Page 29 - Telebrasil - Maio/Junho 1990
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náo é pobre de ideal! Mas o situa mal. de telecomunicação mais conveniente a saram a ter 20% das ações da Entel, a
Ela idealiza o Poder. Ela o vê, ao mesmo cada país.” Ao longo dessa linha o rela empresa chilena exploradora dos servi
tempo, mais poderoso e mais democrá tório prossegue, destacando sempre que ços de longa distância. Convém repetir
tico do que ele é — do que ele não pode as telecomunicações precisam ser vistas que em 1987 a Companhia Telefônica do
ser. Originam-se daí inevitáveis e nu como um agente do desenvolvimento Chile (CTC) havia sido privatizada.
merosos desapontamentos. Nossos de político, económico e social. Esse periódico, no mês de setembro,
sapontamentos.” No que tange ao aspecto competitivo publicava a decisão do Presidente da
Poder-se-ia a essa assertiva, cabocla pode-se ler: “A questão de estabelecer a República A rgentina de privatizar a
mente, acrescentar: originam-se, tam política mais apropriada a um modelo Entel, a em presa — estatal e mono
bém, inevitáveis e numerosos “departa competitivo não é simples, tanto mais polista — de telecomunicações do país.
mentos” só que náo m ais nossos, mas que a justificativa tradicional para o Anunciava também a intenção do go
“deles”, dos afilhados do Poder. Cum monopólio nacional das telecomunica verno mexicano de reter apenas 20% do
prem-se os cânones “franciscanos”: é ções (i.e. ‘monopólio natural’ baseado na capital da Telmex. O noticiário do mês
dando que se recebe. economia de escala) hoje náo mais pre de outubro fazia saber: “O governo hún
A inconsistência de um modelo ado valece em muitos países. Há diferentes garo parece inclinado a perm itir que
tado há mais de cem anos numa Europa mercados para as telecomunicações e di grupos estrangeiros, associados à Ma-
assombrada com o fantasm a da guerra ferenciadas modalidades de competição gya Posta, operem os serviços de teleco
que, por questões de segurança, asseme podem ser consentidas. A primordial municações do país.”
lhou os serviços telefônicos aos telegrá tarefa das autoridades detentoras do po Finalmente, o exemplar de novem
ficos e entregou sua exploração ao Es der concedente passa, pois, a ser: definir bro, comenta a deliberação do governo
tado, justapuseram -se a evolução tec o escopo e a natureza da forma de com mexicano de abrir o setor de telefonia
nológica e as incontidas exigências de petição mais adequada para promover a celular, mediante edital para concessão
um mercado em expansão quantitativa eficiência dos serviços e a sua extensão, dos serviços, quebrando o monopólio da
e qualitativa. Tais forças fizeram desen de modo a suprir as diversificadas e Telmex.
cadear grandes transformações no setor crescentes necessidades da sociedade e a Ante a copiosa documentação que ho
de telecomunicações a fim de ajustá-lo melhor servir o interesse público da na je circula, patrocinada por insuspeitas
aos novos requisitos. ção na evolução dos sistemas de teleco organizações internacionais ou publi
municações.” cada nas revistas especializadas, o mo
U IT nopólio estatal para os serviços de tele
comunicações públicas se revela ana
Outra agência intergovernam ental crônico e parece condenado. Condenado
de peso, a União Internacional de Tele pela continuada evolução tecnológica,
comunicações (UIT), fundada em 1865, condenado pelas exigências do mercado,
congregando hoje 166 países membros, condenado por uma sociedade frustrada
mostrou-se aten ta à m atéria. Em fe cuja demanda náo é atendida.
vereiro de 1989, sob os auspícios da UIT, Não poderia, ademais, ser de outra
foi publicado o relatório do Advisory forma.
Gr o u p on Te lecom m uni ca tion Tol icy, A organização herdada para explo
intitulado The Chnnging Tolecomnm- rar serviços de telefonia remonta ao úl-
nications Environment Dolicy consi timo quarto do século XIX quando Bell
deraidons for the memhers ofthe 1'1'U. inventou o telefone. Enquanto nos Esta
A título de intróito, o relatório assi dos Unidos da América o laissez-faire
nala: “0 espetacular crescim ento, a deu lugar a um monopólio privado — a
evolução da tecnologia e o crescente re ATT, na Europa optou-se pelo mono
conhecimento das autoridades nacio pólio estatal, entregando-se tais servi
nais da importância das telecomunica ços a departamentos governamentais de
ções para a economia, no seu todo, des correios e telégrafos. Esta estrutura
pertaram a atenção dos ‘fazedores de perdurou por uma centena de anos,
política de governo’ Cgovernment quando as necessidades dos usuários se
policy-nmkcrs) - que passaram a dedi cingiam a um simples aparelho telefó
car ao setor, prioritária consideração. nico ou a um teleimpressor.
Recentes m odificações e s tru tu ra is Neste último quarto de século, entre
foram levadas a cabo em diferentes paí tanto, o advento das técnicas digitais,
ses. Elas consistiram em ‘desimobiliza- da microeletrônica, dos satélites de co
ções’em alguns, privatização em outros, municação, da fibra óptica, dos micro
enfim,genericamente, liberalizações. O com putadores, da telefonia celular,
objetivo último dessas medidas é a efi abrem caminho à nova sociedade, com
ciência gerencial dos recursos e o maior Haroldo Corrêa de Mattos, M inistro das Co renovados apelos e desafios. Aliás,
acesso ao capital de investim ento, de municações do Governo João Figueiredo. desde que o mundo é mundo, as desco
forma que o setor assuma o insubstituí bertas científicas, as grandes invenções,
vel e decisivo papel que lhe compete no os saltos tecnológicos balizaram a his
desenvolvimento sócio-económico das Política nitidamente liberalizante e tória da humanidade, relegando tradi
nações.” tendente a libertar os serviços de teleco ções, desfazendo falácias, desmitifi-
“Osavanços da microeletrônica, o de municações da tutela governam ental cando dogmas, transformando, enfim,
senvolvimento das comunicações por vem sendo universalm ente observada. conceitos e valores políticos, económicos
satélite e das fibras ópticas, os micro Não caberia, neste texto, registrar tudo e sociais.
computadores, cada vez mais compactos que vem acontecendo nos países desen O problema transcende, pois, às colo
e mais baratos, permitindo distribuir a volvidos ou em desenvolvimento. Vale, cações ideológicas, às posições mani-
inteligência, fomentaram um novo ser todavia, acom panhar alguns eventos queístas, aos poderosos interesses car
viço de telecomunicação e informação pertinentes que tiveram lugar no ano de tonais, às teses e concepções do mais
que se sobrepõe aos serviços mais clássi 1989 e foram noticiados pelo informa puro idealismo, e deve ser tratado den
cos e tradicionais de telecomunicações, tivo mensal “Telecommunications De tro de um a perspectiva consentânea
questionando, portanto, o consagrado velopment Report". com as exigências dos tempos que se avi
princípio do‘monopólio natural’. A me zinham. Cumpre, pois, reconhecer que
lhor forma de levar os benefícios da tec Entel os postulados e as práticas exercitadas
nologia a segmentos cada vez maiores nos últimos cem anos, no setor de teleco
de usuários a preços acessíveis, provo O número de julho do mensário in municações, precisam, mesmo, ser re
cou o debate para a escolha da estrutura forma que investidores espanhóis pas pensadas. E a hora é esta.