Page 36 - Telebrasil - Julho/Agosto 1989
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S o u z a : D e f e s a d a in d ú s t r ia n a c io n a l
O diretor do Centro de Pesquisa e De pico R. Congelamos a última versão, que é
senvolvimento da Telebrás (CPqD), Fer a chamada Configuração 7, e a partir daí
nando Vieira de Souza, iniciou sua palestra não vamos mais alterar o equipamento. Es
dizendo que “a missão do Sistema Tele tamos desenvolvendo o Trópico RA. Esta
brás é propiciar à sociedade brasileira ser mudança está nos levando a modificar
viços de telecomunicações adequados ao nosso perfil do lado da tecnologia básica
seu desenvolvimento político e econô de referência” .
mico, e ao seu bem-estar social. Para isso Depois de explicar todo o desenvolvi
é necessário dispor de capacitação tec mento de tecnologia de equipamentos
nológica e industrial que assegurem a como o Trópico R e o RA, além de outros,
prestação de serviços de TCs requeridos Vieira de Souza disse que o CPqD não pode
pela sociedade, com utilização de bens e continuar no âmbito das telecomunica
serviços produzidos com tecnologia cada ções brasileiras, como o único elemento a
vez mais desenvolvida no País” . desenvolver tecnologia. “ Precisamos que,
— O CPqD funciona como uma ponte de agora em diante, os investimentos que
entre a universidade e a indústria, mas o as indústrias estão fazendo sejam também
modelo que a Telebrás adota hoje é, de feitos na montagem de seus ambientes
certa forma, o de interferir até na vocação tecnológicos e de produção. 0 papel do
da própria Universidade. Normalmente, CPqD é justamente o de transferir todo o
deveríamos deixar que a Universidade tra seu conhecimento, acumulado em vários
balhasse independentemente em suas anos, para as indústrias.”
pesquisas para que pudessem ser desen Fernando Vieira de Souza, Superintendente Em relação ao tema do XIX Painel Tele
volvidas no CPqD e depois transferidas do CPqD da Telebrás. brás i I, “ P olítica Tecnológica: Auto-
para a indústria. Porém, por sua deficiên suficiência X Eficácia” , Vieira de Souza
cia orçamentária, a Universidade neces acha que a auto-suficiência é realizável, é
sita de recursos, os quais ela chama de e 34 Mbits. Tentamos transferir a tecnolo inatingível, e o que ele poderia entender
convênio. Hoje, a Telebrás se propõe a gia desse equipamento para as indústrias, como eficácia era a busca da competitivi
colocar recursos na Universidade desde mas não conseguimos casar com os cri dade dos produtos, seja em preço ou quali
que esses recursos sejam aplicados espe térios de produção, para que as empresas o dade.
cificamente em trabalhos que vão gerar re assimilasse com naturalidade. Chegamos Para ele, se o Brasil quiser competir no
sultados diretos do interesse do setor de à conclusão que era impossível implemen mercado nacional e internacional a saída
telecomunicações — explicou o orador. tar o equipamento daquela forma” . não está na reserva de mercado, mas sim
Mais adiante, disse Vieira de Souza: — Tivemos que retornar um pouco para pela competência e pela qualidade de seus
“ No que concerne propriamente ao CPqD e discutir alguns aspectos com as indústrias produtos, já que os preços exigem outros
seu relacionamento com a indústria fica envolvidas, para que cada uma implemen fatores a serem analisados. “ Um outro fa
mos com aqueles pontos, que já foram ci tasse sua produção da maneira que elas tor de eficácia — acrescentou — seria o
tados, que é o P&D de alto risco. A indús estão acostumadas a fazer. Foi, então, desenvolvimento industrial, no sentido de
tria passaria a ter um papel importante que criado um modelo que nós chamamos de que a indústria passe a assumir um papel
é a evolução dos produtos e a participação tecnologia básica de referência e que apli que anteriormente vinha sendo exercido
crescente no desenvolvimento tecnoló camos num determinado equipamento: o pelo CPqD.”
gico” rádio digital de 900 MHz. — A tecnologia nacional tem de ser
Especificamente, no caso da telefonia, Vieira de Souza acrescentou que, “ no vista como um meio, uma forma de imple
o conferencista adiantou que "nós temos caso do telefone, as indústrias poderão re mentação de uma política industrial efi
que explorar a tecnologia muito mais e o ceber a documentação no nível de atuali caz, que fomente o desenvolvimento da
novo exemplo para isso é um equipamento zação que estava em determinada época. tecnologia no País. Isso não apenas rela
chamado Radir234, rádio digital de2 GHz A mesma coisa estabelecemos para o Tró- cionado com a obtenção de baixos preçose
curtos prazos, mas também é muito impor
tante considerar outros aspectos, que é a
criação de empregos de alto nível. Não
adianta nada, por exemplo, nós termos
convênios (ou contratos) com as Universi
dades para a formação de físicos especiali
zados em optoeletrômca, se não podemos
contar com uma fábrica a laser.
— Eu acho importante que tenhamos
uma política industrial que nos leve a ab
sorver o pessoal tecnológico de alto nível.
Caso nós importemos todos os nossos la
sers, a nossa formação de recursos huma
nos será em vão. Nós temos condições de
desenvolver sistemas especialmente liga
dos à nossa rede, à nossa realidade nacio
nal, tendo a indústria nacional e a tecnolo
gia como fonte de poder. Uma forma de
nos impor é através do domínio tecnoló
gico, quer dizer, se nós “ relaxarmos” sere
mos sempre tupmiquins — concluiu Fer
Aspecto da platéia: (E-D) José Frederico Falcão (Ericsson) e Carlos de Paiva Lopes (Splice). nando Vieira de Souza. (JP)