Page 30 - Telebrasil - Junho/Julho 2002

ESPECIAL
Brasil: recuperar

a tecnologia

A nova economia agrega o conhecimento aos tradicionais fatores de produção. A discussão passa pela
educação e pela aplicação pragmática do conhecimento. O País precisa de um "choque tecnológico".

Jarl Bengtsson Maria Heloisa Guimarães de Castro
Diretor do CERI (OCDE-Paris) Secretária-executiva do MEC
A economia Ensinar
do Conhecimento a Pensar

O conhecimento aplicado à produção, bem como sua O que é formar cidadãos para a Sociedade da Informação?
disseminação e uso, está no coração da economia do O Brasil diploma 6 mil FtiDs e 24 mestres anualmente. Na
conhecimento. É preciso descobrir o conhecimento na população de 18 a 24 anos, apenas 15% estão no ensino
informação e a sabedoria no conhecimento. superior (menos que Peru e Bolívia); e na de 15 a 17 anos,
33% estão no ensino médio. São 60 milhões de alunos da
creche à pós-graduação.

A economia do conhecimento passa pelo papel dos sistemas A Coréia, na década de 60, universalizou sua educação
de educação e instrução. Existem o know-what (a visão do primária; e nos anos 70/80, a educação média. Aqui é pre­
mundo que vem pelo sistema educacional), o know-why ciso reformar os currículos em todos os níveis de ensino de
(os fundamentos das coisas), o know-how (o saber fazer) e modo a inserir o cidadão no mercado de trabalho.
o know-who (quem sabe fazer), além do conhecimento
explícito (divulgado) e tácito (os segredos de pai para filho
nas empresas).

A educação atual é para o antigo modelo da economia Ensinar a pensar (linguagem, matemática, educação artística
industrial. Hoje, é imperativo o aprendizado contínuo para e cívica) e não mais enfatizar o decoreba. Um dos desafios é
todos. É um esforço público, privado e individual que vai qualificar professores. As medidas são de LP. Uma reforma
requerer uso maciço de tecnologia da informação. curricular leva de 10 a 15 anos para chegar à sala de aula. O
Programa de Informática na Escola depende da liberação
dos recursos do Fust, absurdamente parado.

A infra-estrutura do sistema educacional mundial está sendo As grandes universidades públicas são as âncoras da
abalada rumo a mais know-why, know-how e know-who. produção científica, mas no curso superior é preciso
Morre o monopólio do conhecimento a ser substituído pela diversificar os cursos tradicionais, através da cooperação dos
produção, intermediação e utilização do conhecimento num setores público e privado.
ambiente de oferta-procura.

Inovar é difundir novas tecnologias na economia, espetacu­
lares ou não. 0 espírito inovador reside na totalidade da so­
ciedade. 0 sistema de inovação de um país envolve atores,
instituições e seus relacionamentos. No Brasil, o sistema de
inovação está defasado, e isto se reflete na competitividade
de sua economia. Aqui, a produção de patentes ainda é baixa.
Hã distorções no sistema de P&D (apenas 1 % do PIB), o Estado
banca 70% e o setor privado, 30%, com São Paulo detendo
a metade. (Jean-Eric Aubert - Banco Mundial)