Page 24 - Telebrasil - Maio/Junho 1990
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entrevista exclusiva
R ä u b e r p r e v ê o f i m d o “ B u r a c o N e g r o ”
J.C. Fonseca
Joel M arciano R auber, Secretário TB — O que significa a palavra privati de uma possibilidade que, juridica
Nacional de Comunicações, conce zação para o Secretário Nacional de Co mente, está sendo estudada no Minis
deu entrevista exclusiva à Revista municações? tério. Além do forte corpo jurídico exis
JR — Privatizável é tudo que não está tente no Ministério da Infra-Estrutura,
Telebrasil, no g a b in ete da d ire garantido pela Constituição. A opera estamos gerando um grupo de trabalho
toria regional da ECT, no Rio de Ja ção de TCs Públicas pertence ao Estado, dotado de advogados, até de outros Mi
neiro. Praticamente, na m esm a oca mas há uma área cinza ao se tratar de nistérios, para estudar a interpretação
sião, estava confirm ando a Joost coisas periféricas, como serviços limita das leis na área de TCs.
VanD am m e e a Carlos de Paiva a dos ou público limitado.
nom eação de am bos, resp ectiva TB — Poderia comentar sobre a reorga
m ente, para P residentes da Tele- TB — E quanto à área cinza? nização das operadoras de TCs?
brás e da Em bratel — uma nomea JR — Estamos juridicamente interpre JR — Quando fui convidado para o
ção que caracterizou como de cará tando esta área verificando o que pode cargo, a medida provisória referente à
ter técnico. Da regionalização do se ou não ser privatizado. Estamos tam criação de empresas regionais já estava
pronta. Nos primeiros dias, trabalha
bém verificando a participação que o ca
tor, às perspectivas para concessões pital privado pode ter mesmo nas em mos para deixar prontas alternativas no
na área de radiodifusão, passando presas exploradoras do serviço público sentido de substituir a medida provi
por correios, política industrial e de garantido pela Constituição. Para as sória regional, caso necessário. Basea
pessoal e toda uma gama de assun operadoras perm anecerem públicas mos o estudo na premissa que uma em
tos, Joel Rauber mostrou-se nota basta que 17,5% do capital votante seja presa se viabiliza a partir de 1 milhão de
velm ente informado sobre o setor de da União. Nossa intenção é procurar es terminais. Logicamente, dentre as em
telecomunicações e absolutam ente paço para maior participação do capital presas sugeridas, algumas não alcan
seguro dos objetivos que pretende privado em TCs. çam esta quantia, mas com o atendi
atingir. mento da demanda reprimida elas logo
TB — E de onde virão recursos? alcançarão este valor.
JR — Do Tesouro é aue não virão. O
Banco Mundial (Bird) está enviando TB — Foram sete ou foram nove empre
uma missão para discutir em Brasília, sas regionais?
Telebrasil — Como gerenciar o setor de em meados de maio, recursos para in JR — Foi encaminhado ao Congresso
TCs em período de baixa liquide/ na eco vestimentos em TCs. Estamos, por ou plano para sete empresas regionais.
nomia? tro lado, com perspectivas, assinalados Durante a tramitação, por influência
Joel R auber — É um desafio â criativi inclusive pelo Ministério da Economia, principalmente da bancada nordestina,
dade e o setor deve ser repensado. Um para um crédito de 1,5 bilhão de dólares/ cindiu-se a Região do Nordeste em duas
fato comercialmente interessante — ano para os próximos guatro anos. Ape empresas regionais. Ao ser acrescen
apesar do desgaste que traz ao setor — 0 nas sabemos que a fonte não será o tada a CRT (do Rio Grande do Sul) fica
a existência de uma demanda reprimida BNDES. A nossa grande fonte de recur mos com nove empresas e que coincide
estimada em 6,5 milhões de telefones. sos, no entanto, é o usuário e a demanda com a área de numeração fechada do sis
Por outro lado, temos uma capacidade reprimida. tema telefônico. Apenas uns poucos Es
industrial aqui instalada da ordem de 1 tados da Federação, como Acre, Rondô
milhão de terminais/ano que nunca foi TB — Voltando à área cinza, poderá ha nia e Maranhão divergem do esquema
completamente utilizada. ver no Rio ou em São Paulo outra em de numeração, mas nada impede que
presa, além da operadora estatal, para convênios operacionais possam ser fei
TB — O que é repensar o setor? explorar telefonia móvel? tos entre as empresas para resolver o
JR — Ao repensar o modelo do setor de JR — Este é o modelo americano para impasse.
TCs temos de verificar que, ao inverso criar competitividade. Trata-se apenas
do que acontece lá fora, a tarifa aqui é TB — E as capitais-pólo?
um terço a um quinto do que se cobra no JR — Tecnicamente já estão definidas.
exterior para serviços semelhantes, e o As empresas ainda não têm nome defi
preço do terminal, aqui, é quase o dobro nido e a Telebrás deverá instituir um
do que é internacionalmente aceito. En concurso para nomeá-las. Há por exem
tão, à primeira vista, parece que o setor plo regiões, como no Nordeste, em que
público, apesar de ter mais mão-de-obra Ceará e Pernambuco disputam tecnica
e comprar mais caro, consegue prestar mente a primazia como sede de região e
serviço de modo mais barato do que lá nós não temos ainda uma definição para
fora. isto.
TB — E quanto à indústria? TB — E a Telebrás?
JR — Grande parte do material que ela JR — No novo organograma vamos for
utiliza já é originada no País, a mão-de- talecer as empresas regionais e dar toda
obra é daqui mesmo, e já temos tecnolo a parte normativa à Secretaria Nacio
gia própria, quer por iniciativa dos em nal de Comunicações e não mais à Tele
presários, quer pelo do CPqD. O que se brás. Caberá à Telebrás cuidar do sis
verifica, no entanto, é que o custo do ter tema acionário e dos parâmetros de ges
minal, como aqui praticado, torna nossa tão. Nada mais.
indústria incompetente para competir
lá fora. Nossa indústria só será adulta TB — Em br a tel?
quando atender à demanda interna, JR — Ficará cada vez mais especiali
com preços internacionalmente compe Rauber: vamos tornaras empresas eficientes zada na área internacional, onde ela
titivos.
e ren tá veis. tem se mostrado muito competente e na