Page 34 - Telebrasil - Julho/Agosto 1992
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Informática Brasileira, sem Reservas
Informática é um fabuloso negócio. Mas, qual é a sua real dimensão?
Com o término da Reserva de Mercado para o hardware, em vigor a partir
de outubro deste ano, o mercado brasileiro de informática terá que nave
gar - se já não o faz - em outros mares.
Numa visão geral, o consumo da in
futuro da indústria brasileira de
0 formática se divide assim: 39% nos
so ftw a re foi objeto de discussão du
rante a lnRio92, promovida pela As- EUA, 35% na Europa, 23% na Ásia e
sespro-RJ. Das quatro mil empresas 3% no restante do planeta. O Brasil
existentes na indústria nacional de in representa 1% dos negócios mundias
formática, a Assespro Nacional con na área de software.
grega 550. Uma - indústria relativamente no
"A empresa brasileira produtora de va, a informática - em apenas quatro
so ftw a re precisa exportar, se quiser décadas é o terceiro faturamento do
crescer e sobreviver", disse Fábio Ma mundo, depois da indústria do petró
rinho, vice-presidente da Assespro e leo e dos serviços de infra-estrututu-
diretor do grupo empresarial IBPI. As ra, aí incluídos o mundo das teleco
pressões nas rodadas do Gatt são na municações. Do ponto de vista estru
direção da queda das barreiras alfan tural (e n o ja rg ã o in fo rm á tic o ), progra
degárias na área de serviços. Há for mas aplicativos de computação "ro
mação de blocos económicos para me dam" em máquinas e plataformas uti Brazil com "Z” dá mais Ibope.
lhor competir. A hegemonia dos paí lizando o s o ftw a re b á sico . Este é um
ses desenvolvidos é um fato. O papel programa necessário para acionar os lado, mudanças de arquiteturas - co
econômico do Estado está se reduzin circuitos de microeletrônica e os dis mo passar de processadores que ma
do. Exportar significa não só ter pro positivos de mecânica fina, que em nipulam 8 e 16 bits por vez para os de
duto de qualidade - uma exigência mun conjunto formam o h a rd w a re . Famí 32 bits - podem levar de roldão firmas
dial - mas ter vontade política de ir "lá lias do máquinas e de programas são produtoras de software que não se atua
fora” procurar negócios, resumiu o exe organizadas em arquiteturas físicas e lizaram.
cutivo. lógicas e em ambientes computacio
- E citou alguns dados: em termos nais, nos quais o usuário "navega" à Reserva
mundiais, o mercado produtor de soft procura da informação. Tudo isto vi
ware é dominado pelos Estados Uni sa. em resumo, o conforto - e os dó José Pereira, presidente da Asses
dos alcançando 100 bilhões de dóla lares • do cliente final. pro Nacional, disse que a reserva que
res em 1990. Com elevadas taxas de "O software tende a ficar indepen
crescimento, este segmento da indús dente das plataformas de h a rd w a re , acabou foi a da indústria de hardware,
mas que permanecem em no País ou
tria de informática espera chegar ao que podem ser compradas, hoje, em tras reservas de fato, como a automo
ano 2000 com faturamento mundial muitos fornecedores", observou Fábio bilística. Fábio Marinho observou que
de 400 bilhões de dólares. Programas Marinho. Segundo o empresário, fa a pretensa reserva de s o ftw a re nunca
e serviços de computador são consu mílias de computadores evoluem em
midos na seguinte proporção: 52% pe sucessivas gerações - em realidade di funcionou e que poucas empresas re
los EUA, 29% pela Europa, 17% pela tadas pela evolução dos c h ip s microe- correram com sucesso ao mecanismo
da similaridade para coibir a entrada
Ásia e 2% pelo "resto" do Mundo. letrônicos - que dão oportunidades a
Mas 73% da programação consumida novas firmas de s o ftw a re se estabele de programas estrangeiros no País.
são produzidos nos Estados Unidos. cerem com novos produtos. Por outro Quanto ao h a rd w a re , “ o s produtos de
fora, tecnologicamente mais atualiza
dos, chegam aqui mais baratos que
os fabricados no país. Com a carga
fiscal imposta à nossa indústria, o com
putador local sempre sairá mais caro
que o importado", concluiu , acres
centando que mesmo no caso da im
portação legal a carga é alta, estimu
lando o contrabando de equipamen
tos, pelo que chamou de "empresá
rios de fronteira".
V Fazendo um balanço da reserva de
informática, Fábio Marinho disse ain
da que a reserva do h a rd w a re foi uma
^focinio: sinalização do Governo para criar uma
indústria de ponta no País, algo que
não funcionou, visto a falta de pesqui
sa e desenvolvimento tecnológico por
parte da indústria nacional. A reserva
serviu para criar uma "massa crítica"
de técnicos e especialistas que dina-
(E-D) José Pereira (PR Ass. Nacional;, I. Goldman, F. Marinho, Sérgio Basílio (MP Assespro; misaram o mercado e para enriquecer
e Nelson Gorinl (SPA). alguns empresários. O fim da reseva