Page 21 - Telebrasil - Julho/Agosto 1981
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Para Bahiana expansão "F " — Por que a expansão da rede não ser arrecadados entre 1975/79, sem in
perde o fôlego acom panhou a demanda? cluir aí perdas semelhantes por conta
dos serviços interurbanos.
O empresário Luiz Carlos Bahiana, Bahiana — Aparentemente, os investi
diretor da área de telecomunicações da mentos vêm sendo feitos abaixo do ní
vel exigido para acompanhar as taxas
Associação Brasileira das Indústrias de
de crescimento da economia. Ressalte-
Material Eletroeletrônico (Abinee), a
se que, se o crescimento brasileiro esta
previsão é de "falta de telefones e de Setor: a crise de recursos
terioração dos serviços nos próximos cionar na marca dos 5% ao ano, a de
anos". manda telefônica crescerá pelo menos
8% anualmente. O ganho líquido de terminais instala
A seguir, trechos da entrevista publi "F" — Existe alguma forma de se medir dos no sistema Telebrás, em 1980, foi
cada na Folha de São Paulo, onde Bahi essa defasagem hoje? da ordem de 411 mil, correspondendo a
ana explica as razões desse novo Bahiana — Ela pode ser medida pelo um crescimento de 83% sobre a planta
quadro. aumento substancial'dás chamadas existente em dezembro de 1979, o que,
completadas por telefone/ano. Esse nú no entanto, é inferior à taxa média do
"Folha" — Quais seriam os sinais de mero saltou de 1.500 no ano de 1973 período de 74/79, que foi da ordem de
uma perda de fôlego na expansão da re para mais de 2.200, em 1980. No resto 17,4%.
de telefônica brasileira ? do mundo a carga de chamadas anuais
por aparelho varia de 500 a 1.500. A diminuição no ritmo de investimento
do sistema Telebrás em 1980 é devida a
Bahiana — Os sintomas são diversos. "F" — Sendo caras, como são, as tarifas
Alguns apontam os preços crescentes pagas pelos usuários, por que não são duas causas que se reforçam: a evasão
dos telefones no mercado negro como do aporte do Fundo Nacional de Tele
realizados os investimentos necessá comunicações, pela transferência de
um sinal evidente da demanda repri
rios? uma substancial parcela (cerca de 50%,
mida. Mas há outros. Sabe-se, por
Bahiana — Teoricamente, o custeio das em 1980) para o Fundo Nacional de De
exemplo, que dezenas de milhares de expansões, bem como os serviços de
assinantes da cidade de São Paulo pe senvolvimento e índices de reajuste
manutenção, deveriam ser mantidos tarifário inferiores aos índices de eleva
diram a transferência de seus telefones pelo pagamento das tarifas e sobretari-
para outros bairros e não foram atendi ção de preços. Ocorre, porém, que
fas dos novos e antigos assinantes. Na mesmo que o reajuste tarifário passe a
dos. Nem o serão, pois os terminais nos prática porém, de acordo com os espe
bairros desejados não existem. Esse cialistas do setor, isso não ocorre. E os ser efetuado trim estralm ente, de
número aumentará nos próximos me motivos estariam na fixação incorreta acordo com os índices ORTN e INPC,
ses, gerando uma crescente e compre das tarifas e no desvio de recursos do as perdas ocorridas anteriormente não
ensível insatisfação. Além disso, vale Fundo Nacional de Telecomunicações mais serão recuperadas.
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lembrar que hoje o atendimento dos (FNT), formado às custas das contribui
novos pedidos não chega a 70% do to ções pagas pelos usuários, mas que não Estes números nada mais refletem do
tal. O que deverá gerar um efeito cu tem sido reaplicado em seu benefício. que um posicionamento político no
mulativo, capaz de desencadear pres sentido de que, apesar de sua impor
tância estratégica, as telecomunicações
sões crescentes de descontentamento
"F " — Como assim? não são consideradas prioritárias, no
em breve, em decorrência da falta de
Bahiana — Os recursos arrecadados momento, pelos planejadores governa
telefone? e da deterioração dos ser
para o FNT, que devem somar Cr$ 60 mentais e o setor precisara esperar por
viços. bilhões este ano, pagos pelos assinan dias melhores.
tes, estão sendo desviados pelo go
M ilh õ e s
verno para aplicação em outras áreas, A indústria eletrônica tem reagido de
sem qualquer vinculação específica acordo, quer procurando diversificar
com os objetivos para os quais foram seus produtos (em aplicações de infor
recolhidos. Ou seja, o FNT passou a ser mática, som e TV), quer procurando
uma nova forma disfarçada de im novos mercados (exportação), quer re
posto. duzindo seu nível de atividades (dis
pensa de pessoal).
"F" — Isso de certa forma esvazia fi
nanceiramente o setor? O que todos almejam é o retorno a um
Bahiana — O pior é que esse quadro é ritmo de desenvolvimento condizente
acompanhado de outras limitações. As com as necessidades presentes e fu
tarifas telefônicas, segundo a lei, de turas do país, propiciado pela obtenção
veriam cobrir as despesas operacionais de recursos que facultem ao sistema
e permitir um retorno de 12% sobre o Telebrás ser auto-suficiente e permi
investimento feito. Isso porém nunca tindo que se desenvolva com recursos
aconteceu. Em 1980, por exemplo, esse próprios.
retorno foi pouco superior a 8%. Além
disso, em 1980, o valor real arrecadado A busca de uma solução torna-se cada
através da cobrança das tarifas atingiu vez mais premente, principalmente
apenas a metade do total obtido em diante dos novos desafios propostos
1972. Calcula-se, a grosso modo, que pela união das telecomunicações e da
72 73 74 75 76 77 78 79 80
em função dessas distorções aproxima informática, que o setor deverá en
Fonte: Síntese de Dados Telebrás
damente Cr$ 20 bilhões deixaram de frentar.