Page 15 - Telebrasil - Junho/Julho 2002
P. 15

Universalização                  no  Fust  foi  a  perda  de  recursos.  “O   de baixa renda -  previu, em julho de
                   Edmundo  Matarazzo,  superin­  Governo contingenciou R$ 1,1 bilhão   1997, recursos complementares. Estes
                tendente  de  U niversalização  da   do  Fust que poderiam  ser utilizados   viriam  (LGT art.  81)  do Orçamento
                Anatei, lembrou que “a infra-estrutura   para  compensar  perdas  de  arreca­  Geral  da  União,  dos  estados  e  dos
                aqui  instalada pertence à União e ao   dação da CPMF”.            municípios  (nunca  vieram) e  de  um
                País e que a grande fonte da univer­  Durante  o  5.°  Debate  Telecom   fundo  específico  (o  Fust).  Somente
                salização foram os contratos de con­  sobre Universalização dos Serviços, da   em julho de 2000, nascia o Fust (Lei
                cessão”. As concessionárias terão seus   Plano Editorial, foi lembrada a figura   9.988),  regulamentado  dois  meses
                contratos renovados ao final de 2005,   do subsídio cruzado. Tal recurso, hoje,   depois  (Decreto  n°  3.624).  O  Fust
                por um período de 20 anos, e haverá   não  é  mais  possível  (o  serviço  que   revelou ter cunho altamente político
                novos  planos  de  licenças  e  de  ser­  subsidia perde competitividade) e há   (veja box).
                viços.  A Anatei,  desde já,  contratou   que recorrer a outros mecanismos.  Na  área  de  telecomunicações,  o
                uma  consultoria  para  auxiliar  na   Sílvio  Genesini,  presidente  da   Fust objetiva prover telefone para 8,5
                modelagem dos novos contratos.   consultoria Accenture,  vê  a  univer­  mil lugarejos (até 100 habitantes), 142
                   Na ótica do Legislativo, o deputa­  salização  dos  serviços  como  uma   mil  comunidades  rurais  isoladas  e
                do federal Alberto Goldman (PSDB-   equação a ser resolvida entre oferta,   para a população com renda mensal
                SP),  relator  da  LGT,  disse  que  o   demanda  e  preços  adequados.  O  de meio salário mínimo. As conces­
                plano de metas na renovação das con­                               sionárias,  com  os  recursos  do  Fust,
                cessões “não poderá diminuir o aten­  Fust é                       implantam  a  infra-estrutura,  cujo
                dimento à demanda por telecomuni­  ser político                    serviço passa a ser pago mensalmente
                cações que o País exige”,                                          pelo usuário.
                                                   Os recursos do Fust, basicamente, pro­
                   Ércio  Zili,  diretor  de  Regula­                                 Refletindo  o  descontentamento
                                                   vêm da taxação de  1 %  da receita ope­
                mentação  da Telemar, observou que
                                                   racional  bruta  das  concessionárias,   geral,  Mário Cesar de Araújo, presi­
                a universalização é de cunho político   excluídos  ICM S,  PIS/Cofins.  Certas   dente daTCO, afirmou que “as idéias
                                                   operadoras  prefeririam  que  1 %  fosse
                e visa fornecer telecomunicações, onde                             e as metas do Fust são corretas mas
                                                   o  teto  e  não  a  alíquota  do  Fust.  As
                as forças do mercado não o fariam. “A   concessionárias  recolhem  o  Fust  -   o   que, na prática, elas não acontecem”.
                universalização acontece sem  o  Fust.   usuário paga o Fundo e os impostos -    Segundo Sílvio Moreira, da UFPe, “o
                                                   e o  repassam  ao Tesouro Nacional.
                Este prejudica a competição e onera as                             Fust é mais uma lei que não pegou”.
                                                   O Fust está  longe de ser politicamente
                concessionárias. Não há precedente de   inerte. Comentários alfinetam que o di­  Já Vanda Scartezini, da Secretaria de
                fundos (como o FNT) bem- sucedidos”.  nheiro do  Fust,  quando  parado,  ajuda   Política de Informática do Ministério
                                                   o  equilíbrio  das  contas  públicas;  e
                   Eduardo Navarro, vice-presidente                                da Ciência e Tecnologia, acha que “a
                                                   quando é aplicado, permite ao Governo
                da  Telefônica,  lembrou  que  a  pene­  mostrar serviço "pelo social", num mo­  questão do Fust se tomou complexa
                tração do serviço local em São Paulo   mento eleitoral.            pela radicalização das partes”.
                                                   Quem perde com o atraso do Fust são
                atingiu  37%,  em apenas  cinco anos.   os que poderiam receber benefícios de   Rogério Furtado,  diretor setorial
                Cerca  de  35%  do  serviço  local  sub­  seus programas.          da  Abinee,  elogiou  o  Fundo  cujos
                sidiam, na prática, os usuários de me­                             “projetos  alocados  são  meritórios”.
                nor consumo. “Vamos ter tarifas dife­  modelo  brasileiro  falhou  no  quesito   Porém,  lembrou o destino inglório do
                renciadas  ou  subsídios  explícitos?”,   competição do serviço local, com as   Fundo Nacional de Telecomunicações
                indagou Navarro, observando que “é   incumbents detendo 98% do market   -  FNT -, que acabou sendo absorvido
                preciso equilibrar ônus e bônus”.  share. Quanto ao pré-pago, utilizado   pela máquina do Governo.
                   Em sintonia, José Carlos Cunha,   no serviço celular, constituiu um fator   Analisando  o  Fust  em  profun­
                presidente da  Intelig,  comentou  que   de  universalização.  Para  Carlos   didade, João Santelli Jr, presidente da
                a pergunta da universalização é: o que   Rocha,  diretor-geral  da  Samurai,  o   Spectrum  Latino  America,  resumiu
                o usuário quer? A universalização e a   segundo maior desejo de consumo das   que uma  política de universalização
                competição  andam juntas  e  o  Fust   classes D e E é o acesso à tecnologia   se  destina  àqueles  que  não  seriam
                deveria  estimular  a  competição  ao   da informação.             normalmente atendidos pelo mercado
                promover a universalização.                                        e  cuja aplicação  depende  de  fatores
                   Para  Purificación  Carpinteyro,   impasses                     populacionais, de renda e da geografia
                vice-presidente de Serviços Locais e   O  modelo  brasileiro  da  univer­  de cada situação.
                de Assuntos Externos da Embratel, o   salização  do  serviço  -   para  áreas   O Reino Unido adota, desde 1997,
                que  resultou  da burocracia  utilizada  rurais, periferias urbanas e população  taxas de definição de acesso (TDAs)
   10   11   12   13   14   15   16   17   18   19   20