Page 42 - Telebrasil - Março/Abril 1999
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P o r q u e n a a a s t o r e s ?
Dulce A. Santos
nitas? Agridem? Fazem mal à saúde?
Q uando aqui cheguei, muito já se São perigosas? Os especialistas afirmam e a obras de conservação em condomíni
os residenciais, são cada vez mais fre-
construíra em Brasília e mui
to ainda estava a caminho. Vin que não. Não são perigosas, não fazem qúentes. Já se instalam até c o n t a m e n
da de uma cidade onde mare montanha mal à saúde, não são exatamente boni subterrâneos e utilizam-se projetos pai
se alternam no horizonte, a vastidão do tas, mas podem embelezar seus arredo sagísticos que amenizem sua pesada es
planalto e o silêncio do cerrado ainda in res. Vieram em missão de boa vontade, trutura. Tudo resultado de um genuíno
tocado me incomodavam. Olhava o hori trazendo desenvolvimento, empregos, empenho em atender aos anseios da co
zonte e buscava algo que quebrasse a mo atividade produtiva e comodidade a munidade e dos ecologistas mais radicai*.
notonia da paisagem absolutamente es uma grande parcela da humanidade que Colocar-se em harmonia com o meio
tirada. O tão falado pôr-do-sol enchia- precisa de comunicação ágil. Não che am biente não atemoriza ou atrapalha a
me os olhos, mas até que ele chegasse, a gam a agredir, se inseridas no plano u I prestação do serviço de telefonia celular
imensidão plana me subjugava. banístico adequado. Tem-se disponibilizado o benefício da
Acostumei-me à terra vermelha c r Nós a chamamos torres. Os técni telefonia móvel a um número cada vez
plana, de onde só despontavam alguns cos as chamam ERBs, ou estações maior de pessoas, sem com isso agredir-
prédios comerciais e as superquadras radiobase de telefonia celular. Indis se significativamente o meio ambiente.
42 com seus edifícios residenciais gabari pensáveis às redes de telefonia mo Como resid en te e quase pioneira
tados uniformemente e suas árvores jo vei, provpcam calorosos debates onde de Brasília, não considero as torres
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vens, que, na época, mais pareciam ar quer que sejam espetadas, especial- um m onum ento à mãe natureza, mas
bustos, Tudo bem desenhado e smlé m ente em cidades planejadas como nem tampouco acho que elas sejam o
trico. A té a chuva me parcáia Brasília. Muitas ve/es atacadas por bichopapão que m uitos querem indi
sim étrica.V inha torrencial, pesada, eontum a/cs usuários de telefone cé car, M uito mais nefasta e agressivaé
a poluição visual causada pelos me
p i c suo bem -vindas
reta. Podíamos vê-la chegando. Nada
lula t , nem s e m
Telebrasil se interpunha entre nós. Era preciso quando próxima*! » seus quintais ou donhos letreiros que anunciam esta-
que agosto chegasse e com ele os ven
bckvim e.ntos com erciais e estão m-
visíveis de sua janela. Conciliar pro
tos forres que formavam pequenos ro-
st ando as cidades brasileiras. Para
damoinhos de pó vermelho. Surgiam gresso tcenologico com meio uinbion- e ltJ I letreiros cham o a atenção dos
1 1 i onsi itui o gt mde dt dio M edi
onde quer que houvesse espaço para das ionerei js tem sido tomadas nes ecologistas de plantão. Circular pe
suas brincadeiras de roda. Eram unvs ale te sentido. Certificados dc las quadras com erciais dc Brasília-a
gres intrusos que brotavam do solo para com petentes como IBXMAHPI1AN, pé ou de carro - tornou-se um pesade
I -j* I
quebrar a sempre monótona paisagem. sçcrctanas estaduais e municipais de lo tantas são as cores berrantes c tan
I loje aquilo que não passava de arbus Obras tornaram-se obrigatórios. N e tas são as letras garrafais nas facha
tos transformou-se em árvores adultas. Os gociações com prefeituras, adm inis das das lojas e nas calçadas. Por se
edifícios continuam gabaritados, mas para tradores regionais, escolas, associa rem tantos e tão absolutam ente agres
elas não valem gabaritos. Crescem de to ções de bairros têm sido uma cons sivos, tais letreiros conseguem ape
das as formas e chegam a qualquer altura. tante no planejam ento e construção nas confundir. Para não dizer o quan
Aprendi a conhecê-las e a reconhecer a éjx>- das ERBs dc qualquer operadora dc to podem ser perigosos, na medida em
ca do ano de floração de cada uma delas. telefonia celular. Nada se faz sem a (jue atrapalham igualm ente a visão
Coloridas, altas, baixas, esguias, gordas. aprovação de todos os órgãos e seg do m otorista e do pedestre.
Integram-se ao sinuoso desenho d$s sujscr- mentos da sociedade envolvidos. Convido então os planejadores urba
quadras e dele não destoam. São quendas Cada vez toma-se mais cuidado na nos, ecologistas, administradores e asso
e mais que bem vindas. ' sJ m hora dc expandir uma rede e selecio ciações de bairros a um exame conscen-
E aí chegaram as torres. Alheias !i nar loc ais para uma nova torre. Nem cioso do dano que esses letreiros estão
comunhão reinante, mais pareciam sempre chcga-se a um acordo com a trazendo ao meio ambiente. Que olhem
coisas de ficção científica. Estranhas rapidez desejada pelas operadoras, para as torres, que zelem para que elas
torres que, dizia-se, permitiam que se mas é inegável que todas esrão cada nãoSejam mais um agressor, mas não fe
falasse através de telefones sem fio. vez maW: em p en h ad as emi trazer chem os olhos a reais poluentes e possí
Que direito tinham de invadir a cida progresso sem agressão. ' ^ veis predadores. .As torres trazem progres
de e quebrar a harmonia? O progresso e o Contratos que éondicionam a insta so. Eos letreiros? Muita poluição visual
avanço tecnológico lhes concedem o di lação de uma torre abenfeitorias nas cer e, se depender de mim, poucas \ endas—
reito, disseram as autoridades. São bo canias, a melhorias em escolas públicas * Dulce A. Santos é jornalista
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