Page 26 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1988
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nais podem trazer ao país hospedeiro ca
pital, tecnologia, gerenciamento e até
abertura para o mercado mundial. É só
comparar a aceitação de carros e as bar
reiras impostas aos calçados brasileiros,
pelos Estados Unidos, levando em conta
a origem multinacional dos primeiros”,
disse Robock observando que "o perfil
das trocas internacionais está mudando
graças à atuação das filiais das multis
instaladas nos diversos países”.
— O comércio internacional está de
fato m udando, visto que não se res
tringe mais a bens industriais, mas co
bre as m ercadorias chamadas intangí
veis como serviços, direitos à proprie
dade intelectual e políticas de investi
mento — alertou Viviane Dias, do Ita-
m araty, ao falar do Gatt, lembrando que
até políticas internas dos países em de
senvolvim ento, ta is como subsídios
para pesquisa em tecnologia, incentivos
para áreas estratégicas, poderão vir a
ser consideradas como práticas comer
(E-D) Julian (FGV/R,J), Antonio dc Castro (UFRJ), Ana Maria Ozôrio (FEA>. Dias Leite tFEA), Roberto ciais injustificadas, (untair tradepracti-
Campos (Senador), Genival Santos (ex-FEA), Rómulo de Almeida (BNDESK
ces), pelos países desenvolvidos.
"Na base das pressões, reside o fato
ti va com bases nas forças livres do mer caracterizados pela crítica feita pela Ce- que capital e mão-de-obra não são mais
cado. Na FEA, com Celso Furtado, vie pal, ao modelo clássico vigente, de ins elementos dominantes da economia, de
ram as idéias cepalinas de centro- piração anglo-saxônica e marcado, na vendo ser considerados os fatores tec
periferia que, de acordo com Carlos Les- América Latina, por má distribuição da nológico e gerencial, incluindo melhor
sa, foram um vento renovador, mas so renda, estrangulamento na balança de capacitação para negociar com as multi
friam do conceito de que "Deus pro pagamentos e problemas monetários. nacionais”, disse Viviane Dias.
verá”, ao tratar de sua implementação. Posteriormente, o debate teórico pas Segundo explica Francisco Prieto, da
Os anos mais recentes foram relata saria a ser sobre crescimento versus in Cepal, deslocamento de pessoas (como
dos por Ricardo Tolipan mostrando que flação e sobre economia de mercado ao nas empreiteiras), de capitais (subsidiá
a FEA, nos meados dos anos 60, viveu invés de planejamento do Estado. rias e filiais), de bens (ressuprimento de
clima fortemente influenciado pela con P ara a econom ista, d esen v o lv i navios) ou de inform ações (tráfego
juntura política do País, com alunos di mento, justiça social, estabilidade e in transfronteiras), tudo isto são serviços.
vididos entre "os caminhos da razão serção correta do capital estrangeiro de O dilema dos países periféricos consiste,
pura e os da razão prática”. A década de vem ser os objetivos centrais da política então, em m anter o valor dos serviços
70 foi marcada internamente, de acordo econômica para o País e finalizou reco neles gerados, independentemente da
com Sulamis Dan, por uma renovação mendando aos estudantes presentes, origem de quem os presta ou utiliza,
no interesse da política industrial e da que se desbruçassem sobre estrutura sem contudo afastar serviços essenciais,
microeconomia, com integração da FEA econômica, moeda, modelo mula-preços provenientes do exterior, àerviços agre
com outras entidades que conduziam e balança de nagamentos, tem as que gam m ais valor do que bens, o que justi
pesquisas no campo económico, como a não podem faltar na bagagem de ne fica interesse dos países desenvolvidos
Coppe, Ipea, Finep, Inpi, Cebrape e nhum economista. em incluí-los na 8" Rodada de Conversa
FGV. ”0 ano de 77 veria a abertura de ções do G att, de Montevideo (Uruguai).
concursos resultando em novos profes Brasil e o Mundo "Não existirá mais país isolado, mais
sores e novas idéias”, registrou o então sim blocos econômicos”, afirmou Robert
aluno da FEA Winston Frisch, hoje pro Stephan Robock, da Columbia Uni- B laum , do Ipea, de Brasília. Acordos
fessor na PUC/RJ. vcrsity (EUA), disse que o perfil do co bi laterais entre Canadá e México com os
Ao resum ir a evolução do pensa mércio mundial está mudando e que o EUA fazem surgir um primeiro bloco. A
mento na FEA, Conceição Tavares — 31 enfoque ideológico, como praticado união dos países europeus, a se consoli
anos de casa — disse que os debates dos ainda pelo Brasil, já é algo ultrapas dar, em 92, constitui um segundo bloco.
anos 50, com Gudin ã frente, giraram sado. À propósito citou que C hina e Os países asiáticos, com o sol nipônico
sobre industrialização do País e forma União Soviética já abriram as portas ao ao centro do cenário, são o terceiro bloco.
ção do capital. Já os anos 60, foram investimento estrangeiro. "Multinacio Para Roberto Blaum chegou a hora
André Upiotz (França) Stephan Robock (EUA) Bnrros de ('astro (UFRJ) Viviane Dias CItamaraty)