Page 38 - Telebrasil - Julho/Agosto 1989
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X I X   P A I N E L


                                               PO LÍTICA TECNO LÓ GICA



                                               11a                 .89


                                              Olinda               Pernambuco









                                                                                                                                                                     D E B A T E S














                   Fernando Ferreira  (Telepar) —  Entendo                                                                              exercem sua tutela sobre a ignorância. Isto                                                                             nárias (como  na  União Soviética) e as da


                   que a opção do Sistema Telebrás, no dile­                                                                            interessa às elites e ao empresariado?                                                                                 classe  média  formada  por militares, pelo


                   ma  auto-suficiência  e  eficácia  tecnoló­                                                                                                                                                                                                 clero, por empresários, por profissionais li­


                   gica, foi não reinventar a rpda e tratar tec­                                                                        A. Temporal (ACRJ) —- Observei no decor­                                                                               berais.  No Brasil, as elites de classe média

                   nologia estrangeira como ihsumo disponí­                                                                             rer deste Painel que o setor de TCs tem um                                                                             são de primeira geração, os pais não eram


                   vel.  Sem entrar no âmbito de aspectos só-                                                                           jargão  próprio e  um  modo de  pensar pró­                                                                            necessariamente da  elite anterior, esão


                   cio-econômicos e  políticos,  e que,  por si                                                                         prio. Éaté, quem sabe, salutaralguém que                                                                               pluralistas — e não de partido único, como


                   só, justificariam debate em separado,  en­                                                                           apareça  com  idéias  ideossincrásicas.  Por                                                                           na U RSS — o que cria dificuldades para se


                   tendi do exposto neste Painel que ocorre­                                                                            mais  incrível  que  pareça,  a  educação  no                                                                          chegar a  uma  decisão democrática, que,


                   ram  atrasos e  que  certos  equipamentos                                                                            Brasil  não carece  de  diagnóstico.  Existe                                                                           no entanto,  se alcançada,  será mais es­


                   não estão disponíveis. Pergunto: os objeti­                                                                          um  Conselho  Permanente  de  Educação,                                                                                tável.

                   vos de custo e de qualidade também foram                                                                             mas  há  anos se  ouve o  mesmo discurso.                                                                                      A posição de querer manter o statusda


                   contemplados?                                                                                                        Ocorre  uma  alocação desproporcional  de                                                                             elite,  sem se preocupar com o capital hu­


                                                                                                                                        recursos,  fruto  de  lobbying para  o  seg­                                                                           mano do  País,  seria atitude “ burra”. Não


                   Lamóglia (Telebrás) — O que se quis mos­                                                                             mento das  universidades em  detrimento                                                                                há  investimento  mais rentável, em uma


                   trar é que se  houve atraso  na entrega  de                                                                          do ensino básico.  E este mesmo lobby que                                                                             economia,  do que  investir em pessoas. É


                   equipamentos, houve também a inexistên­                                                                              mantém o ensino gratuito para os que po­                                                                              só ver o caso do Japão. 0 grande objeto de


                  cia de outros; ocorreu defasagem tecnoló­                                                                             dem pagar, em detrimento dos pobres que,                                                                              debate da sociedade brasileira será como


                  gica, e certa acomodação na indústria, em                                                                             em realidade,  raramente alcançam a  Uni­                                                                             resolver o  problema  social.  Se há que se


                  termos de  custo e qualidade.  Vejamos o                                                                              versidade.                                                                                                            perseguir,  primeiro,  a  eficácia e assim

                  caso da fibra  óptica.  Até outubro de 88,                                                                                                                                                                                                  gerar para depois distribuir a riqueza ou se


                   quando fizemos  licitação  internacioml                                                                             A. Temporal  (ACRJ)                                          Em  termos de en­                                         a distribuição deve ser feita logo (à manei­


                   para sua aquisição, vínhamos adquirindo,                                                                            sino, o Japão quer,  por exemplo, se trans­                                                                            ra  sueca),  via  Imposto de  Renda. Cabe


                   há  cinco anos,  fibras junto a  ABC-XTAL.                                                                          formar numa  única  e grande  escola,  em                                                                              aqui mencionar o debate entre liberdade e


                   Esta produz fibra no Brasil e tem contrato                                                                          que cada  estabelecimento se  torne  tam­                                                                              igualdade,  que deve ser abordado em ter­


                   de garantia  da  Telebrás,  que  expira  em                                                                         bém um centro de ensino.  Esta é área,  no                                                                             mos  relativos e  não antagônicos.  Existe

                  agosto de 89.                                                                                                         Brasil,  na  qual  a  empresa  privada  muito                                                                         uma  interface  de  oportunidade entre os


                          A Telebrás remunerou a  ABC-XTAL de                                                                          poderá fazer. Sugiro aos empresários que,                                                                              dois conceitos.  Políticas adequadas de ali­


                  modo a  que esta viabilizasse,  no  País,  as                                                                        ao final de cada ano, façam um balanço in­                                                                             mentação,  educação,  saúde,  habitação,


                  tecnologias multi  e  monomodo.  Pagamos                                                                             telectual  de sua empresa,  destacando os                                                                              provida  pela  sociedade  tem que sera


                  suas despesas de operação e de  investi­                                                                             níveis de escolaridade, o investimento em                                                                              grande  meta de qualquer Governo que se


                  mento, o que nos fez chegar a 70 centavos                                                                            treinamento e  os  resultados alcançados.                                                                              preocupe com o capital humano brasileiro.


                  de dólar por metro de fibra.  A ABC-XTAL                                                                             Se houver progresso,  saberá o empresário


                 acreditou  que  o  CPqD  poderia  transferir                                                                          que sua organização se mantém competi­                                                                                Paiva Lopes (Splice) — Vimos que o início


                 todo o ciclo produtivo da fibra mas, na prá­                                                                          tiva no mercado. Voltando ao Japão, sabe-                                                                             do Século XXI marca mudanças importan­

                 tica, a empresa chegou a perder 80% das                                                                               se que, lá, um engenheiro, hoje, fica com­                                                                            tes  no  mundo.  Citou-se  que  no Japão


                 fibras produzidas. Se, ao invés disto, tivés­                                                                         pletamente  obsoleto  em  seus  conheci­                                                                              foram feitos planos que foram perseguidos


                 semos 3 ou 4 fabricantes brasileiros de fi­                                                                           mentos depois de oito anos,  caso  não for                                                                             pela sociedade.  Isto pressupõe a presença


                 bra,  que tivessem  ido procurar tecnologia                                                                           reciclado. A reciclagem de pessoal na em­                                                                             de  um  Estado  regulador.  0 que fazer,


                 lá  fora,  a  situação teria sido outra e tería­                                                                      presa tem de ser contínua.                                                                                             porém, no caso de se ter um Estado falido,


                mos um preço em torno de 20 a 25 centa­                                                                                                                                                                                                      com  pouco dinheiro e sem autoridade? A


                vos de dólar,  que é o do mercado interna­                                                                            O. Azevedo (Telemig) — Qual a vocação do                                                                               solução seria  (como na  Itália) deixar o Es­


                cional.  Então  pagamos,  ao  longo  de  5                                                                             País  para  que  possa  se desenvolver?  Que                                                                          tado de  lado e  ir trabalhar, enquanto que


                anos,  para  termos  nossa  capacitação em                                                                            papel cabe às elites?                                                                                                   Brasília ficaria se preocupando em fazer as


               determinada tecnologia, a de produção de                                                                                                                                                                                                       Leis?

               fibras ópticas.                                                                                                        A. Temporal (ACRJ) — 0 Brasil éo País em                                                                                                                                i



                                                                                                                                      que elite não gosta de ser chamada de eli­                                                                             A.  Temporal  (ACRJ) —  Eu veria até com

               Otávio Azevedo  ( Telemig) — 0  problema                                                                               te,  mas ela  é  uma  “ ferramenta"  socioló­                                                                           simpatia  a  idéia  anarquista, de deixar o


               educacional brasileiro é visto como priori­                                                                            gica, vital,  para um  País.  Schumpeter (vi­                                                                           Governo de  lado.  Só  que  não dá certo. 0


              tário, mas ao longo do tempo pouca altera­                                                                              de  Telebrasil J/F 89; pág.  33)  distingue                                                                             Brasil não é um papel em branco para reco­


              ção  se  vê  numa  pirâmide  em  que  elites                                                                            elites imobiliárias, hereditárias, revolucio­                                                                           meçarmos tudo do zero.  Temos uma he-
























                                                                                                                                                                                                                                                                                 9










































                A.  Medeiros  (Alcatel)                                                                 F.  Ferreira  (Telepar)                                                                 0.  Azevedo  (Telem ig)                                                                   A.  de  Oliveira  (PFL-RJ)
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