Page 24 - Telebrasil - Julho/Agosto 1999

Conjuntura
S e t o r
João Carlos Pinheiro do Fonseca
ensino brasileiro poderá ser a
O Cefets e a Lei 5.692 foram reformulados
luz que brilha ao fim do túnel
da grande demanda do setor de
telecomunicações por recursos humanos
qualificados. Este seria mais um lugar-co­
mum, caso não se ouvisse o discurso rea­
lista e otimista de Raul Valle Jr., diretor
do Programa de Expansão Profissional do
Ministério da Educação.
Antes o analfabetismo era tido como o
grande problema do Brasil, Hoje, 96% tias
crianças brasileiras entre sete e 14 anos
frcqüentam a escola graças ao Fundo de
Desenvolvimento da Educação Funda­
mental c Valorização do Magistério -
Fundef. O Programa de Informática no
Ensino - Proinfo - se destina a
informatizar o ensino fundamental c au­
xiliar na reciclagem dos professores. Onde
estará, então, nosso problema?
No ensino médio, há investimentos do
Banco Interamericano de Desenvolvi­
mento - BID - no valor de USS 1 bilhão.
“Quanto ao ensino superior, ele está sen­
do aprimorado pela aplicação dos provões
de avaliação”, disse Raul Valle Jr.
A educação profissionalizante - que su­
pre o País com técnicos - evoluiu ao lon­
go de duas vertentes. Uma delas, a das
escolas federais stricto scnsu\ e a outra, do
acréscimo de conteúdo profissionalizante
(Lei 5.692) ao ensino regular do 2C grau.
A s o r i g e n s
O ensino federal na formação profissi­
onalizante teve origem nas Escolas de Ar­
tífices c Aprendizes criadas no Governo
de Nilo Peçanha e que se destinavam a
“dotar órfãos e deserdados da fortuna com
uma profissão”. Posteriormente, tais es­
colas evoluíram para os Centros Federais
de Educação Tecnológica - Cefets.
n e c e s s i t a d e p r o f i s s i o n a i s
0 Brasil gradua cerca de 350 engenheiros em telecomunicações
e 500 alunos em escolas técnicas. A demanda reprimida para
o setor é estimada em 25 mil profissionais.
Segundo Raul Valle Jr., o esquema
em 1997 por serem falhos. Os Cefets
atendiam à classe privilegiada dos que
queriam um ensino gratuito de bom ní­
vel e não necessariamente buscavam uma
profissão. Já a Lei 5.692 apenas acres­
centou conteúdo profissionalizante ao
ensino de 2U grau e não conseguiu aten­
der ás necessidades do mercado.
O aluno de uma escola profissional fe­
deral passou a custar l ISS 4 a 5 mil anu­
al mente, ou seja, seis vezes mais que um
do ciclo básico. Dos 6 milhões de alu­
nos cursando o 2° grau, os Cefets exis­
tentes - muitos deles criados por
apadrinhamento político - atendiam
apenas a 100 mil.
A partir de 1998,
mudou o perfil da
educação profissio­
nal no Brasil. Ago­
ra, o aluno que ti­
ver terminado o 2C
grau poderá cursar
18 meses adicionais
c sairá como um
profissional habili­
tado para o merca­
do de trabalho.
Raul Valle Jr.
afirmou que a edu­
cação profissional
transcende a da
simples responsa­
bilidade do Governo federal e que ela
deve contar com a participação de toda
a sociedade.
Fruto do levantamento do M E C ,
emergiu o quadro brasileiro do ensino
profissionalizante na área governamen­
tal. Um primeiro bloco é constituído pe­
las empresas federais e que são 137 ao
todo. Essas manterão um ensino sepa­
rado da educação regular.
E n s i n o p r o f i s s i o n a l
O outro bloco do ensino profissiona­
lizante é o da rede existente nos estados,
fruto da Lei 5.692. O levantamento
mostrou que essa rede de ensino pro­
fissional mostrou-se incipiente e volta­
da para as carreiras que exigiam pouco
investimento para sua constituição, como
contabilidade e secretariado.
- Agora são os estados que dirão de
suas necessidades específicas para cri­
ar Centros Vocacionais Tecnológicos
que incluirão laboratórios de física,
química, eletrônica, mecânica e biolo­
gia, explicou Raul
Valle Ir.
O Programa dc
Expansão e de
Educação Profissi­
onal Brasileiro -
Proep - tem como
suporte recursos de
US$ 250 milhões
de um empréstimo
do BID, acrescidos
de USS 125 mi­
lhões do Fundo de
Amparo ao Traba­
lhador - FAT.
Raul Valle Jr.: "A educação profissional transcende a
simples responsabilidade do Governo federal" Raul Valle Jr. en­
fatizou que surge
agora um novo clima de parceria entre
os diversos protagonistas do ensino pro­
fissionalizante, como o Senai, Senac, es­
colas federais e sindicatos. Fruto dos re­
cursos do Proep, começaram a surgir ini­
ciativas, como em Caxias do Sul e Flo­
rianópolis.