Page 39 - Telebrasil - Julho/Agosto 1989
P. 39

rança cultural. Somos um País patrimonia-                                                                 mento integrador da política industrial são                                                                      ficiente  mercado  interno  para  justificar


                  lista, na classificação de Weber, o que nos                                                               as diferentes alíquotas da  política  adua­                                                                      preços externos,  com  lucro  marginal.  No


                  leva a um Governo hiperatrofiado e centra­                                                                neira  e o controle  físico feito  pela  Cacex.                                                                  caso  da  fibra,  a  escala  mundial  do  con­


                  lizador e a uma sociedade fraca.  Isto é tra-                                                             Porém, deve-se ter o cuidado em não criar                                                                        sumo  vai  crescer  e  vale  a  pena  garantir


                  çocultural que irá evoluir lentamente. Não                                                                incentivos e isenções, em excesso, que le­                                                                        mercado.  Evolui-se  para  novos  processos

                  se terá, nesta geração,  uma sociedade tão                                                                vam  a  uma  situação anárquica.  Mais  im­                                                                       de  fa b rica çã o   (já  se  fazem   fib ra s  de


                  forte que ela possa  ignorar o  Estado.                                                                   portante  que  d e fin ir  benefícios  fiscais                                                                    100km )  e  não  conseguirem os  evoluir


                        Nossas origens  lusas nos  levam  a  ver                                                            seria estabelecer uma política de financia­                                                                       junto,  se  não  começarmos,  agora,  a  pro­


                  um Governo-Olimpo onde as decisões são                                                                    mento,  dentro da  política  industrial.                                                                          duzir.


                  tomadas em  linguagem  que só os deuses                                                                   S. Wanjberg (Geicom)-  Fica nas mãos do                                                                           H. Mattos -  O Minicom tem política indus­


                  entendem,  cabendo à  pobre  sociedade                                                                    Conselho de Política Industrial — CPA, do                                                                         trial  própria  regulada  por  Portarias e  De­


                  acatar raios e trovões decorrentes, sem po­                                                               Ministério da  Fazenda,  o controle da  polí­                                                                     cretos.  O  setor  das  TCs  representa  mer­

                  der alterar muita coisa. Esta visão é oposta                                                              tica  industrial.  Quando as  alíquotas so­                                                                       cado  de  4  bilhões  de  dólares,  que  vem


                  a do pensamento anglo-saxão que vê a so­                                                                  bem,  em  geral,  isto  beneficia  os que  go­                                                                    sendo esfacelado  pela  perda  de  poder de


                  ciedade dando poderá umgrupode indiví                                                                     zam  de  isenções,  com o  a  S ufram a.                                                                          compra de seu principal comprador, o sis­


                  duos, exatamente para que eles explicitem                                                                 Quando elas descem,  tende a  haver  mais                                                                          tema Telebrás. Quando o País está sedento


                  os desejos desta  mesma  sociedade.  Há                                                                   igualdade e  é a  indústria  do  Sul  do  País                                                                     de telefones, o que deve ser feito?


                  150 anos (Alexis Clérel  de)  Tocqueville                                                                 que  passa,  então,  a  levar vantagem  rela­                                                                     J.  Antunes -   Este  problema é nacional  e


                  (aliás, um francês)  mostrou como funcio­                                                                 tiva.                                                                                                             não setorial.  Ele afeta  também  o setor de


                  nava a democracia  norte-americana  pela                                                                  J. Antunes -   Há que considerar na política                                                                      energia, saneamento e outros mais. Tem a


                  intermediação entre  sociedade e  o  poder                                                                aduaneira  as diferenças  regionais e  tam                                                                        haver com a capacidade do Estado em po­


                  (do Estado) algo que nós, aqui, não conse                                                                 bém  as  setoriais,  da  política  industrial.                                                                    der arrecadar e gastar.  De fato,  é absurdo


                 guimosaté hoje. Vejo pouca possibilidade                                                                   Hoje,  já se discute,  em conjunto,  no CPA,                                                                      aceitar que setores organizados sejam des­


                 do modelo norte-americano  funcionar  no                                                                   o potencial de compra do importador con                                                                            truídos,  paulatmamente.  Trata-se de uma


                  Brasil. 0 que se pode fazer,  com  a  maté                                                                tra os interesses do produtor local de equi­                                                                       discusão glpbal  que  envolve  o  problema

                 ria-prima do homo brasiliense,  será cons­                                                                 pamentos.  Quanto  à  visão  aduaneira  a                                                                          mais geral das dívidas interna e externa, do


                 truir um Estado patrimomalista, moderno,                                                                    longo prazo (5 a  10 anos) esta pode definir                                                                      papel econômico do Estado, de problemas


                 coisa que Portugal e Espanha, notórios pa                                                                  o que  é ou  não  prioritário,  como as TCs,                                                                       estruturais.  O  problem a  é  geral  e  não


                 trim oniahstas,  estão  p e rse g u in d o                                                                 através da  negociação.  No caso do Decre­                                                                         adianta  querer  ser setonalista.  Telebrás,


                 também.                                                                                                    to-Lei  que  rege  a  Política  Industrial  pro­                                                                   Eletrobrás,  Cia.  Siderúrgica  Nacional,  es­


                                                                                                                            curou-se coordenar os diversos instrumen­                                                                          tão em situações semelhantes.


                 L.C. Bravo (DisqueAmizade)  Como a en                                                                      tos  de  Governo da  SEI,  BNDES,  CACEX,                                                                          S. Wajnberg -   Faço algumas observações


                 trada de micros contrabandeados afeta  o                                                                   em relação ao setor de informática.  O diá­                                                                        sobre política industrial: falta uma Câmara


                 mercado produtor no País?                                                                                   logo entre segmentos do Governo é tão im­                                                                          Setorial Integrada para discutir um progra­


                 K. Weber (SEI) -   O contrabando deve ser                                                                   portante quanto o que ele  mantém com o                                                                            ma setorial  integrado;  não deve haver mu­


                tratrado como uma contravenção,  através                                                                    empresariado.  É através do diálogo que se                                                                          danças bruscas de alíquotas,  uma vez de­


                 da Justiça,  no que conta  com  o apoio  da                                                                 pode  romper o círculo vicioso em  que as                                                                          cidido  nacionalizar  um  produto;  deve-se



                 SEI.  No caso da entrada  ilegal  de  progra­                                                               partes se acusam mutuamente pelos altos                                                                            deixar,  paradoxalmente,  entrar tecnologia


                mas de software a lei prevê de 6 meses a 4                                                                  custos de seus insumos, quando compara­                                                                             para  gerá-la  internacionalmente,  a  exem­


                anos de detenção para o contraventor.                                                                       dos aos preços internacionais. Temos que,                                                                           plo, do que fizeram Japão e Coréia.


                H.  Mattos (Sesa)                              Quando  um  empre­                                           democraticamente,  assumir os  riscos  da                                                                                  É  preciso também,  resolver,  de  algum


                sário, como no caso da Autolatina,  recorre                                                                 eficiência  e  do  desenvolvimento  tecnoló­                                                                        modo, o problema da representatividade à


                ao judiciário contra uma decisão do Execu­                                                                  gico e deixar de  lado os  riscos da  política                                                                       mesa  das  negociações.  Só o setor de TCs


                tivo a reação deste, muitas vezes, é a de se                                                                do “ faz-de-conta” .                                                                                                 tem globalmente cerca de  1.700 fornece­


                sentir agredido.  Não deveria haver m aturi­                                                                 H. M attos-  A capacidade mundial de pro­                                                                           dores e o Estado, até pelo desgaste que so­


                dade suficiente para não surgir tal atitude?                                                                dução de bens de TCs é superior a suas ne­                                                                           fre, não tem mais condições de impor polí­


                J. Antunes (MF) -   Todo mundo deve ter o                                                                   cessidades.  Quando  iremos  partir  para                                                                            ticas e deve negociá-las.  A representativi-


                direito de ir à Justiça e o Governo deve dar                                                                concorrer internacionalmente?                                                                                        dade  pode  ser  resolvida  à  exem plo  da


                tranquilidade ao empresariado de que não                                                                     S.  Wajnberg -   Hoje,  é  praticamente  im­                                                                        França  que  consulta  grupos  que  falam


                irá discriminá-lo em suas encomendas fu ­                                                                    possível.  Mas,  somos  mercado  interes­                                                                            pelos diversos  segmentos da  sociedade,


                turas, ou de outro modo.  Devemos fortale­                                                                   sante  para o exterior.  No caso da  licitação                                                                      antes  de  levar  problemas ao  legislativo.


                cer, no País,  um Estado de  Direito.                                                                        internacional,  ganha  pela  Philips,  que  fi­                                                                      Sem organizar a representatividade social,


                A. Carreira (Telebrasil)-  Temos uma polí­                                                                   zemos  para  fibras  ópticas,  Japão  (Sumi-                                                                        a  negociação é totalmente  impossível.                                                                 ,



                tica industrial no MIC,  outra na SEI, outra                                                                 tom o),  norte-am ericanos,  e  holandeses                                                                           Participante (não deu para identificar)-  E


                naSuframa, não daria para unir tudo numa                                                                     (Philips), todos entraram com preços abai­                                                                           preciso,  inclusive,  cuidado com  a  proble­

               coisa só?                                                                                                     xo  de  10  centavos  de  dólar  por  metro,                                                                         mática dos pseudo-representantes que po­



               J. Antunes  Este é um problema sério que                                                                      quando sabemos,  por exemplo,  que a  Su-                                                                            dem  induzir  a  diagnósticos errados,  ao


               envolve aspectos jurídicos e até constitu­                                                                    mitomo vende a fibra,  localmente,  a  18 e                                                                          falar  um  pequeno  grupo,  pelos  demais.


               cionais.  No caso da  Suframa,  existe  toda                                                                  25  centavos  de  dólar.  Então,  só  podere­                                                                                                                                                                     (JCF)


                uma legislação já estabelecida. Um instru­                                                                   mos penetrar,  lá fora, quando tivermos su-
   34   35   36   37   38   39   40   41   42   43   44