Page 28 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1988
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Colaboração: Carlos Henrique Latini
O Brasil agora terá de enfrentar e petroquímica, papel e celulose, e bens em áreas como automação e robotiza-
o problema do salto tecnológico. de capital. ção, que possibilitará substancial au
Assim, como os investimentos reali mento da eficiência e de produtividade.
Historicamente, o País passou
zados à época do Plano de M etas tive A filosofia da mão-de-obra barata e
de exportador de produtos pri ram o seu período de maturação, os pra da abundância de recursos naturais já
mários para o de exportador de ticados nos anos 70 só m aturaram no não são m ais sinônimos de competiti
manufaturados. Com istoy che princípio dos anos 80, quando o País ini vidade. O caminho do avanço tecnológi
gou a hora do Brasil competir no ciou sua arrancada como exportador de co e da mão-de-obra qualificada é que
industrializados e, principalm ente, de nortearão o desenvolvimento. Apesar
mercado internacional valendo- manufaturados. do m om ento de crise que atravessa o
se dos recursos que a tecnologia Nos anos 60 o café, a cana-de-açúcar País, os investimentos em avanços tec
oferece. e o cacau ainda eram nossas estrelas in nológicos e na formação de mão-de-obra
ternacionais na pauta de exportações. qualificada não podem ser postergados.
Contudo, aquela etapa do processo de Segundo declarações prestadas pelo
“substituição de importações” que nos diretor de planejamento da FINEP (Fi
O Brasil exportou de janeiro a julho, levou a sa ir de econom ia p rim á ria nanciadora de Estudos e Projetos), Luiz
deste ano, US$ 18,5 bilhões e a previsão exportadora, nos coloca hoje como eco M artins de Melo, em matéria publicada
é de que até o final de 88 chegue a mais nomia industrial exportadora, um a vez pelo “Jo rn al do Brasil” de 03/09/88, o
de US$ 30 bilhões. Estima-se, ainda, que os produtos m anufaturados repre B rasil hoje está aplicando na área de
que o saldo da balança comercial atinja sentam 72% das exportações do País, se Ciência e Tecnologia, desde a capacita
a US$ 15 bilhões (um^no de importa gundos dados fornecidos pela Cacex. ção de pessoal até os investimentos em
ções), situando o Brasil, nesse particu Hoje, as estrelas do passado represen pesquisas e desenvolvimento de tecno
lar, no terceiro lugar no mundo, supera tam menos de 10% das exportações do logia, aproxim adam ente 2% do PIB
do apenas pela Alemanha Ocidental e País. O café continua sendo um produto (Produto Interno Bruto), ou seja, pouco
pelo Japão. importante e, aliado à soja e ao minério acim a de US$ 6 bilhões. O setor público
Essa conquista foi alcançada em vir de ferro, representa metade das expor participa com 90% e a iniciativa priva
tude da acentuada diversificação da tações de produtos básicos que, nos pri da com apenas 10%.
pauta de exportações, em que preponde meiros sete meses do ano, chegaram a Ainda na mesma matéria do “Jornal
ram os produtos m anufaturados que US$ 5 bilhões. do B ra sil”, sobre a chamada Opera
correspondem, hoje, a mais de 70%, em
valor, do total exportado. Essa transformação da estrutura de ção D esm onte, informou o diretor da
Esses resultaaos refletem profunda nossa economia, criou para o Brasil no FINEP que o Fundo Nacional de Desen
transformação da estrutura económica vas perspectivas no cenário internacio volvimento Científico e Tecnológico es
do Brasil, iniciada em fins dos anos 30. nal. Contudo, se a prim eira etapa do tá com um orçamento de US$ 80 mi
Baseada, até então, numa economia processo de industrialização, iniciada lhões, quando o ideal seria de US$ 200
primária exportadora, onde produtos em 30, teve o seu auge nos anos 50, de milhões.
como o café, cana-de-açúcar e cacau li pois a segunda, iniciada em 70, frutifi Enfim, mais um desafio para o Bra
deravam, de maneira quase exclusiva, cou nos anos 80, chegou a hora de en sil. Mais um a etapa impostergável a se
as exportações do País. o Brasil aceitou frentarmos o terceiro e decisivo desafio, cum prir com vistas ao desenvolvimento
o desafio da industrialização adotando que é o salto tecnológico. do País. Se tivemos capacidade suficien
políticas que visavam a viabilizar um Essa nova etapa significa a moderni te para, no passado, cumprir um proces
processo de desenvolvimento econômi zação de nosso parque industrial, prin so difícil, e em cujo sucesso muitos não
co perm anente e sustentado, basica cipalm ente através de investim entos acreditavam , por que não iniciar logo
mente, através de estímulos ao processo este novo e inadiável desafio: o do salto
de substituição de importações. tecnológico.
O primeiro passo foi na área de comér
cio exterior adotando-se uma política IA
cambial de restrições a determinadas
importações. O segundo foi a política de
investimentos, na área de infra-estru • • V-V
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tura, no sentido de propiciar a elimina V • «ssg ,N
ção dos pontos de estrangulamento da •J
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economia brasileira. Com os investi M
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mentos pioneiros de Volta Redonda, Pe- • •
trobrás e, posteriormente, a criação do »•
Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico (BNDE), destinado a finan ¦
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ciar investimentos de base, foram cria
das condições propícias para que o Pla
no de Metas, nos anos 50, realizasse o P R O D U T O S B Á S IC O S P R O D U T O S M A N U F A T U R A D O S E SEM IM ANUFATURADO S
A N O
grande salto, qualitativo e quantitati
valor part.% valor part.%
vo, que situou o Brasil no clube dos No
vos Países Industrializados (os NICs). 1965 1.301,0 81,54 283,7 17,78
Foi a fase de implantação e desenvolvi
mento da indústria de oens de consumo 1975 5.027,4 57,99 3.434,0 39.61
duráveis e da indústria de bens de capi
tal. 1985 8.537,9 33,30 16.822,3 65,61
Em meados dos anos 70 recrudesce o
1988 5.051,0 27,33 13.276,0 71.84
processo de “substituição de im porta
ções”, desta vez objetivando os grandes Fonte: Cacex; Valores em; US$ milhão; Período: janeiro a julho.
projetos na área de siderurgia, química