ao contrário da maioria das prof. Simon responde que "toda a edu
Agora, começa um processo de cresci instalações de computação, existe uma cação é uma dependência".
mento, com o acréscimo de funções teoria por trás dele.
que nada têm a ver com a tarefa origi Em entrevista à revista Time, James Al-
Sua analogia mais expressiva é a ex bus, chefe do laboratório de pesquisas
n ar
periência em que, por apenas alguns sobre robôs do N ational Bureau of
segundos, os mestres de xadrez vêem Standard dos Estados Unidos, decla
Desta forma, o sistema é "remendado"
um tabuleiro com um jogo em anda rou: "A raça humana está no início de
e torna-se ainda mais incompreensível
mento. Diversas horas depois, eles po uma nova revolução industrial, que
do que inicialmente. A idéia de que
diam lembrar das posições exatas das igualará, se não superar, a primeira re
sempre se pode obter o impresso de
peças. Quando a experiência foi repe volução industrial, pelo seu impacto
seu programa e, portanto, dizer o que
tida com um "jogo" preparàdo artifi direto sobre o homem".
está fazendo, é falsa, afirma Weizen-
cialmente, eles não conseguiam lem
baum. Um sistema é um produto não
brar da disposição das peças, porque Bernard Chern, diretor dos programas
ápenas de seu equipamento e softw are
esta era ilógica. de engenharia dos computadores da
existente, mas também de sua história.
National Science Foundation, levanta
Computadores caóticos são perigosos, um problema fundamental. Se os ro
Conforme Weizenbaum, os perigos podendo, inclusive, deflagrar inadverti- bôs, ele pergunta, estão em condições
surgem da seguinte forma: em vez de damente um conflito atômico mundial, de fazer o trabalho do homem mais rá
ter sistemas que atendam às necessida um desastre aéreo ou uma crise finan pido, mais preciso e a custo menor dó
des de seus patrocinadores, os seres ceira internacional. que o homem faz, que fará o homem?