Page 28 - Telebrasil - Maio/Junho 1990
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R e p e n s a n d o a s t e l e c o m u n i c a ç õ e s
H a rol d o Correa de Mattos*
permitiu às telecomunicações, conjuga
modelo atual das telecomunica
O ções públicas no Brasil vem sendo a privatização da empresa houve um au das com a informática, atender a largo
mento de 17,8% nas linhas em serviço,
muito discutido, a exemplo do que acon foram criados mais de 7.000 empregos e espectro de usuários que reclamam ser
tece no plano internacional, dado que, instaladas, no biênio 88-89, quarenta e viços diversificados, de alta qualidadee
nos últimos vinte anos, o setor de teleco quatro novas centrais telefônicas contra baixos custos. Abriu-se assim espaço
municações, compelido por poderosas apenas uma no ano de 1987. para desejável competição que o Estado,
razões tecnológicas e pelas forças do Em novembro de 1987, três respeitá com poder catalítico, disciplina e re
mercado, experim entou apreciáveis veis organizações — Banco Mundial, gula. Destarte, sobrevieram as inevitá
transformações em suas estruturas or Commonwealth Telecommunications veis mudanças estruturais nas teleco
ganizacional e de capital. O rg an izatio n , S y a rik a t Telecom municações, tradicionalmente vistas
O mais expressivo exemplo, porque Malaysia — promoveram um seminário como um monopólio natural e tidas
pioneiro, é dado pela Companhia Telefô em Kuala Lumpur, Malásia. O encontro como serviço público, dadas suas impli
nica Nacional de Espanha, privatizada se propunha a identificar as questões es cações políticas e militares e sua larga
desde 1946, reservando-se ao governo senciais ao estabelecim ento de uma faixa de usuários. Com esta ótica, o com
33% do capital, enquanto outros 22% es política de telecomunicações e a exami promisso do setor se atinha à prestação
tão no mercado internacional, negocia nar as opções que se apresentam ao de de serviços telefónicos de boa qualidade
dos nas bolsas de Nova Iorque, Paris, senvolvimento do setor, à luz das ex e a todos acessível.
Frankfurt, Londres e Tóquio. periências vivenciadas em outros Nos dias que correm a situação al-
Na década de 80, modificações seme países. terou-se substancialmente As teleco
lhantes ocorreram na Grá-Bretanha municações, historicamente tidas como
(British Telecom) e no Japão (Nippon World Bank agente passivo, em simbiose com a in
Telephone and Telegraph). Nos Estados formática. assumem função motora no
Unidos da América foi cjuebrado o mo Os resultados desse importante con desenvolvimento económico e social das
nopólio da ATT í American Telephone clave estão consubstanciados num livro. nações. Assim, os acertos ou erros come
tidos na política de telecomunicações re
fletem-se nos êxitos ou fracassos das
economias nacionais. Esta constatação
é particularmente importante para paí
ses recém-industrializados, onde a mar
gem de competitividade para um bem-
sucedido esforço de exportação e a inte
gração dos mercados domésticos, têm
estreita ligação com o setor de telecomu
nicações. Verifica-se, pois, que as trans
formações em curso afetam indistinta
mente países desenvolvidos ou em de
senvolvimento.
Em muitos deles rompeu-se o consa
grado monopólio estatal e desponta uma
atividade competitiva, apta à atender à
crescente e variada demanda de uma
clientela que permeia todos os estratos
do espectro social. Este parece, aliás, o
caminho natural no entender do profes
sor francês Yves Cannac, diretor de pes
quisas no Conselho do Estado e cola
borador dos governos Jacques Chaban
— Delmas e Valéry Giscard d’Estaing.
Em seu livro Lc Juste Pouvoir — Co
pyright 1983, Editions Jean Claude
Lattés — pode-se ler: “não existe argu
privatização bem-sucedida ". mentação consistente que justifique o
monopólio do ponto de vista do usuário"
e, mais adiante, “cada vez que ele se en
and Telegraph). Presentemente, o pro publicado em maio de 1989, com 146 pá contra diante da apologia de um grande
cesso está em curso em vários países. O ginas, formato A4, intitulado “Restruc serviço público unifícado ..., o usuário
caso chileno, entretanto, merece regis turing and Managing the Telecommu deve saber que a tese que lhe expõem é
tro à parte. nications Sector — A World Bank Sym talvez mais favorável aos interesses dos
A Companhia Telefônica do Chile posium”. O tema é abordado em 17 di dirigentes do serviço público ou de seus
(CTC), privatizada no decorrer de 1987, ferentes artigos, assinados por renoma- funcionários ou dos sindicatos que os re
depois de uma concorrência internacio dos especialistas. O trabalho enfatiza a presentam ou dos partidos que os sindi
nal, fecha o ano de 1989 com auspiciosos importância crescente das telecomuni catos sustentam ou do Estado que se
resultados. Segundo o World Telecoms cações, à medida que a atividade econô apóia nesses partidos, enfim, do Poder
Research de 26 de janeiro último, a CTC mica assume escala global e por isso se sob uma forma ou outra, mas que é con
tem hoje a mais avançada rede de tele torna criticamente dependente de am trária aos interesses dele, usuário”.
comunicações da América do Sul. Desde plo e abrangente fluxo de informações, Esta é uma das mazelas que o mesmo
processadas e intercambiadas nas múl Cannac chama de “democracia hegemô
tiplas e variadas transações de âmbito nica” e explica: “A democracia hegemô
* Ministro tins Comunicnçôofi do Governo JoAo Figueiredo, mundial. nica é, efetivamente, uma forma de de
Atualmente ó diretor dn T o le b r a s il e vice •presidente dn Tais exigências puderam ser satisfei mocracia, mas é a mais rudimentar, a
Stnridnrd E letrônicfí Nnxcido no Um do Juneiro em
J 0.0212£*f. tas graças ao avanço tecnológico que mais pobre e, também, a mais frágil. Ela