Page 40 - Telebrasil - Setembro/Outubro 2000
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Ives Gandra da Silva Martins
0 sistema tributário brasileiro é iníquo. 0 Estado destrói empresas e cidadãos para sustentar estruturas
arcaicas, burocratas e políticas e não presta serviços públicos. Os tributos são retirados dos contribuintes
para manutenção dos privilégios de aposentadoria e de poder dos enquistados nas 5.500 entidades
federativas, que conformam um Estado eminentemente canibalesco.
a Argentina, a carga tributária é sim é que PIS e Cofins levam o Brasil a Por esta razão, o
dc 22%; no México de 16%; nos ser o único país civilizado a condicionar a impasse da reforma
Estados Unidos c de 27,9; e no exportação de produtos à exportação de pode e deve ser lan
Japão de 28,5%. No Brasil, segundo da tributos, o que retira a competitividade cetado, a meu ver,
dos da Receita Federal, é 30,32 do PIB, nacional no comércio exterior. Aqui se tri- com a adoção —
mas, de acordo com analistas privados, ul- buta a circulação de dinheiro, tornando-o numa primeira etapa,
trapassa 33%. mais caro e dificultando a geração de em pelo menos — da do
Nos EUA e no Japão, americanos e pregos e empresas, pela descompetitivi- so ne ração das ex
japoneses recebem em troca serviços pú dade que cria com produtos estrangeiros, portações, eliminan
blicos dignos. Na Europa, principalmente os proveni do-se a cumulativi-
cm que ela varia de 35 a entes de países a que o dade do PIS, Cofins
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55%, conforme o país, os A reforma tributá Brasil oferta tratamento e CPMF.
europeus não precisam se preferencial. For estas e Neste sentido, as
preocupar com saúde, apo ria impõe-se, mas há muitas outras distorções, o conversas que man
sentadoria, educação, cm sistema tributário brasilei tive com Abram
pregos etc., pois o Estado cinco anos nao ro é canibalesco devoran Sjazmann, Emane Galvêas, Jorge Gerdau
tudo providencia. do as empresas e os cida e Everardo Maciel sinalizam um consen
ff
No Brasil, não. Tem-se marcha dãos com deletéria e cor- so de que esta parte da reforma é viável a
carga tributária quase idên rosiva política. curto prazo. Em conversas, há mais tem
tica á européia (33 para Em face deste quadro, a po, com Germano Rigotto, Mussa Demes
35%), superior à dos Estados Unidos e Ja reforma tributária impõe-se, mas há cinco e Antonio Kandir, também eles entendem
pão, e serviços públicos inferiores aos que anos não marcha, pois todas as 5.500 enti que este ponto é crucial. O Brasil só ga
oferecem a Argentina c o México, cuja carga dades federativas, seguindo a "lei de Ger nhará competitividade internacional se de
é incomcnsuravclmcntc inferior á brasi son", querem levar vantagem em tudo, con sonerar suas exportações e se, no mercado
leira. Temos, pois, no Brasil, serviços pú cebendo projetos de "alterações" destina interno, não continuar onerando mais, pela
blicos dignos de Uganda ou Ruanda, po dos a aumentar seu poder impositivo e não cumulatividade, os produtos brasileiros
rém pagamos tributos em nível semelhan a melhorar o sistema e fazer do tributo uma que os estrangeiros.
te ao dos países europeus! alavanca para o desenvolvimento. Se todos estão de acordo, é de se per
No canibalismo tributário, que carac O Governo federal não deseja perder guntar: por que não partir, decididamente,
teriza a política fiscal brasileira, o Estado receita e não quer abrir mão da cumulati- para uma solução imediata e fácil de apro
desincentiva a educação, não permitindo vidade de PIS, Cofins e CPMF. Os esta vação de uma emenda constitucional ca
senão em parcela ínfima a dedução das dos não querem abrir mão da guerra fiscal, paz de iniciar a desbestialização do siste
despesas com instrução. A política tribu apesar da notória inconstitucionalidade ma tributário brasileiro?
tária brasileira aposta, portanto, no em- das leis que a veiculam, e os municípios E a pergunta que todos os brasileiros
burrecimento nacional, punindo quem desejem aumentar sua participação no estão fazendo.
busque ter melhor instrução, gastando bolo tributário.
mais com educação — que o Estado não Nos cinco anos de discussão, apenas os
oferta — pela vedação em deduzir as des- contribuintes têm sido alijados das discus- Ives Gandra da Silva Martins é professor
emérito das Universidades Mackenzie, Paulista
pesas correspondentes. sões. A selvageria tributária, portanto, tem
e da Escola de Comando e Estado Maior do
O Estado brasileiro tributa as exporta- devastado o País, que progride lentamen-
Exército, presidente do Conselho de Estudos
ções, porque não aposta no desenvolvi tc, graças ao incomensurável esforço dos
Jurídicos da Federação do Comércio do Estado
mento do País, mas apenas na manuten- cidadãos, nada obstante as amarras impa- de São Paulo e do Centro de Extensão
ção dos privilégios dos governantes. As- trióticas impostas pelos governos. Universitária — CEU.