Page 7 - Telebrasil - Abril/Maio 1962
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O LHOYDE TELEFÔNICO MINEIRO -                     cabineiro do vagao em que eu ia, veio pe
                                                  dir-m e o auxiliasse a entender o que quê
ARTIGO MONUMENTAL DE ASSIS                        ria um passageiro, que, havia meia horaê
CHATEAUBRIAND                                     lhe falava, servindo-se de mímicas.

                 Em tôda esta enleiada história                          *
dos telefones que a Nação vê inserida, a
cada .dia, nas edições dos jornais do país               Ja eram onze horas. Pus a gravata
_ verdadeira e intricada novela que o po­         e prontifiquei-me a tirá-lo do embaraço.
vo parece nao mais compreender — cou­             Porque o interesse era apenas ouvir o
be a Assis Chateaubriand, um dos mais e           passageiro, e transmitir ao guarda a sua
minentes jornalistas brasileiros, re g is tra r,  mensagem, nao tive preocupação em iden­
na edição de 21 de março de seu "O Jor            tificá-lo.
nai", o que ocorre em Minas Gerais, em
artigo intitulado "Lhoyde Telefônico Minei­              Desde, porém, que êle se encontrou
ro ', que a seguir transcrevem os:                servido, acrescentou ao agradecimento,que
                                                  dirigiu, o meu nome. Esfreguei os olhos,
      Nac devemos perm itir que um homem          e vi que tinha diante de mim um dos
de governo da decência do sr. Magalhães           maiores empresários de telefones e ou­
Pinto, se encontre terrivelmente desfigu­         tros serviços, no Brasil.
rado, como êle anda neste caso dos tele
fones. _ O governante escrupuloso, que ê-                Êle falou-me dos apuros em que se
le e, nao poderá confundir-se com turba           achava, no momento. Eu havia sido advo
de valdevinos, que empreitou, para fins e-        gado, em São Paulo, de uma das compa
leitorais, o extermínio da livre iniciativa       nhias, das quais era êle presidente. A s ­
no Brasil. Deixemos que outros engros­            sim se explica a intimidade, em que êle
sem a quadrilha dos saltimbancos, e pe­           me colocou, acerca dos negócios, que t i­
lejemos para deixar de fóra o banqueiro,          nha no B rasil. Falava com um antigo
que e filho dileto da liv re empresa.             procurador seu, afastado havia 11 anos.

A acusação, levantada contra as com               Eu sabia a razão pela qual estava no

parhlas de telefones por nao terem aten           Rio. Entendera o governo provisório a-

dido aos apelos para a expansao dos ser           largar os favores da previdência a cifras

vicos, e o que pode haver deim proceden           pesadas. A fim de pagá-las, impunha-se

**• Somente a fazem os que agem d ê               as companhias de serviços públicos aumen

fé, ou aqueles que ignoram os ante­               tos equivalentes em suas tarifas.  ~

cedestes das relações das empresas de                    Aconselhei-o a ir ver o presidente, e
                                                  explicar-lhe a posição do contratante de
serviços públicos com os delegados do po          um negócio para exploração de um servi
                                                  ço público, por conta do Estado. A ofer
der estatal.                              —       ta é rígida. Está fixada m m contrato,
                                                  em que até os lucros do dinheiro do con
Tiveram as famílias mais poderosas
                                                  cessionário estão previstos. Na tarifa 7
desta terra companhias de serviço públi           que o Estado lhe consente cobrar, estão
                                                  previstos os encargos, e, contra esta ta­
co : Guirdes, Rocha Miranda. Apressa ~            rifa, o arbítrio da companhia, só por si,
                                                  nada pode. Ela foi determinada em con
ram -se em passá-las adiante, contanto vi         trato, e, somente por novo ajuste com o
                                                  poder público, poderá ser alterada.
?essem mais alguns anos de vida de um

trabalho normal. Porque, d irigir negó-

c*° <*5 ^Icfoae. transporte, fôrça e luz, en

tre noa, é cavar cedo a sepultura.  ~

Trazia a revolução de 30, entre os

seus objetivos escancarados, o exterm í­                 Deste modo, os onus da previdência,

nio destas companhias, fossem nacionais                        CRe ter^ a contra-partida inevitável
                                                  em uma revisão tarifária.
ou alienígenas. Nao se diferençavam os

capitais empregados. E. era facílim o, con

denando-as. executá-las. Nas m ios do go                 Santo Deus 1 Encontrei, dias m »jg tar­
                                                  de, um dos ministros m ai« brilhantes da
vêrno, está esta arma destruidora, que «T         ditadura. Espumava, furioso, contra o

a tan ía. E, é preciso não esquecer que,            gringo . Assim chamava o estrangeiro,
                                                  que procurara V argas. Eu lhe disse de
durante quinze anos, com a breve inter­           quem fo ra a idéia do "grin go" pedir au­
                                                  diência ao chefe do governo, e êle não se
mitência do período constitucional, o po­         surpreendeu. Achava que só mesmo de
                                                  um impenitente partidário do capital p ri­
der federal seria onipotente no país in­          vado nos serviços públicos, poderia partir
                                                  a ideia da r^plamação do inglês a Vargas.
teiro. Processou-se a fogo lento o ani

quilam ento do serviço público urbano, exê

cutado por particulares.                  ~

Posso dar. do estado d'alma do outu­

faris mo, a tal respeito, um depoimento con

clusivo.                                      —          P o r s e r um engenho deveras minucio
                                                  80, relembrou, ali mesmo, a campanha,em
Eu viajava, em janeiro de 1931, num               que me empenhei dez anos antes, contra

noturno do Rio para São Paulo, quando o
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