Page 37 - Telebrasil - Julho/Agosto 1989
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0 presidente da Confederação das As sendo medida pelos preços que cobra por
sociações Comerciais do Brasil, Amaury seus produtos. Ele citou o exemplo do sa
Temporal, o último palestrante do XIX Pai pato brasileiro que é vendido por 8 dólares
nel Telebrasil, fez, inicialmente, uma o par para o exterior. Esse mesmo produto
análise da situação político-econômica do custa na Europa, nos EUA, 40 dólares em
Pais, considerando que o Brasil vive hoje média. "Se não tivermos inseridos nessa
trésdescontmuidadessimultâneas. E enu cadeia de distribuição não só perdemos es
merou: ‘‘A primeira é a da transição demo se valor agregado, mas também ficamos
crática que muitos imaginam que esteja com extrema fragilidade, por não contro
concluída'*. Para ele, “o Brasil ainda não larmos as variáveis mercadológicas."
viveu em toda a sua história um longo perí Lembrou mais adiante que, nos EUA,
odo de normalidade democrática". pequena ou média empresa é quem tem
A segunda descontinuidade, de acordo mais de 500 empregados. No Brasil, esse
com Amaury Temporal, é na área econô número já pode ser considerado para gran
mica, cujo modelo o País se baseou, desde des empresas. "Hoje, os EUA se encami
o final da II Guerra Mundial, na substitui nham para ter 10% de sua população eco
ção das importações, "processo esse que nomicamente ativa na indústria, 3% nos
está totalmente esgotado". A terceira des- setores básicos (agricultura, pesca, mi
contmuidade, "é que, de repente, demos neração), e mais de 60% na indústria do
conta de que não podemos conviver com o conhecimento. Esta é a realidade que te
modelo social existente, tendo uma distri Temporal, de repente nos demos conta que te mos de enfrentar. Será um mundo compe
buição de renda absolutamente fora da mos uma distribuição de renda fora da eficacia titivo no futuro.”
econômica.
realidade, do ponto de vista da eficácia - Com isso eu posso encaminhar mi
econômica". nhas conclusões: Cito a necessidade de
Em seguida, o conferencista fez uma mercado, o palestrante ressaltou que "em um projeto nacional que incorpore uma
comparação da distribuição de renda do nenhum país, à exceção da Inglaterra, por nova política industrial e evidentemente
Brasil com outros países da América La motivos óbvios, desenvolveu, sem prote tecnológica. O projeto nacional deve per
tina, tendo chegado à conclusão que o Bra ção, suas indústrias nascentes. Para tal, seguir a inovação e a eficiência. A tecnolo
sil e Peru ocupam as últimas posições. faz-se necessário que a proteção seja para gia do gerenciamento é fundamental. To
"Nós temos problemas conjunturais de in todo um setor e nào para alguns amigos do das as formas de acessar a tecnologia quer
flação, balança de pagamentos, que inclui rei. Entendemos que deve ser mantida a por geração própria, quer por aquisição,
a dívida externa, e problema de pou capacidade de formação de joint ventures. deverão ser usadas.
pança." Ele ainda falou sobre a onda de Porém, a proteção deve ser cadente, por — No entanto, a concentração de esfor
greves que ora assola o País e disse temer que se ela se mantiver num nível elevado, ços em indústrias competitivas a nível in
as consequências irracionais que elas pos ao final do período teremos uma indústria ternacional é essencial. Eu dou o exemplo
sam trazer, incapaz de competir e o prazo terá de ser da indústria aeronáutica brasileira. A au-
Mais adiante, Amaury Temporal enfati estendido". tarquizaçào do Brasil deve ser vista como
zou o desenvolvimento tecnológico dos — Nós temos de ter competitividade a fonte de ineficiência. A sociedade como
países desenvolvidos em vários setores. nível internacional. Essa é a fórmula que um todo e não somente o governo é partí
Eleachaqueo Brasil necessita de um novo Mauro Arruda recomenda para nosso mo cipe e co-responsável por nosso futuro.
modelo, um novo projeto nacional, que te delo de desenvolvimento tecnológico, com Uma atitude aberta e politicamente cons
nha vertente política, econômica e social. o qual eu concordo — acrescentou Tem trutiva é essencial. E, por último, o grande
"Nós temos que introduzir elementos que poral. desafio nacional é educação, cultura, pes-
mudem rapidamente o status quo." O ora O orador disse, ainda, que a situação do quisa, desenvolvimento — finalizou
dor disse ainda que "em todas em demo Brasil no mercado internacional está Amaury Temporal. (J.P)
cracias modernas uma das ações precí
puas do Estado é eliminar monopólios e
oligopólios".
Valendo-se de transparências, Tem I TelebfQ/il
poral explicou o crescimento demográfico A G R A D E C E
do Brasil e do resto do mundo, a questão
do desemprego, dosensinos básico, médio P a t r o c ín io
e profissionalizante, superior e pós-gra HONYTi
duação. Falou também dos desafios que a B R A C
sociedade brasileira terá que enfrentar e WMkro
que, se as elites não se convencerem de B L
que isso ó prioridade nacional, "não tere
mos condições, nem sequer imaginar su
perar esse desafio".
Quanto â auto-suf iciência, no ano de
1989 serão gastos em todo o mundo 410
bilhóesde dólares revelou Amaury Tem
poral em pesquisa e desenvolvimento.
Não temos massa crítica para termos auto
suficiência. Parece-me alguma coisa a ser
vista com muita cautela a mera menção da
idéia deauto-suficiência. O XIX Painel mostrou, mais uma vez, que é um forum de ideias e uma janela das TCs para tom a
Afirmando ser favorável à reserva de sociedade